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Olimpíadas da diversidade contra preconceito e intolerância
Naomi Osaka, tenista japonesa que acendeu a pira olímpica na abertura dos jogos em Tóquio (Reprodução/ Reuters-Mike Blake)
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24 de julho de 2021
Priscilla Peixoto – Da Cenarium
MANAUS – As Olimpíadas de Tóquio “2020” mal começaram e já ostentam um fato marcante e histórico. De acordo com um levantamento realizado pelo site ‘Outsports’, a 32ª edição dos jogos oficiais possui a inédita marca de 163 atletas LGBTQIA+. O número de Tóquio 2020 é praticamente o triplo das participações da edição do Rio de Janeiro em 2016, quando apenas 56 atletas da comunidade LGTBQIA+ participaram das disputas.
Além da maior quantidade de pessoas LGBTs no evento, a cerimônia de abertura teve uma homenagem às vítimas da Covid-19 e do terremoto de 2011. Abordando a inclusão e a representatividade, um dos momentos emblemáticos foi a participação de Naomi Osaka, de 23 anos. Uma mulher e atleta negra, ativista, filha de imigrantes que conduziu a chama oficializando o começo das disputas olímpicas.
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Para a amazonense e treinadora de ginástica rítmica, Fabricia Viana, o aumento da presença de atletas LGBTQIA+ é a prova de que o esporte cumpre um dos principais papéis: a sociabilização e inclusão. “Ali, todos estão focados em um único propósito, a vitória. Independentemente da raça, cultura, todos estão competindo uma olimpíada onde a gente só precisa definir quem é o mais rápido, o mais alto e o mais forte”, pontua a treinadora.
Ela lamenta os posicionamentos contra a participação de atletas nas competições motivadas por gêneros, cor, ou religião. “Acho triste e lamentável que ainda ocorram manifestações contrárias à participação de atletas LGBTQIA+, mas seguimos torcendo muito e, consequentemente, dando voz e espaço para competidores brilhantes e que têm todo direito de participar dessa grande festa esportiva”, ressalta Fabrícia.
Comprometimento e representatividade
A presença de Naomi em um momento especial da celebração esportiva mundialmente conhecida dá força ao sentido da palavra representatividade. A atleta, filha de mãe japonesa e pai haitiano, conhecida por ser comprometida nas causas sociais e na luta contra o racismo, é uma das figuras mais populares das Olimpíadas.
Ela é a primeira japonesa a conquistar um Grand Slam de tênis e usa toda a influência que possui para abordar não só temas que tangem causas raciais como a saúde mental. Naomi, inclusive, passou por problemas de depressão e já foi duramente criticada por escolher se resguardar e não participar de entrevistas coletivas. Na ocasião, a decisão da atleta foi chamada de “estrelismo”.
“Nunca banalizaria a saúde mental ou usaria o termo levianamente. A verdade é que tenho sofrido longas crises de depressão desde o US Open em 2018 e tenho tido muita dificuldade em lidar com isso. Embora a imprensa do tênis sempre tenha sido gentil comigo (…) tenho grandes ondas de ansiedade antes de falar para a mídia internacional”, disse Naomi em uma carta publicada em 31 de maio deste ano.
LGTBQIA+
Entre tantas participações que representam seus referidos países e as modalidades disputadas, a comunidade LGBTQIA+, em especial a brasileira, tem representatividade nos campos e nas quadras. A jogadora da seleção feminina de futebol Martha é um exemplo. Logo na estreia das partidas, a jogadora comemorou um dos gols que fez sobre a seleção da China fazendo um ‘T’ com os braços, em homenagem à companheira chamada Toni Pressley.
O atleta Douglas Souza é outra figura do esporte que caiu nas graças do povo e tem sido um fenômeno na internet. O jogador de vôlei da seleção masculina tem mais de 1 milhão de seguidores no Instagram e compartilha os bastidores diariamente nas redes. O jogador também usa a notoriedade para levantar bandeiras, principalmente da causa LGBTQIA+.
Laroyê, Paulinho!
Comemorando um com gol com um gesto fazendo alusão a uma flecha sendo atirada, o atacante Paulinho que foi o responsável pelo quarto gol da seleção brasileira na vitória por 4 a 2 sobre a Alemanha, na estreia da seleção brasileira masculina de futebol nos Jogos Olímpicos de Tóquio, também foi o assunto da vez nas mídias.
O jogador, com um gesto simples para ele, mas relevante para aqueles que celebram e respeitam a diversidade religiosa, trouxe para o campo de futebol a mensagem de que o importante é celebrar a fé, não importando qual ela seja, sem voz e vez para intolerância religiosa.
O símbolo da flecha não foi à toa. O jogador que se intitula filho de Oxossi (orixá que protege o Candomblé) e, o arco e flecha, ou ofá, é o que representa esse orixá tão respeitado por Paulinho. Em entrevista para o “The Players Tribune” (plataforma desenvolvida para atletas se conectarem com fãs), o jogador declarou que a família tem forte ligação tanto com o candomblé quanto umbanda.
“Minha vó, minha mãe, minha tia. É algo que passa de geração para geração e tenho muito orgulho da minha religião. Prefiro chamar de filosofia de vida, uma coisa pessoal que toca meu coração. Cultuar essa filosofia me traz muita energia boa, muito axé. Exu é o caminho. Procuro saudá-lo antes de cada obrigação, de cada partida, Laroyé!”, disse o atacante ao Players Tribune.
“Um dia será tão natural que não chamará mais atenção”
No olhar do educador físico e técnico de voleibol, Alexandre Chaves, se a sociedade fosse de fato mais justa e igualitária, essas pontos não chamariam tanta atenção como têm chamado nesta edição olímpica. Ele ressalta que não há mais como ignorar que o mundo é plural e as diferenças fazem parte da convivência como um todo.
“O mundo é diverso, não há mais como ignorar a presença não só de atletas, mas de artistas ou qualquer manifestação socioesportiva. Há de chegar um dia em que a sexualidade não vai ser ressaltada, isso é de fórum íntimo. O que deve ser levado em conta é o rendimento deles enquanto atleta, são profissionais, vão fazer o melhor pelos seus países e terão oportunidade de registrar que o mundo é diverso e isso tem que ser encarado com naturalidade, não causando estranheza a mais ninguém”, finaliza o educador.
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