Pandemia muda hábito tradicional de visita a cemitérios no Dia dos Finados
02 de novembro de 2020
Decreto que suspende visitações não impediu que a população realizasse homenagens aos entes queridos em cemitérios municipais (Bruno Pacheco/ Revista Cenarium)
Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium
MANAUS – Celebrado pela Igreja Católica no dia 2 de novembro, o Dia dos Finados é uma data dedicada às homenagens aos mortos. Por conta da pandemia da Covid-19, as tradicionais visitas de familiares aos cemitérios municipais e privados estão suspensas desde abril em Manaus, mas isso não impediu que a população realizasse homenagens aos entes queridos.
Nesta segunda-feira, 2, a REVISTA CENARIUM acompanhou a manhã da população que, mesmo impedida de chegar perto das sepulturas, levou flores, velas e cantou em uma demonstração de respeito e fé diante dos portões trancados que dão acesso aos cemitérios São João Batista, na Zona Centro-Sul, e Parque Tarumã, na Zona Oeste da capital amazonense.
Sem acesso aos túmulos, familiares homenagearam entes queridos com flores, velas e cânticos (Bruno Pacheco/ Revista Cenarium)
Para o autônomo Thiago dos Saltos, de 21 anos, a visitação deveria ser liberada. Ele contou que perdeu o irmão de dez anos em 2018 e que desde então a família tem visitado o túmulo do corpo da criança em todas as datas simbólicas.
“É a primeira vez que não podemos entrar. Sempre viemos visitá-lo, seja no aniversário ou Dia dos Finados. Minha mãe ficou triste, pois não pôde vir. Meu irmão morreu há dois anos e precisávamos estar aqui para homenageá-lo”, disse o jovem.
Com os portões fechados, o zelador do cemitério Parque Tarumã que atua na profissão há sete anos, o indígena Manoel da Silva Feitosa, 42, da etnia Mura, relatou à REVISTA CENARIUM a situação que os trabalhadores do local estão passando e pediu para que uma medida seja tomada.
Manoel da Silva Feitosa, 42, da etnia Mura, é zelador há sete anos (Bruno Pacheco/ Revista Cenarium)
Por meio do trabalho de zelador, onde ganha menos de um salário mínimo (R$ 1.045), o indígena contou que sustenta a família de quatro pessoas, sendo ele, a mulher e duas crianças.
“Nem a gente pôde entrar. Nós, zeladores, dependemos do sustento desse trabalho para ganhar o pão de cada dia. Esperamos que o povo, as autoridades e a prefeitura olhem por nós que trabalhamos na limpeza das sepulturas”, pediu.
Comércio afetado
Sem a movimentação de populares, floristas e vendedores ambulantes salientaram uma perda significativa nas vendas. Para os floricultores Manoel Rolo Netto, de 62 anos, e Ruteva Dias, de 57, a falta da presença da população, apesar da medida vigorar apenas durante a pandemia, pode resultar em perda na tradição histórica de visitação aos cemitérios no Dia de Finados.
O floricultor e jornalista Manoel Rolo Netto, que trabalha com a venda de flores há 41 anos no Cemitério São João Batista, lamentou sobre o fechamento dos cemitérios e contou como o segmento foi afetado.
Manoel Roto Netto trabalha como floricultor há 41 anos (Bruno Pacheco/ Revista Cenarium)
“Já enfrentamos todo tipo de intempéries aqui, menos essa. É a primeira vez que estamos enfrentando isso, do cemitério fechado. Não abriu no Dia das Mães, não abriu no Dia dos Pais e agora você está vendo ali a placa de fechado para visitação”, pontuou Netto.
Em um dia normal com a data comemorativa, o floricultor enfatizou que consegue vender até 20 caixas com 24 pacotes de velas ao lado da mulher, Elenice Silva Rolo. “Vendemos pouco hoje, infelizmente, mas permaneceremos aqui o dia todo. Mesmo fechado, algumas pessoas ainda aparecem para rezar e cantar em frente ao cemitério”, finalizou.
Para a floricultora Ruteva Dias, de 57 anos, que trabalha em frente ao Cemitério São João Batista desde a infância, contou que, durante anos, presenciou o Dia dos Finados em meio a uma multidão e que, após a pandemia, espera que a população não esqueça a tradição que para ela significa gratidão.
“Temos que voltar ao princípio, acender flores e velas. Isso se chama gratidão, pois eles deixaram herança para nós, deixaram compaixão. A nossa mãe deixou sangue por nós, então temos que ter gratidão”, disse.
Ruteva Dias, de 57 anos, contou que vende flores desde a infância (Bruno Pacheco/ Revista Cenarium)
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