Organização critica exclusão de lideranças amazônidas na criação do ‘Youth20’
Por: Raisa de Araújo
20 de junho de 2024
Evento da Pré-Cúpula do Grupo de Juventude do G20 foi marcado por protestos em Belém (Divulgação)
Raisa de Araújo – Da Cenarium
BELÉM (PA) – A cidade de Belém sediou, entre os dias 17 e 19 de junho, a Pré-Cúpula do Grupo de Juventude do G20, o Youth20 (Y20), liderado pelo Brasil pela primeira vez. O evento teve como objetivo elaborar um documento com propostas das juventudes para o Summit do Y20, que ocorre em agosto no Rio de Janeiro, a ser entregue na Cúpula de Líderes do G20, em novembro. Mas o evento que deveria envolver lideranças locais, especialmente da Amazônia, tornou-se palco de exclusão de líderes jovens, tanto do Norte quanto do Nordeste do País.
O Engajamundo, uma organização de liderança jovem que aproxima a sociedade das decisões políticas do dia a dia, expressou insatisfação com a organização do evento. Segundo o coletivo, as lideranças jovens do Norte, do Nordeste e da Amazônia não foram convidadas a participar da construção do evento. Eles também criticaram a ausência de representantes de comunidades tradicionais na delegação brasileira, como indígenas.
“A falta de convite para construção e participação ativa no evento sediado na Amazônia foi interpretada como um desrespeito à atuação dos coletivos e organizações de juventudes de Belém e da região como um todo. Isso sem falar na falta de representatividade da Região Nordeste na delegação brasileira do Y20, cuja maioria está representada pela Região Sudeste, reforçando o quadro de desigualdade das regiões Norte e Nordeste no cenário nacional”. afirmou a coordenadora do Grupo de Trabalho dedicado ao G20 do Engajamundo, Maria Clara.
Manifestantes protestam contra exclusão de lideranças amazônidas em evento preparatório para o G20 (Divulgação)
O coletivo revelou que, inicialmente, foram convidados a participar da plenária de abertura, representando as juventudes de Belém, mas posteriormente a participação foi cancelada. Para a mestranda em Geografia pela Universidade do Estado do Pará (UEPA) e ativista socioambiental de Belém, Carolina Santos, a exclusão da juventude amazônida da construção do Y20 que acontece em uma das principais capitais da região é simbólico.
“Essa exclusão expõe o nível de importância atribuído ao da ação de ativistas e coletivos, sobretudo aqueles pertencentes a regiões descentralizadas. O descaso com que ativistas amazônidas foram tratados pela organização do evento se contrasta com o altos gastos direcionados a grupos específicos participantes do evento e revela uma desigualdade enraizada que se reflete em uma oportunidade como esta”, comentou.
Engajamundo enfatizou, ainda, a necessidade de uma formação de delegações que reflitam a diversidade do território brasileiro, incluindo aspectos de raça, etnia, gênero, sexualidade e neurodiversidade. Eles defendem que a verdadeira representatividade deve incluir jovens do interior e das periferias, com apoio financeiro e logístico equivalente ao oferecido aos delegados e autoridades.
“A inclusão das pessoas das regiões Norte e Nordeste precisa começar pelo processo de construção dos espaços“, finalizou o Engajamundo, reforçando que a diversidade cultural e regional do Brasil deve estar refletida em eventos como o Youth20 e demais debates de nível nacional sobre política, economia e mudanças climáticas.
Lideranças se reúnem em protesto, em Belém (Divulgação)
A organização do evento
À CENARIUM, o secretário Nacional de Juventude, Ronald Sorriso, declarou que a denúncia do Engajamundo não se sustenta. “O que eu acho? Essa é uma denúncia que quando você tem a possibilidade de comparar com o que está acontecendo aqui, no Hangar, ela não se sustenta“, afirmou.
As delegações oficiais do Y20 são compostas por cinco jovens representantes de cada País membro e convidado do G20. Essas delegações são responsáveis por apresentar as reflexões e contribuições coletivas das juventudes dentro dos espaços de elaboração e negociação de propostas. De acordo com o secretário, os cinco jovens que compõem a delegação brasileira da Y20 contemplam as cinco regiões do Brasil.
Após pesquisa, a CENARIUM constatou que, dos cinco delegados, quatro são do Centro-sul e apenas um do Norte, identificado como Guilherme Manços, este que não vive na região há pelo menos 20 anos, segundo a descrição do seu currículo acadêmico. O jovem é natural de Roraima, onde morou por sete anos. Atualmente ele mora no Estado do Paraná, no sul do Brasil.
Para Carolina, essas pessoas não as representam. “Hoje, o Guilherme vive no sudeste e o que contestamos é que essa pessoa não representa uma juventude nortista e nós, que estamos vivendo o ‘hoje’ do território, não fomos selecionados [para compor a delegação brasileira]”, comentou.
Philipe da Silva
Minas Gerais
Mahryan Rodrigues
São Paulo
Leandro Côrrea
Brasília
Daniela Costa
Brasília, filhas de pais piauienses, que se mudaram há mais de 30 anos para Brasília
Guilherme Manços
Roraima, atualmente mora no Paraná e anteriormente morou em SP e no RN
Para justificar a falta de participação das jovens lideranças do Pará, o secretário criticou a gestão municipal e estadual por não terem fornecido uma logística adequada para as necessidades da juventude local.
Manifestantes seguram cartazes criticando organização do evento no Pará (Divulgação)
“Ontem foi o ato de abertura [17 de junho], onde nem o secretário de Estado de Direitos Humanos e Igualdade Racial, Jarbas Vasconcelos, nem a vereadora Bia Caminha puderam falar devido às limitações cerimoniais. Hoje, todos os jovens têm o direito de falar, e amanhã também. Convido expressamente não só você, mas também o Engajamundo e os jovens paraenses que estão fazendo críticas e possivelmente não estão presentes, para participarem do evento“, afirmou o secretário.
Ele disse, ainda, que “o Y20 nunca foi apenas uma cúpula”. “Hoje é um espaço de participação ampliada graças à dinâmica implementada pelo governo brasileiro“, declarou.
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