OMS aprova primeira vacina contra malária, mas Brasil poderá ficar de fora da imunização

Picada da fêmea infectada do mosquito gênero Anopheles é responsável pela transmissão da malária (Reprodução/Portal Biologia)
Marcos Lima – Da Cenarium

MANAUS – A Organização Mundial da Saúde (OMS) passou a recomendar o uso generalizado de uma nova vacina contra a malária entre crianças na África, região ao Sul do Deserto do Saara, onde há maior incidência da doença, e também em outras regiões com transmissão de moderada a alta. A vacina provavelmente não poderá ser usada no Brasil.

Durante coletiva de imprensa realizada nesta quarta-feira, 6, em Genebra, na Suíça, a OMS recomendou uso do imunizante RTS,S/AS01 nas regiões do planeta com alta taxa de transmissão do Plasmodium falciparum, um dos protozoários por trás da enfermidade. A recomendação é baseada em resultados de um programa piloto em andamento em Gana, Quênia e Malawi, que alcançou mais de 800 mil crianças desde 2019.

“Este é um momento histórico. A tão esperada vacina contra a malária para crianças é um avanço para a ciência, a saúde infantil e o controle da malária. Usar esta vacina, além das ferramentas existentes para prevenir a malária, pode salvar dezenas de milhares de jovens vidas a cada ano”, disse o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus.

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“Há muito esperamos por uma vacina eficaz contra a malária e agora, pela primeira vez, temos uma vacina recomendada para uso generalizado. A recomendação de hoje oferece um vislumbre de esperança para o continente que carrega a carga mais pesada da doença e esperamos que muito mais crianças africanas sejam protegidas da malária e se tornem adultos saudáveis.”, disse a diretora regional da OMS para a África, Matshidiso Moeti.

Mortes

A malária continua sendo a principal causa de doença infantil e morte na África Subsaariana. Mais de 260 mil crianças africanas com menos de cinco anos morrem anualmente em decorrência da doença causada pelo protozoário p. falciparum (um tipo diferente da malária que é endêmica em algumas regiões do Brasil e da América do Sul).

Porém, a vacina provavelmente não será utilizada no Brasil, que registrou cerca de 130 mil casos e menos de 30 óbitos pela enfermidade em 2020. O agente causador da maioria das infecções por aqui é o plasmodium vivax, protozoário que representa 89% dos casos notificados no País, que se concentram especialmente na região amazônica.

O protozoário plasmodium vivax representa 89% dos casos notificados no País, que se concentram especialmente na região amazônica (Reprodução/G

No Amazonas

O Amazonas apresentou redução de 28% nos casos de malária no primeiro semestre deste ano, em comparação ao mesmo período do ano passado. Apesar da redução, a Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas – Dra. Rosemary Costa Pinto (FVS-RCP) alerta que o Estado está em sazonalidade da doença, que ocorre a partir da vazante dos rios, trazendo estabilização dos criadouros do mosquito anopheles, transmissor da malária. A expectativa é que sejam registrados 52,2 mil casos de malária até dezembro deste ano, no Amazonas.

“Esse aumento é considerável preocupante, porque é um tipo de malária que pode agravar muito mais rápido, levando o paciente rapidamente a óbito. Por isso, os gestores devem intensificar as ações de controle à malária, principalmente, voltados para o parasita Plasmodium falciparum”, alertou o chefe do Departamento de Vigilância Ambiental da FVS-AM, Elder Figueira.

O Amazonas começou a implementar, no fim do mês de setembro, um medicamento que reduz o tempo de tratamento da malária vivax para três dias, que atualmente dura de sete a 14 dias. Seis unidades da rede pública estadual de saúde na capital passaram a receitar o medicamento, juntamente com o teste G6PD, para diagnóstico deste tipo da doença. Manaus e Porto Velho, em Rondônia, foram as primeiras cidades do mundo a utilizarem esse tratamento.

“Os municípios de Manaus e Porto Velho são os que têm uma estrutura assistencial que permitem a gente iniciar esse projeto para que a gente avalie como vai funcionar na vida real e com isso nós teremos subsídios para pleitear a incorporação definitiva e nos demais locais do Brasil”, disse Francisco Edilson, coordenador substituto da Coordenação-Geral de Vigilância de Zoonoses e Doenças de Transmissão Vetorial do Ministério da Saúde.

O medicamento reduz de 14 para três dias o tempo de tratamento (Rodrigo Santos/SES-AM)

A medicação pode ser administrada para maiores de 16 anos que, obrigatoriamente, realizaram o teste de G6PD, uma enzima protetora presente no organismo humano. Pessoas com deficiência na produção dessa enzima podem apresentar reação (hemólise) ao uso de antimaláricos. A testagem irá proporcionar maior segurança e tratamento adequado aos pacientes.

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