ONU: Biden diz que não quer ‘nova guerra fria’, sem mencionar a China

Presidente dos EUA, Joe Biden, faz discurso na Assembleia Geral da ONU (KEVIN LAMARQUE / REUTERS)
Com informações do Infoglobo

SÃO PAULO – O presidente americano, Joe Biden, usou seu primeiro discurso na Assembleia Geral da ONU para declarar que não quer “uma nova guerra fria”, referência indireta à China, País que se encontra no centro da política externa em seu governo, e declarou aberta uma nova “era de diplomacia”, menos de um mês depois do fim da guerra no Afeganistão.

Apesar de não mencionar explicitamente os chineses, em diferentes pontos de sua fala o presidente se referiu indiretamente à nação apontada por ele como “competidora extrema” dos EUA. Na defesa dos direitos humanos, por exemplo, se referiu à província chinesa de Xinjiang, onde, segundo denúncias, o governo promove uma ofensiva contra minorias muçulmanos, apresentada pelo governo de Pequim como parte do seu combate ao terrorismo.

Ao defender a política de retomada de laços com aliados tradicionais, depois de anos de isolacionismo de Donald Trump, afirmou que eles trabalharão em conjunto para a defesa do que chamou de “valores compartilhados”. Contudo, destacou que está aberto ao diálogo mesmo fora de seu círculo de nações amigas.

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“Os Estados Unidos estão dispostos a trabalhar com qualquer nação que esteja comprometida e busque uma solução pacífica para compartilhar os desafios, apesar de termos intensos desacordos em outras área”, destacou Joe Biden, afirmando ainda que não busca uma “nova guerra fria”, com um mundo dividido em dois blocos.

Diante da recente retirada do Afeganistão, pondo fim a quase duas décadas da mais longa guerra americana, e das recentes homenagens às vítimas dos ataques de 11 de setembro de 2001, Biden afirmou que os EUA seguem comprometidos com o combate ao terrorismo e a potenciais ameaças, utilizando as armas disponíveis e com o apoio dos aliados, mas sem novos conflitos armados de grande porte.

“Encerramos 20 anos de guerra no Afeganistão e, agora que encerramos essa era de guerra implacável, estamos abrindo uma nova era de diplomacia implacável”, destacou o presidente. “[Os militares americanos] não podem ser usados como resposta para cada problema que vemos ao redor do mundo.”

Apesar da mudança de foco da política americana, teoricamente deixando o Oriente Médio em segundo plano, o presidente americano reforçou seu compromisso com a segurança dos seus aliados na região. Ele mencionou o apoio irrestrito a Israel, destacando que a solução de dois Estados, com a criação de um território controlado pelos palestinos, é a ideal, embora pareça distante hoje.

Ao mesmo tempo, declarou que os EUA seguem dispostos a evitar que o Irã desenvolva uma arma nuclear — uma das promessas de campanha de Biden foi o retorno dos EUA ao acordo sobre o programa nuclear iraniano, abandonado por Donald Trump em 2018, mas as conversas estão estagnadas, enquanto o governo de Teerã amplia suas atividades de enriquecimento. Biden afirmou que vai “respeitar o acordo nuclear” se os iranianos fizerem o mesmo.

Teerã afirma que retornará de forma integral a seus compromissos, incluindo as limitações dos níveis de enriquecimento de urânio e inspeções mais intrusivas da agência atômica da ONU, se Washington suspender as sanções aplicadas depois do abandono do acordo por Donald Trump.

Escolhas futuras

Em um tom moderadamente otimista e a favor do multilateralismo, Biden defendeu instituições como as Nações Unidas e a Organização Mundial da Saúde, e destacou a necessidade de se trabalhar em conjunto nas crises atuais e futuras. Para ele, o mundo se vê diante de uma escolha clara para a próxima década, um período que pode delimitar os rumos da Humanidade.

O presidente americano apontou que o mundo pode trabalhar em conjunto em medidas para conter futuras pandemias, as mudanças climáticas e para defender os direitos humanos, ou enfrentar crises mais duras e com impactos ainda mais violentos e duradouros.

Ao mencionar o clima, tema central de seu governo, Biden defendeu que os países levem à Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP-26, em novembro, compromissos concretos para enfrentar o aquecimento da temperatura do planeta. Ele afirmou ainda que os EUA serão líderes no tema, e trabalharão para mobilizar US$ 100 bilhões para apoiar ações em países em desenvolvimento nos próximos anos.

Mais cedo, antes das falas de Biden e de Jair Bolsonaro, o secretário-geral da ONU, António Guterres, fez um discurso forte em defesa do multilateralismo no momento em que, para ele, o mundo enfrenta “a maior sequência de crises de nossas vidas”. Guterres pediu ainda que as principais potências globais — EUA e China — mantenham o diálogo para o bem de todo o planeta.

“Temo que nosso mundo se dirija a dois conjuntos diferentes de regras econômicas, comerciais, financeiras e tecnológicas, dois enfoques divergentes sobre o desenvolvimento de inteligência artificia e, finalmente, duas estratégias militares e geopolíticas diferentes”, apontou Guterres. “Estou aqui para soar um alarme: o mundo deve acordar. O mundo nunca esteve tão ameaçado e dividido”.

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