O que instituições de ensino e pesquisa do Amazonas vão levar para COP30


Por: Solange Elias

23 de novembro de 2025

Imagine toneladas de caroços de açaí transformados em carvão e, a partir desses carvõezinhos, conseguir promover a limpeza da água (dos rios) consumidas por comunidades que não são abastecidas por rede regular de água tratada – que são muitas na Amazônia. Este é um de muitos experimentos desenvolvidos na Universidade Federal do Amazonas (Ufam) que serão apresentados na 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (Conferência das Partes – COP30), que começa no próximo dia 10, em Belém, no Pará.

Parece simplório, mas não é. O projeto demonstra, entre outras coisas, a capacidade de reutilização de matéria-prima regional de fácil manuseio e baixo custo para resolver um problema central nas comunidades ribeirinhas: a potabilidade da água consumida pela população. Além disso, envolve diretamente a comunidade acadêmica na realidade das pessoas.

Projetos dessa natureza – e outros mais complexos – estão nas bagagens dos cientistas da Ufam, da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) que partem para Belém, com a missão de demonstrar a viabilidade de soluções sustentáveis para região.

Ou, nas palavras do reitor da UEA, André Zogahib: “Levamos a voz da Amazônia ao mundo, mostrando que o conhecimento produzido aqui é essencial para enfrentar os desafios climáticos e promover um futuro mais justo e equilibrado”.

O que cada instituição vai apresentar

As apresentações dos cientistas do Amazonas vão se espalhar nos diversos cenários da COP30. São palestrantes importantes, exposições, apresentações científicas e rodas de debate em que esses pesquisadores irão se envolver. Confira algumas (não todas) das atividades de cada instituição:

Inpa

O Inpa estará em mais de 25 atividades demonstrando projetos como:

  • Observatório da Torre Alta da Amazônia (ATTO, Amazon Tall Tower Observatory, sigla em inglês);
  • AmazonFace, o Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA/Inpa-MCTI)
  • Participação dos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs) em mesas de eventos e de exposições;
  • Ações da Rede Biomazônia, que é um consórcio dos institutos científicos da Pan-Amazônia, vice-presidida pelo diretor do Inpa, o professor Henrique Pereira;
  • Atividades na AgriZone, no Campus da Embrapa, do Pará, além de atividades na Universidade Federal do Pará (UFPA).
  • Participação também nas zonas azul, nos pavilhões brasileiros, nos pavilhões da França, do Reino Unido, que são países com os quais o Inpa tem importantes projetos e programas de cooperação científica.
A torre mais alta da Amazônia: Inpa monitora as florestas, o clima e as águas (Reprodução/MCTI)
Ufam
  • Mesa redonda sobre segurança alimentar e nutricional de comunidades tradicionais e indígenas, com o professor Lin Chao Min, da Faculdade de Ciências Agrárias;
  • Palestra Magna: Soluções da IA aos impactos da Mudança Climática nos Biomas Brasileiros, ministrada pela professora Tanara Lauschner, reitora da Federal;
  • Palestra: “Universidades Amazônicas e a Transição Climática Justa: Ciência, Saberes Tradicionais e Inovação para um Futuro Sustentável”, com a reitora Tanara Lauschner;
  • Palestra “Manaus, uma cidade fluvial”, com o professor Carlos Cereto, da Arquitetura.
  • Palestra Magna: “Contribuições da Amazônia ao combate às mudanças climáticas”, com a professora Marilene Corrêa
  • Painel: “A Bioeconomia como Caminho para a Transição Ecológica e o Desenvolvimento Sustentável da Amazônia”. com a reitora Tanara Lauschner;
  • Os pesquisadores Humberto Lima e Mayara Fraeda levam o “Museu Itinerante de Geociências”; da Química;
  • A professora Tereza Cristina apresenta o projeto “Medição da qualidade da água e purificação com carvão ativado a partir do caroço de açaí”
  • Os professores Rogério Marinho e Naziano Filizola organizam a exposição fotográfica “Rios On-line”.
UEA
  • Programa de Monitoramento da Água, Ar e Solos do Estado do Amazonas (ProQAS/AM)
    A iniciativa faz parte do Grupo de Pesquisa Química Aplicada à Tecnologia da Universidade do Estado do Amazonas (GP-QAT/UEA) da UEA, em parceria com o Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam). O programa visa acompanhar a qualidade das águas, do ar e dos solos em diversas regiões do estado. A infraestrutura do ProQAS/AM é substancial, contando com laboratórios especializados e um navio de pesquisa.
  • Modelo de justiça climática – é o único projeto social do Estado, que propõe um modelo inovador de gestão ambiental comunitária, com foco na aplicação dos créditos de carbono como instrumento de justiça climática e geração de renda verde. A iniciativa faz parte do trabalho de pesquisa da professora em Direito e Gestão Ambiental da UEA, Adriana Almeida Lima. A ação visa transformar comunidades ribeirinhas e tradicionais em protagonistas da conservação, substituindo a lógica assistencialista pela capacitação técnica e valorização territorial.
Caravana fluvial de cientistas

Antes mesmo de chegar a Belém, dezenas de pesquisadores já estão atuando na caravana fluvial Iaraçu, que partiu de Manaus no dia 29 de outubro. A caravana é uma iniciativa do Institut de Recherche pour le Développement (“Instituto de Pesquisa para o Desenvolvimento“, em português), da Embaixada da França no Brasil e também do Centro Franco-Brasileiro para a Biodiversidade Amazônica (CFBBA).

A travessia fluvial percorrerá nove municípios, passando por Itacoatiara, Parintins, Óbidos, Santarém, Monte Alegre, Almeirim, Gurupá, Breves e Belém, com o objetivo de compartilhar saberes e promover o diálogo entre cientistas e a população local. Ou seja, os cientistas vão conhecer na prática como vivem os ribeirinhos e as comunidades saberão que existem pesquisadores buscando soluções para seus problemas. Não é pouco.

Caravana Iaraçu: um barco cheio de cientistas e projetos de sustentabilidade (Divulgação)

Participantes

Estão na caravana fluvial:

  • Ministério da Educação (MEC)
  • Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI)
  • Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)
  • Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes)
  • Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa)
  • Universidade Federal do Amazonas (Ufam)
  • Universidade do Estado do Amazonas (UEA)
  • Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa)
  • Universidade do Estado de São Paulo (USP)
  • Centro de Cooperação Internacional em Pesquisa Agronômica para o Desenvolvimento (Cirad)
  • Centro Nacional de Pesquisa Científica (CRNS), entre outros.

(*)Solange Elias atua no jornalismo amazonense há 37 anos. Jornalista autodidata, não graduada, atuou em jornais impressos, assessorias de imprensa do Executivo e Legislativo, e campanhas políticas. Atualmente, é editora no Portal Único.

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