Pandemia complica rotina de brasileiros em missões de paz no exterior

Caberá aos militares o transporte de urnas eletrônicas e agentes eleitorais em 104 localidades (Reprodução/ Folhapress)

Folhapress

A pandemia do novo coronavírus também complicou a rotina de militares brasileiros em missões de paz no exterior. Cuidados específicos de higiene e políticas de distanciamento social somam-se às atividades diárias, que, em alguns casos, significam lidar com o vírus ao mesmo tempo em que enfrentam grupos armados.

Atualmente são quase 300 brasileiros, entre militares, policiais e observadores, atuando em missões de paz da ONU (Organização das Nações Unidas), sobretudo na África e no Oriente Médio.

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O maior efetivo brasileiro está no Líbano, na missão chamada Unifil. O Brasil mantém um navio de guerra -onde atuam 200 militares da Marinha, além de oficiais que integram o Estado Maior da missão. Um brasileiro também comanda a Força-Tarefa Marítima da Unifil, que engloba embarcações de seis países.

Com o surto de Covid-19, parte das atividades da missão foi suspensa.

“Nós continuamos com as patrulhas na costa do Líbano, com as detenções, que é nossa missão principal. Mas o apoio para treinar a marinha do Líbano acabou suspenso em março, porque envolve um contato físico maior, com militares subindo nas nossas embarcações”, afirma o comandante da Força-Tarefa Marítima, o contra-almirante Sérgio Renato Berna Salgueirinho.

Outra mudança significativa é que os militares estão há mais de um mês praticamente restritos ao navio, proibidos de “baixar à terra”, nos termos da Marinha.

Antes da pandemia, os ocupantes ganhavam dois dias de folga após cada atividade de patrulha –que leva de cinco a oito dias. Eram autorizados a circular pela capital Beirute, voltando à noite para dormir na embarcação.

“Agora há restrição de contato com a população local. Então eles [os militares] usam o cais em frente ao navio para fazer atividade física, jogar futebol e descansar, enquanto o navio recebe suprimentos”, completa o comandante.

Como dentro do navio os compartimentos são pequenos, com escadas apertadas e corredores estreitos, também foram adotadas políticas para evitar aglomerações, além da limpeza constante.

A Unifil registrou um caso do novo coronavírus. O militar -cuja nacionalidade não foi informada- foi colocado em quarentena e já se recuperou da doença.

Na missão na República Democrática do Congo, a Monusco, o cuidado com o novo coronavírus dá-se no meio de um violento conflito que atinge o país africano há mais de duas décadas.

“A busca pelo equilíbrio entre ambos os imperativos é uma tarefa complexa. Se você aumenta demais as medidas preventivas, perde a capacidade de atuar. Se incrementa as atividades operacionais sem cuidar do seu soldado, você o expõe de maneira imprudente ao risco de contagiar e ser contaminado”, afirma o comandante geral do componente militar da Monusco, o general Ricardo Augusto Ferreira Costa Neves.

“A despeito dessa complexidade, esse equilíbrio não é impossível”, disse nesta sexta-feira (1º), antes de embarcar para coordenar operações na província de Sud Kivu, alvo de violentos ataques recentes de grupos armados.

O general Costa Neves comanda um dos maiores efetivos da ONU, com mais de 18 mil militares. A Monusco combate cerca de cem grupos armados, localizados principalmente no sul e no leste do país. Nos últimos dias, uma série de atentados no lado oriental ameaçam a frágil estabilidade na região.

Esta não é a primeira epidemia enfrentada pelos militares brasileiros no exterior. Há poucos anos, a Monusco também enfrentou o ebola.

O coronavírus chegou à África recentemente, mais tarde do que à Europa e ao continente americano, mas já causou 31 mortes no Congo.

O comandante e os outros 20 brasileiros que compõem a missão buscam seguir as orientações, usando máscaras, higienizando as mãos e evitando cumprimentos. Ao mesmo tempo, precisam estar no cenário de operações, viajando em aeronaves das missões e veículos blindados, e interagindo com a população.

“Em um local onde temos ataques diários contra civis, refugiados e forças de segurança do país, se os capacetes azuis não mantiverem uma forte presença para apoiar os esforços de segurança, é possível que o número de violações de direitos humanos cresça de maneira exponencial”, disse Costa Neves.

No Saara Ocidental, a coronel Yamar Eiras Baptista não precisa ir a campo, mas está submetida a grande isolamento. A militar brasileira chegou à região -que busca independência do Marrocos- no ano passado, como observadora militar.

Em dezembro tornou-se a militar sênior de logística da missão, a Minurso. A coronel cuida do fornecimento de suprimentos, do transporte e da manutenção dos equipamentos.

Em seu trabalho, portanto, costumava receber demandas pessoais diárias, dos mais diversos setores da missão. Mas agora, relata, seu colaboradores fazem trabalho remoto e não há mais um vaivém de integrantes da missão em busca de informação.

“Tudo é muito solitário e silencioso agora”, conta a militar.

A situação de isolamento agravou-se em março, porque o governo do Marrocos decretou o “lockdown”, com toque de recolher obrigatório entre as 19h e as 5h. “Atividades rotineiras, como fazer compras, ir à igreja ou caminhar não são mais possíveis.”

No Sudão do Sul, o coronel Taylor de Carvalho Neto lida diretamente com a pandemia, pois ele é o responsável por implementar as medidas de segurança para evitar as infecções na missão, a UNMiss. Ele também é responsável pelo treinamento das tropas, para que continuem sua atuação, mas reduzindo o risco de contágio.

O país é palco de grande conflito, praticamente ininterrupto, desde 2013. A ONU estima que 400 mil pessoas morreram desde então. Além disso, a violência resultou em 2,3 milhões de refugiados.

O surto de coronavírus ainda está em estágio inicial no Sudão do Sul, mas a preocupação é grande, por se tratar de nação marcada pela pobreza e pela falta de estrutura de saúde.

Uma das primeiras medidas da missão foi implementar rodízio: metade trabalha presencialmente e a outra metade, de casa.

O coronel relata que as atividades operacionais seguem sendo executadas normalmente, embora os militares agora usem máscaras, luvas e viseiras, juntamente com os fuzis e pistolas. Outra dificuldade enfrentada pelo coronel Taylor e demais militares é que todas as folgas

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