O mundo mais próximo da guerra
Por: André Lopes*
19 de novembro de 2025“A guerra é o pai de todas as coisas”, dizia Heráclito de Éfeso, o filósofo grego. Para o conflito e a guerra tudo se retorna, e tudo ressurge. Estamos distantes do tempo das guerras entre as Cidades-Estados gregas. A grande guerra do Peloponeso, para muitos, é quase uma lembrança mítica. Mas parece que a humanidade não evoluiu muito desde então. Na realidade, apenas o avanço tecnológico testemunha algum tipo de evolução. E se Hegel estava certo, onde a evolução humana se faz de uma forma circular, estamos neste momento na parte mais baixa da “circunferência” de nossa existência. Estamos a ponto de repetir mais uma catástrofe histórica que, talvez, nos leve há tempos inimagináveis: uma guerra mundial.
Iniciemos com a Europa, berço da civilização ocidental. Nunca esteve tão perdida. Seus líderes, tão demagogos quanto corruptos, apoiam as maiores atrocidades do planeta em nome da liberdade e dos “valores” europeus. Já dizia Fidel Castro quando vivo: no futuro, o fascismo renascerá na Europa e chamarão de “democracia”. De fato era visionário. Segundo os cálculos mais conservadores, a aventura da OTAN já levou mais de meio milhão de ucranianos e cerca de 100 mil russos à morte. Este é real o “jardim europeu” de Josep Borrell (ex-vice-presidente da Comissão Europeia quando comparou o continente europeu, na realidade uma península asiática, com o resto do mundo): uma selva repleta de bárbaros que, de vez em quando, resolvem fazer uma guerra para defender seus “valores”: a expansão napoleônica, a Primeira Guerra Mundial, a Segunda, etc. E agora, Sra. Ursula Von Der Leyen (presidente da Comissão Europeia) fala em rearmar a Europa. Para o bem da humanidade, o velho continente está imerso em uma crise econômica graças à incompetência e desonestidade de seus líderes, e qualquer projeto armamentista enfrentará o imponderável. Sem dúvida, esta segue sendo a “civilização” de Aristóteles e da Ilustração…
Passemos aos Estados Unidos da América: “terra da liberdade”. Governados por uma mente patológica que desconhece qualquer coisa sobre o mundo que não seja o caminho da porta da sua casa, a sua limousine. Chegou com promessas de paz que já rasgou em prol de agradar seus contribuintes e a elite mais corrupta do planeta. Diverte-se num jogo de War planejando ataques e desferindo ameaças países afora. Seja pelas tarifas ou pelas bombas, exige a submissão dos “selvagens” mundo inteiro perante o mundo civilizado. “Vocês viverão, mas tem que ser meus escravos”. Donald Trump, a expressão máxima de uma burguesia decadente que não consegue ver que seu tempo passou. Como uma criança estridente, Trump faz eco a esta elite desferindo ameaças a todos do quarteirão que somente almejam a liberdade. Exige do renovado “eixo do mal” compromissos que nenhuma nação soberana que se preocupa com seus nacionais pode acatar. E a história nos mostra o que aconteceu com os países que acataram as ordens imperiais: pior do que ser inimigo dos Estados Unidos, é ser seu amigo. E surge no horizonte um Estados Unidos cada vez mais isolado, mais prepotente, mais fascista. O saudoso intelectual Moniz Bandeira, em sua última obra “A Desordem Mundial”, já tinha advertido: o império vai cair…mas vai cair atirando. Então, preparemo-nos todos.
No Oriente Médio, as guerras imperiais seguem intermitentes e perigosas. A soberania de uma nação não é tolerada e os herdeiros de Ciro estão se preparando para um conflito de proporções planetárias. Uma vez cercado o Estreito de Ormuz, por onde trafegam cerca de 40% do petróleo mundial, voltaremos à Idade Média num piscar de olhos. Mas os psicopatas que nos empurram para a guerra não são seres racionais. E nos levam a uma selvageria que fará parecer as hordas de Assurbanipal um bando de velhinhas fazendo tricô.
O certo é que a tal “civilização ocidental” acabou! O mundo que nos deu Newton, Thomas Moore, Rousseau, Voltaire, Maquiavel, Michelangelo e Espinoza perdeu-se no caminho da História. Ou talvez nunca esteve lá e estes, como muitos outros, eram apenas “ervas daninhas” no “jardim civilizado europo-anglo-saxônico”. Rússia e China parecem ser as vozes no momento do “novo racionalismo”. Apenas nos sobrou, com meros expectadores no tabuleiro geopolítico, confiar na resiliência das estepes siberianas e na sabedoria confuciana para não terminarmos, como dizia Einsten, “atirando paus e pedras” uns nos outros depois do holocausto nuclear. Isto se sobrar alguém.
E assim segue a humanidade em direção ao abismo de Nietzsche, enquanto observo tudo das margens do distante Lato Titicaca junto ao povo andino: uma das poucas civilizações de verdade que sobraram num mundo de bárbaros que caminha a passos largos para o caos… e a guerra.