ONU alerta para falha global em cumprimento de metas climáticas antes da COP30
Por: Fred Santana
29 de outubro de 2025
MANAUS (AM) – A apenas duas semanas da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que será realizada em Belém (PA), o novo Relatório de Síntese das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) das Nações Unidas, divulgado nessa terça-feira, 28, acendeu um alerta global: o mundo ainda está longe de atingir as reduções necessárias de emissões para limitar o aquecimento global a 1,5°C, meta central do Acordo de Paris.
O documento, que analisa as novas metas climáticas apresentadas por 64 países até setembro de 2025, mostra que, mesmo com avanços, as contribuições continuam abaixo do necessário.
Segundo o relatório da ONU, se todas as novas NDCs forem cumpridas, as emissões globais cairiam cerca de 17% até 2035 em relação a 2019. O número, no entanto, é considerado inferior à redução de 60% até 2035 recomendada pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).
“Se as novas NDCs apresentadas forem efetivamente cumpridas, este relatório da ONU indica que as emissões globais irão reduzir em 17% até 2035 em relação a 2019, uma redução muito baixa comparada à necessária indicada pelo IPCC, de 60% até 2035”, explica Anna Cárcamo, especialista em política climática do Greenpeace Brasil.
Para ela, os compromissos atuais ainda não garantem um futuro seguro. “A COP30 deve responder de forma efetiva para ampliar a ambição e a justiça climática, acelerando o fim dos combustíveis fósseis e do desmatamento, e ampliando a adaptação e o apoio financeiro aos países mais vulnerabilizados”, complementa.
Cárcamo também alerta para o recorte limitado da análise da ONU. “O relatório avaliou apenas as 64 NDCs apresentadas até o final de setembro, menos da metade dos países signatários do Acordo de Paris. Países grandes emissores, como a União Europeia e a China, ainda não apresentaram oficialmente suas NDCs”, observa.
“Às vésperas da COP30, esperamos que todos os países apresentem suas novas NDCs antes de Belém, para que possamos ter uma real avaliação do tamanho da ambição climática – ou da falta dela – para contermos a emergência climática”, reforça a especialista.

ONU reconhece avanço, mas reforça necessidade de aceleração
Durante o lançamento do relatório, o secretário-executivo da ONU para Mudança Climática, Simon Stiell, afirmou que os países estão finalmente “dobrando a curva de emissões para baixo”, mas “ainda não rápido o suficiente”.
Segundo ele, o relatório mostra uma queda global estimada de 10% nas emissões até 2035, com base nas metas apresentadas até o momento. “Para manter o aumento da temperatura do planeta limitado a 1,5°C, seria necessária uma redução de 60% nas emissões até 2035”, afirmou Stiell.
O secretário destacou ainda que, apesar das lacunas, há sinais positivos. “É animador ver que 89% dos países definiram metas que abrangem toda a economia e que 73% dos novos planos incluem componentes de adaptação às mudanças climáticas”, disse.

Stiell ressaltou que a ação climática precisa ser vista como motor de crescimento econômico e geração de empregos. “Os países precisam tomar medidas climáticas mais fortes e acelerar o ritmo na COP30, em Belém. A ação climática deve ser encarada como o motor do crescimento econômico e dos empregos do século 21”, defendeu.
“Os líderes estão falhando coletivamente”, afirma Oxfam Brasil
A Oxfam Brasil também reagiu ao relatório com duras críticas à falta de ambição das nações mais ricas. “Dez anos após o Acordo de Paris, o relatório de síntese das NDCs da ONU revela uma verdade devastadora: os líderes globais estão falhando coletivamente em enfrentar a crise climática”, declarou Viviana Santiago, diretora-executiva da organização.
Ela destacou que “os países mais ricos e que mais poluem se recusaram a aumentar sua ambição, empurrando o mundo para um aquecimento catastrófico. Cada fração de grau significa mais vidas perdidas – especialmente nas regiões mais pobres e vulneráveis do mundo”.
Viviana afirmou que o Brasil deve usar o papel de anfitrião da COP30 para pressionar as grandes potências. “O Brasil precisa fazer da COP30 um ponto de virada para exigir que os países mais ricos apresentem NDCs ousadas e ambiciosas, baseadas em sua parcela justa de responsabilidade”, pontuou.
Ela também cobrou coerência da política ambiental brasileira. “O Brasil está se posicionando como líder climático, mas continua a aprovar novas explorações de petróleo no coração da Amazônia – uma contradição que mina sua credibilidade no palco global”, afirmou.
“O País precisa agir de acordo com seu discurso. Isso significa defender um modelo de desenvolvimento baseado em uma economia de baixo carbono, energias renováveis e a proteção de ecossistemas vitais”, completou a diretora-executiva.
Para Viviana, a sociedade civil terá papel fundamental no acompanhamento dos compromissos. “A Oxfam Brasil, junto com uma sociedade civil vigilante, mantém seu compromisso de apoiar todas as ações do governo que estejam genuinamente alinhadas com a necessidade urgente de justiça climática e um futuro sustentável para todos”, concluiu.
