Olavo de Carvalho: discurso de ‘guru’ bolsonarista ‘arrastou’ legião de fãs pelo Brasil

O escritor e influenciador Olavo de Carvalho. (Vivi Zanatta/ Agência O Globo)
Marcela Leiros – Da Revista Cenarium

MANAUS – Olavo de Carvalho morreu nesta terça-feira, 25, em Richmond, no Estado norte-americano da Virgínia. Autoproclamado filósofo, era conhecido como “guru” — apesar de não gostar do título — do presidente Jair Bolsonaro (PL) e admirado por milhares de seguidores. Causou polêmicas com a negação da pandemia da Covid-19, que chamava de “historinha de terror para acovardar a população”. A CENARIUM conversou com apoiadores e críticos do influenciador do conservadorismo no Brasil e analista ferrenho do comunismo.

Olavo de Carvalho nasceu em Campinas (SP), em 1947. Não teve carreira acadêmica formal, mas se dedicou aos estudos de forma autodidata e passou a ensinar filosofia. Ficou conhecido a partir da década de 1980, quando começou a escrever para jornais como Folha de S. Paulo e O Globo. Foi também astrólogo e ministrou, ainda, política e esoterismo. 

Um dos alunos do professor, o jornalista e ativista político Thiago Botelho integrou a turma do Curso Online de Filosofia (COF) de 2014 a 2019, ministrado por Olavo de Carvalho. Ele conta que “ficou sem chão” ao receber a notícia do falecimento. Para ele, Olavo era um “homem autêntico e, talvez, por isso, chamado de polêmico”.

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“Na minha avaliação, o professor Olavo foi o grande responsável intelectual pelo surgimento do que se chama de ‘nova direita’ no Brasil”, diz Botelho. “Foi ele que observou há muitos anos, por exemplo, que havia e ainda há uma discrepância entre a percepção de mundo (princípios e costumes) da classe falante (leia-se intelectualidade acadêmica e mídia) com a da grande massa de brasileiros. Isso fez milhares de pessoas despertarem para a busca do conhecimento, já que perceberam que muitas vezes eram influenciados e tão somente massa de manobra”.

Leia também: Marqueteiro da eleição de Bolsonaro em 2018, Olavo de Carvalho morre nesta terça-feira

O ativista político acrescenta ainda que, quem o conhecia apenas pelos comentários nas redes sociais, não o conhecia de fato. Com mais de dois milhões de seguidores nas redes sociais (Instagram, Facebook e Twitter), Olavo era admirado e tinha expressiva influência na extrema-direita brasileira, apesar de, recentemente, ter disparado críticas à mesma.

“O homem amável e sempre solícito das aulas do COF e o escritor e filósofo extraordinário foram o que fizeram dele alguém tão amado. A reverência de alunos da envergadura de Rodrigo Gurgel, Flávio Gordon, Flávio Morgenstern, Italo Marsili, Bruno Garschagen, Pedro Augusto e outros tantos é a prova do legado intelectual que o professor deixa a este País. Ele se foi, mas suas obras, seus ensinamentos, sua inteligência incomum ficam e tenho certeza que ainda influenciarão muitas pessoas”, acrescenta Thiago Botelho.

Publicação de Olavo de Carvalho no Twitter (Reprodução/ Twitter)

“Ingredientes” para a direita

Na análise do cientista político e advogado Carlos Santiago, Olavo de Carvalho foi o “grande construtor da narrativa” usada por Jair Bolsonaro para alcançar a Presidência da República. “Olavo de Carvalho deu a narrativa com os ingredientes e os inimigos que o presidente deveria atacar para chegar à Presidência da República, por isso que ele foi e é admirado pelo presidente Jair Bolsonaro e seus familiares”, explica o cientista político.

Carlos Santiago lembra, ainda, que a linguagem usada pelo filósofo para defender seus conceitos, ideias, atacar adversários e também para negar feitos da Ciência era direta. “Ele era polêmico, porque tinha uma posição divergente da maioria da intelectualidade brasileira. Era também um crítico da ciência, um terraplanista e antiglobalização, e divergia muito das correntes filosóficas cultuadas pela maioria da intelectualidade brasileira”, acrescentou Santiago.

Negação da Covid-19

A causa da morte de Olavo de Carvalho não foi confirmada, mas, alguns dias antes do falecimento, ele foi diagnosticado com Covid-19, segundo mensagem veiculada em seu canal no Telegram, no dia 15 de janeiro. Por ter contraído o vírus, foi necessário cancelar as aulas do curso de filosofia que ministrava online. Não há informações oficiais sobre Olavo ter ou não tomado doses da vacina contra o vírus.

Nas redes sociais, o filósofo colecionava postagens questionando a letalidade do coronavírus, que chamava de “mocoronga vírus”. Em diversas publicações, criticava medidas de isolamento social, o uso de máscaras e duvidava dos riscos do coronavírus.

Publicação de Olavo de Carvalho no Twitter (Reprodução/ Twitter)

Relação com a família Bolsonaro

Recentemente, Olavo de Carvalho também disparou duras críticas ao presidente Bolsonaro. Em uma live no último dia 20 de dezembro, da qual participaram, em silêncio, os ex-ministros Ricardo Salles (Meio Ambiente), Abraham Weintraub (Educação) e Ernesto Araújo (Relações Exteriores), ele disse que o “Brasil vai se dar muito mal”. E acrescentou: “Só se Bolsonaro acordar, e eu não sei como fazê-lo acordar”.

Em maio de 2020, por exemplo, em entrevista à BBC Brasil, Olavo disse que era possível chamar Bolsonaro de “burro”. Disse, porém, que ele não seria ladrão. Em junho, acrescentou o adjetivo “fraco”. Também escreveu em sua conta no Twitter: “Se esse pessoal não consegue derrubar o governo, eu derrubo”.

Apesar das críticas, políticos e admiradores do escritor lamentaram a morte. Além do presidente Bolsonaro, seus filhos Carlos e Eduardo publicaram condolências à família. O deputado Eduardo, ex-aluno de Olavo, afirmou que “seus livros, vídeos e ensinamentos permanecerão por muito tempo”.

Publicação de Jair Bolsonaro no Twitter (Reprodução/ Twitter)
Publicação de Eduardo Bolsonaro no Twitter (Reprodução/ Twitter)

Carlos Bolsonaro citou o “legado” deixado pelo “guru”.

Publicação de Carlos Bolsonaro no Twitter (Reprodução/ Twitter)
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