‘O que você quer ser quando crescer?’ Psicólogos orientam que pais devem evitar questionar profissão das crianças

'O que você quer ser quando crescer?' Psicólogos orientam que pais devem evitar questionar profissão das crianças (Reprodução Internet)

Priscilla Peixoto – Da Revista Cenarium

MANAUS – O que você vai ser quando crescer? Qual foi o adulto que nunca perguntou isso para uma criança ou a criança que nunca ouviu essa pergunta em algum momento na infância. Esse questionamento, aparentemente inocente, pode não ser tão bobo e simples quanto parece. Segundo o professor de psicologia da Universidade da Flórida e especializado no estudo da vocação dos seres humanos, Ryan Duffy, a indagação feita aos pequenos pode ter efeito contrário.

Em uma entrevista cedida à BBC Mundo, o professor avalia que a pergunta e a atitude é um tanto quanto limitante. “A resposta a essa pergunta para as crianças quase sempre se limita a algumas carreiras sobre as quais elas tenham algum conhecimento. “Acho que se as crianças aspiram a essas carreiras e depois a maioria acaba seguindo outra coisa, isso pode levar à insatisfação”, afirma Ryan.

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Diante da afirmação do estudioso, é quase impossível se deparar com outras perguntas. Não se pode mais perguntar sobre o assunto ou indagar sobre o futuro com as crianças? Como mudar este hábito? Qual a postura correta? Para a psicóloga, orientadora vocacional e coach, Laís Soares, o caminho é a troca de ideias com o filhos, sobrinhos ou qualquer criança próxima sem questionar de maneira não tão direta, mas buscando conhecer mais os pequenos.

“Fazendo essa retrospectiva e olhando com mais atenção para a geração de hoje, pode-se abrir um caminho para um diálogo mais empático com as crianças de hoje, que dificilmente não exercerão as mesmas profissões dos pais e avós daqui a 10-15 anos. A melhor alternativa são os pais e as pessoas próximas à criança conhecerem a própria história”, explica a profissional.

Quem quero ser X o que quero ser

Para o psicólogo Afonso Brasil, foram construídos alguns valores da sociedade que preconizam determinadas ansiedades no indivíduo. Ao fazer a pergunta “o que você quer ser quando crescer?”, induz a criança para uma resposta na qual ela ainda não tem maturidade suficiente para responder. Ele explica que o “central da vida” não é sobre tentar descobrir o que se quer ser e sim focar em quem queremos ser.

“Isso está no campo das hipóteses, no campo ’em construção’. A proposta é focar em quem queremos ser, falo da instituição família, escola, sociedade para que a gente se foque, sobretudo, em tentar fazer que essas crianças se construam, enquanto pessoas boas que entendem, que assimilam valores corretamente e foquem mais no quem quer ser ao invés do que quero ser”, explica o psicólogo.

Vocação e felicidade

Ainda na entrevista para BBC, Duffy afirma que a relação entre ter uma vocação e a felicidade é “basicamente nula”, vale ressaltar que o professor atua em diversas pesquisas neste sentido. Ele, inclusive, atenta para estudos que mostram a possibilidade da vocação mal colocada em prática pode ser uma porta para um menor índice de felicidade.

“Se você tem uma vocação, mas não é realmente capaz de realizá-la, isso pode levá-lo a se sentir mais insatisfeito, de forma que seria quase melhor se você não tivesse essa vocação. “Então, para algumas pessoas, pode resultar em menos felicidade”, pontua o Duffy.

Na ótica da coach Laís, embora a vocação ainda seja vista como um chamamento divino, ela pode ser trabalhada com o auxílio da própria história pessoal. É necessário olhar para as aptidões, talentos, interesses desde a infância. “Não dá mais para negar que vivemos numa era muito mais avançada e exigente, significando que o ‘encontro’ da vocação não acontece de forma estática, mas no caminhar”, relata a psicóloga.

Relação de espelho e ressignificação

Ele afirma que as relações das crianças com os adultos é uma relação de espelho, por isso ofertar valores que constroem um bom ser humano é o que realmente importa, além de repensar posturas e atitudes tidas como inocentes.

“Enquanto nos ocupamos dando profissões às crianças, almejando status e até valores econômicos, seria mais interessante repensar a essência dessas perguntas para que a gente ressignifique esses questionamentos e posturas. Se olharmos para nossa geração e a forma como nós condicionados a buscar um futuro de ponta e o quanto isso é importante e o quanto isso adoeceu nossa sociedade, muita depressão, crise de ansiedade. É mais importante a criança ser feliz e não questionar, pois pode ter o efeito oposto do que realmente queremos que ela tenha que é espaço de liberdade para que ela se desenvolva”, finaliza.

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