Olimpíadas: trabalhadores dos jogos são os mais contaminados por Covid-19

Visão geral dos prédios construídos para receberem os atletas olímpicos (BEHROUZ MEHRI/AFP)
Com informações da Folha de S. Paulo

TÓQUIO – Residentes do Japão envolvidos nas Olímpiadas são os mais contaminados por Covid-19 até agora no evento, segundo as últimas estatísticas do comitê organizador local. De acordo com boletim médico deste domingo, 25, há 132 casos de coronavírus relacionados aos Jogos. Desse total, 73 são de moradores do país-sede, e 64, de estrangeiros.

Fechados numa quase-bolha em hotéis e na Vila Olímpica, os atletas brasileiros estão sendo orientados a ficar atentos a esses números e redobrar a atenção para evitar interações, além de seguir os protocolos básicos já adotados desde o início.

Nesse caso, os contatos se tornaram um problema ainda maior porque moradores que estão trabalhando na organização voltam todos os dias para as suas casas e utilizam transporte público, o que os deixa mais expostos do que os esportistas.

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Além disso, as recomendações sanitárias adotadas pela organização são desiguais. Nem todos os envolvidos estão testando todos os dias, como acontece com os competidores.

Com zero registros até o momento, a delegação em Tóquio agora se preocupa com esse risco de contágio. A primeira inquietação veio com aeroportos e aviões. Os mais afetados pelo vírus são até agora trabalhadores terceirizados (66).

“O distanciamento é para todo mundo. Com isso, você também já faz uma proteção [contra] essas pessoas que estão indo dormir em casa e também pegando transporte público”, afirmou Beatriz Perondi, infectologista que coordena a área de situações extremas do Hospital das Clínicas de São Paulo e faz parte da comissão médica do Comitê Olímpico do Brasil (COB).

“Temos falado nas reuniões de boas vindas sobre os protocolos e estamos dizendo isso para eles, que a ‘workforce’ está com mais casos do que quem está aqui na Vila fechado, e que eles precisam entender isso para tomar cuidados”, completou.

A equipe médica do comitê afirma que os protocolos estão sendo rígidos desde a preparação e que o principal objetivo é manter o que vem sendo feito.

“Independentemente de ser voluntário, a orientação é para não ter interação nenhuma com quem não é da nossa delegação. Não só com pessoas da força de trabalho, mas também de outras delegações, por exemplo”, disse Ana Côrte, coordenadora médica do COB.

Há discrepâncias entre as regras de testagem adotadas para atletas e para os que estão credenciados a trabalhar nos Jogos.

Enquanto competidores e membros das delegações são examinados diariamente, funcionários a serviço do comitê organizador de Tóquio são testados apenas a cada sete dias. Esse prazo cai para quatro dias caso o profissional tenha algum tipo de contato com os esportistas.

O calendário atual causou receio entre os funcionários e fez com que voluntários desistissem de atuar no evento. Um dos profissionais, contratado há dois anos, disse à Folha, sob condição de anonimato, que, apesar do medo da exposição, não há abertura para dialogar com a direção do comitê.

Em tempos de crise financeira, os salários mensais para esses trabalhadores são atrativos e partem de US$ 2.500 (R$ 13 mil, na cotação do dia). A organização também bancou as passagens e os gastos com a mudança para os profissionais que vieram de outros países.

Quando as Olimpíadas começaram a ser preparadas, os japoneses não tinham noção do rombo que seria causado pelos gastos com os protocolos de testagem e prevenção contra a Covid-19.

Para quem atua indiretamente no megaevento, como taxistas, não há nenhuma exigência de testagem.

Especialistas consultados pela Folha afirmam que as regras diferenciadas favorecem a contaminação. “Todos deveriam ser testados diariamente, atletas e profissionais do comitê. O risco de transmissão entre eles é muito grande”, diz a infectologista Raquel Stucchi, professora da Unicamp.

Segundo Estêvão Urbano, da Sociedade Brasileira de Infectologia, o intervalo entre os exames — seja de quatro ou sete dias — dá brechas para a propagação do vírus, inclusive na Vila Olímpica, onde todos são examinados diariamente.

“Não é ideal essa separação entre não atletas e atletas, já que todos convivem diariamente, ocupam espaços físicos próximos, trocam informações. Quem não é atleta pode passar dois, três dias transmitindo o coronavírus”, afirma Urbano. “Conhecendo a forma de transmissão em geral, é preciso que a testagem seja feita com isonomia no mesmo intervalo, entre todas as pessoas que convivem nos mesmos espaços.”

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