PA é líder em homicídios e trabalho análogo à escravidão no campo


Por: Fabyo Cruz

23 de julho de 2025
PA é líder em homicídios e trabalho análogo à escravidão no campo
Cruzes representam mortes em área do campo (Marcello Casal Jr./Agência Brasil | Composição: Paulo Dutra/CENARIUM)

BELÉM (PA) – Com 612 assassinatos, 420 tentativas de homicídio, 1.597 ameaças de morte e 1.478 casos de trabalho escravo, o Pará se destaca negativamente com os maiores índices de violência no campo brasileiro. Os dados constam no Atlas dos Conflitos no Campo Brasileiro 2025, divulgado na última segunda-feira, 21, pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), com base em registros coletados entre 1985 e 2023.

O Pará se destaca negativamente com os maiores índices de violência no campo brasileiro (Foto: Comunicação MST Pará)

O relatório foi lançado durante o 5º Congresso Nacional da CPT, que ocorre até o dia 25 de julho, em São Luís do Maranhão. O documento é resultado de uma construção conjunta do Grupo de Estudos, Pesquisas e Extensão em Geografia Agrária (GeoAgrária) da Faculdade de Formação de Professores (FFP) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e do Laboratório de Estudos sobre Movimentos Sociais e Territorialidades (Lemto) da Universidade Federal Fluminense (UFF). O Atlas contou, ainda, com a contribuição de pesquisadores de diversas universidades do País em parceria com a CPT, com base no registro de dados do Centro de Documentação Dom Tomás Balduíno (Cedoc-CPT), criado em 1985.

Assassinatos

Na Amazônia, foram registrados 2.008 assassinatos nesse período, o equivalente a 66,8% do total nacional. Desse percentual, o Pará foi responsável por mais de 30%. O Estado aparece à frente de Maranhão (201), Rondônia (178), Mato Grosso (152) e Bahia (147). Xinguara lidera entre os municípios paraenses, com 50 homicídios, seguido por Marabá (42), Eldorado do Carajás (34) e São Félix do Xingu (34). Fora do Pará, o único município com alta concentração de assassinatos é Mucajaí, em Roraima, com 38 casos, impulsionados por conflitos na Terra Indígena Yanomami (TIY).

Tentativas de homicídio

No ranking das tentativas de homicídio, a Amazônia segue na liderança, mas com percentual menor: 53,2% dos casos. O Pará mantém a primeira posição, com 420 registros, seguido por Maranhão (217) e Minas Gerais (141). Já os Estados da Bahia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Paraná, Pernambuco e Rondônia aparecem com números menores, mas ainda significativos.

Ameaças de morte

As ameaças de morte concentram-se majoritariamente na região amazônica, com 68,7% dos casos, enquanto o Nordeste responde por 18,8% e o Centro-Sul por 12,5%. O Pará também volta a ocupar o primeiro lugar, com 1.597 ameaças, seguido por Maranhão (1.144), Amazonas (481), Bahia (371) e Mato Grosso (360). Marabá, São Félix do Xingu e Conceição do Araguaia estão entre os municípios com mais registros desse tipo de violência.

Conflitos por terra

A CPT define como conflitos por terra as “ações de resistência e enfrentamento pela posse, uso e propriedade da terra e pelo acesso aos recursos naturais, tais como: seringais, babaçuais ou castanhais, dentre outros (que garantam o direito ao extrativismo), quando envolvem posseiros, assentados, quilombolas, geraizeiros, indígenas, pequenos arrendatários, camponeses, sem-terra, seringueiros, camponeses de fundo e fecho de pasto, quebradeiras de coco de babaçu, castanheiros e faxinalenses, etc. As ocupações/retomadas e os acampamentos também são classificados no âmbito dos conflitos por terra”.

Considerando as ocorrências de conflitos por terra por Estado, o Pará (4.961), Maranhão (4.033), Bahia (3.326) e Pernambuco (3.147) foram os recordistas em ocorrências de conflitos e junto representam 38% das ocorrências. Os Estados de São Paulo e Paraná também possuem participação importante (2.518 e 2.078 respectivamente).

Com relação aos municípios, Marabá (Pará) com 438 conflitos e Rio Branco (AC) com 432 conflitos se destacam. Além desses, dos 16 municípios que se encontram na segunda faixa de classificação de maiores ocorrências de conflitos, apenas dois não pertencem à região da Amazônia: Mirante do Paranapanema (SP) e Dourados (MS). Dos 14 restantes, seis pertencem ao estado do Pará (Xinguara, Altamira, São Félix do Xingu, Anapu, Conceição do Araguaia, Afuá), dois pertencem ao Estado de Rondônia (Vilhena e Porto Velho), dois pertencem ao Estado do Maranhão (Alcântara e Codó) e dois pertencem ao Amapá (Tartarugalzinho e Macapá). Os outros dois são Mucajaí (RR) e Acrelândia (AC).

Trabalho análogo à escravidão

Além da violência física e das ameaças, o Atlas aponta o Pará como o Estado com o maior número de casos de trabalho análogo à escravidão: 1.478 registros. Em seguida, aparecem Maranhão (411), Minas Gerais (400), Mato Grosso (349) e Tocantins (336).

O documento destaca que “o combate ao trabalho escravo no Brasil está diretamente relacionado à fiscalização e à existência de políticas públicas eficazes”. E que “a atuação da CPT segue essencial para denunciar e visibilizar essa grave violação dos direitos humanos, que persiste como herança do passado colonial e da exploração contemporânea”.

Leia mais: Indígenas são principais vítimas em conflitos de terra, aponta CPT
Editado por Jadson Lima

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