‘O risco de faltar energia afetaria o crescimento da economia’, afirma o ex-ministro da Agricultura

O objetivo é garantir água para hidrelétricas durante o período seco, no segundo semestre (Silvia Zamboni/Valor)

Com informações do O Globo

SÃO PAULO – A seca histórica que afeta as regiões de grandes hidrelétricas deve ampliar a inflação de alimentos e levar o governo a tomar decisões difíceis. Esta é a avaliação de Roberto Rodrigues, coordenador do Centro de Agronegócio na Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV/EESP), embaixador especial da FAO para as cooperativas e ex-ministro da Agricultura.

Para afastar o risco de racionamento, o governo criou uma “sala de situação”, com a participação de diversos ministérios e prepara um conjunto de medidas para evitar a falta de energia. O governo deve restringir o uso de água para irrigação na agricultura e o transporte hidroviário. O objetivo é garantir água para hidrelétricas durante o período seco, no segundo semestre.

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Diante da falta de chuvas, o governo já decidiu que poderão ser acionadas todas as usinas termelétricas disponíveis, já autorizou a importação de energia de Argentina e Uruguai e anunciou que fará um leilão extra de contratação de termelétricas.

As novas iniciativas, porém, também devem afetar o setor agrícola, que foi destaque na economia mesmo em período de crise. Mas, segundo Rodrigues, o risco de faltar energia afetaria o crescimento da economia.

Como o senhor vê o impacto da seca no País?

A falta de chuvas em algumas regiões têm efeitos realmente perversos. A produção do milho segunda safra terá uma quebra muito forte, bem como as culturas de cana-de-açúcar, laranja e café.

Poderá haver problemas entre setores com a escassez de água, como energia e agro?

É verdade que o nível de muitos reservatórios de hidrelétricas está muito baixo, e a estação seca ainda nem começou no Sudeste e no Centro-Oeste. A revisão para cima da expectativa de crescimento da economia — já tem analista dizendo que o PIB pode crescer 5% — vai demandar mais eletricidade para o bom andamento do setor industrial. O governo está certo ao montar seu centro de observação ou seja lá o nome que tiver, para tomar decisões difíceis se a seca se prolongar até setembro ou outubro, terá que fazer suas escolhas.

Qual o impacto possível da restrição da irrigação e da navegação nos rios para o agronegócio?

A falta de água para irrigação poderá promover escassez de alimentos, sobretudo os hortifrutigranjeiros, e isso teria efeito no aumento da inflação. Já a redução da navegação fluvial poderia ser substituída por outras formas de transporte, igualmente mais caras. Mas se faltar energia, o crescimento econômico seria duramente afetado. Em outras palavras, a decisão a ser tomada deverá considerar o menor efeito negativo para a sociedade toda.

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