Outra aluna do Ifam denuncia professor por assédio; casos sobem para dois


Por: Jadson Lima

24 de junho de 2025
Outra aluna do Ifam denuncia professor por assédio; casos sobem para dois
Isac Neto foi à casa da vítima e citou possibilidade de expulsão da instituição; procurado, ele diz que não se manifesta publicamente (Composição: Paulo Dutra/CENARIUM)

MANAUS (AM) – A CENARIUM teve acesso exclusivo ao depoimento de uma segunda estudante, à época com 14 anos de idade, que denunciou o professor Isac Neto da Silva, do Instituto Federal do Amazonas (Ifam), de assédio. Matriculada no 1º ano do curso técnico de nível médio em Agropecuária, no campus de Eirunepé (AM), ela relata ter denunciado o docente em 2019. A nova revelação surge dias após a reportagem expor, no último dia 18 de junho, que o mesmo professor, docente do curso de Informática, é investigado por outro caso de assédio, ocorrido em junho de 2023, quando teria tocado o corpo de uma aluna na mesma unidade do sul do Amazonas.

Neste caso mais antigo, documentos apontam para indícios de que Isac Neto chegou a ir à residência da família da vítima após a denúncia ser registrada na Ouvidoria da instituição. A informação consta em um depoimento da estudante ao Departamento de Ensino, Pesquisa e Extensão (Depe), datado de 1º de março de 2019.

No caso em que a reportagem já revelou detalhes, com base em documentos, o servidor federal chegou a ser denunciado à Polícia Federal (PF) pela vítima, que relatou o toque do professor em seu corpo, ocorrido nas dependências do campus do Ifam em Eirunepé.  

As duas denúncias tramitam no mesmo Processo Administrativo Disciplinar (PAD) aberto contra o docente pela Corregedoria da instituição de ensino. Trechos do procedimento, obtidos com exclusividade pela reportagem, indicam que Isac Neto foi à casa da vítima para “conversar com sua família, especificamente sua irmã, sua avó e seu avô”. Em relato ao Ifam, a denunciante disse que o professor afirmou que ela poderia ser expulsa da instituição. Ele também teria citado um possível processo, caso ela não parasse com as denúncias. O fato ocorreu no final de fevereiro de 2019.

“O docente teria informado à família que a discente estava mentindo e que ele nunca havia ligado para ela. Segundo a mesma, o docente disse ainda que era para sua família avisá-la que ela não deveria dar continuidade em suas denúncias, haja vista que poderia se prejudicar, sendo possível, inclusive, ser expulsa do IFAM campus Eirunepé. O docente haveria dito ainda que estava sendo aconselhado por três advogados e que se a aluna não parasse as acusações ela podia se prejudicar”. Veja trecho de documento:

Documento obtido pela CENARIUM mostra que professor foi à casa de vítima (Reprodução/Ifam)

Na reunião em que relatou o pedido do professor para que as denúncias parassem, realizada às 19h20 de 1° de março de 2019, além da vítima estavam presentes o chefe do Depe, Marcos Vinícius Ribeiro de Castro Simão, e o ouvidor Dhiekson Xavier Souza. O depoimento foi colhido na sala da direção-geral do Centro de Referência e Inclusão e Tecnologia Social do Ifam em Eirunepé.

Após o relato da vítima sobre a ida de Isac Neto a sua residência, Marcos Vinicius Ribeiro entrou em contato, por telefone, com o então direto-geral do instituto no município, Leandro Amorim Damasceno. O documento aponta que o chefe da instituição de ensino pediu que a estudante fosse orientada a “evitar comentar sobre o caso com outras pessoas para se proteger de possíveis ameaças”. A CENARIUM não conseguiu localiza-lo até esta publicação. Veja trecho:

Chefe do Ifam Eirunepé, município do AM, mandou orientar vítima parar de falar sobre o assunto (Reprodução/Ifam)
Pedidos de reunião e informação 

Três dias antes do relato da vítima ao Depe do Ifam, Isac Neto pediu “medidas cabíveis” contra a aluna. A informação consta em um pedido, feito por meio de e-mail institucional em 27 de fevereiro de 2019, no qual o servidor diz estar sendo alvo de calúnia “por atos e ações não praticados”. De acordo com o texto, pessoas da cidade estavam sabendo da situação. Veja solicitação obtida pela reportagem: 

Servidor envia e-mail falando sobre o caso (Reprodução/Ifam)

Outro documento também mostra que Isac Neto solicitou a íntegra de documentos que embasaram a denúncia contra ele, formalizada na Ouvidoria do Ifam em Eirunepé. “Solicito cópia de todos e quaisquer documentos referentes à denúncia de assédio, conforme informado por Leandro Amorim em reunião realizada em 23 de março de 2019”.

Mensagens 

Além do depoimento da aluna de Agropecuária em 2019, a CENARIUM teve acesso, com exclusividade, a mensagens nas quais outras alunas da instituição se posicionam contra o então professor de Informática do campus do Ifam em Eirunepé. O conteúdo foi anexado ao PAD.

Em um dos diálogos, uma aluna classifica o docente como “pedófilo” e diz que “ele gosta muito de dar em cima das meninas”. Na conversa, a estudante incentiva a vítima a denunciar o caso na Corregedoria da instituição. Veja mensagens: 

Mensagens trocadas entre alunas que estudavam no Ifam Eirunepé (Reprodução/Ifam)

Diálogos entre alunas, que constam no processo interno contra o servidor, indicam que Isac Neto manteve um relacionamento com um aestudante da instituição enquanto era o professor dela. A afirmação é confirmada em mensagens. Veja os registros: 

Diálogos constam em Processo Administrativo Disciplinar contra Isac Neto (Reprodução)
Professor denunciado à PF 

Em 2023, Isac Neto da Silva foi denunciado à PF por suspeita de ter tocado no corpo de outra estudante de 15 anos, matriculada no curso técnico de Administração no campus de Eirunepé (distante 1.160 quilômetros de Manaus). O depoimento da vítima, obtido com exclusividade pela CENARIUM, cita “assédio” e aponta que o ato ocorreu nas dependências da instituição, em junho de 2023.

A denúncia contra Isac Neto foi formalizada na Delegacia de Cruzeiro do Sul (AC), município localizado próximo à divisa com o Amazonas. A unidade é vinculada à Superintendência da PF no Acre. De acordo com o termo de declarações, datado de 16 de agosto 2023, a vítima afirmou que Isac tocou no pescoço dela e desceu com a mão até os ombros. Conforme o depoimento, o fato ocorreu por volta das 9h de uma quinta-feira de junho de 2023, dentro de uma sala de aula da instituição.

Campus de instituto onde os casos ocorreram foi revitalizado e entregue pelo ministro da Educação, Camilo Santana (Luís Fortes/MEC)

À PF, a estudante disse que foi ao campus do Ifam fazer uma avaliação, depois que ficou de recuperação na disciplina de Informática, ministrada na época pelo docente. Ao delegado da PF-AC Estevão Baeso Gabriel de Oliveira, a adolescente explicou que foi fazer a prova após Isac afirmar que ela tinha tirado nota abaixo do mínimo para aprovação nas avaliações regulares, apesar dela ter argumentado que o resultado correto da última prova seria 6,0 e não 4,0, como ele havia somado. 

No dia da prova de recuperação, dentro da sala de aula, a aluna afirmou que, após questionar o docente se ele lhe entregaria a avaliação para alcançar a nova mínima, Isac riu, passou a mão no pescoço dela “e desceu até os ombros”. A estudante de 15 anos disse às autoridades que foi liberada da prova antes de realizá-la, e que o docente mandou que ela fosse à sala de informática da instituição. A vítima relatou, ainda, que o professor já havia lhe tocado outras vezes,“mas, dessa vez, ficou mais abalada”

Ifam se posiciona

A reportagem voltou a procurar o Ifam, por meio de sua assessoria de imprensa, para esclarecimentos sobre o caso. Na solicitação, a CENARIUM questionou o instituto de ensino sobre a demora para dar andamento no processo disciplinar contra Isac Neto, após a primeira denúncia de assédio envolvendo o nome dele, relatada à Ouvidoria em março de 2019. 

Em nota, a instituição informou que “o processo original foi recebido em 2019, autorizado pela Reitoria, mas não pôde ser conduzido no campus Eirunepé por falta de servidores capacitados na localidade”. “Soma-se a isso o fato dos processos administrativos terem sido suspensos durante a pandemia por meio da medida provisória 928/2020”, diz o Ifam. 

“Como já mencionado na nota anterior, o processo de 2023 foi interrompido por um período significativo devido a questões cuja confidencialidade do processo ainda não nos permite expor, mas que se tornarão públicas com o julgamento. Qualquer manifestação do Instituto nesse sentido, neste momento, poderia significar, em tese, quebra do sigilo processual e, portanto, sua nulidade absoluta”, finaliza o instituto. 

A CENARIUM entrou em contato com o professor que é citado nas denúncias e conversou com ele, por ligação, por cerca de 38 minutos, mas o servidor denunciado afirmou que não iria se manifestar publicamente. 

Leia mais: Exclusivo: professor do Ifam é denunciado à PF por tocar em corpo de aluna
Editado por Adrisa De Góes

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