Pandemia na Índia: explosão de casos de Covid-19 e falta de oxigênio causam colapso na Saúde

Com falta do insumo, templos estão oferecendo "sessões de oxigênio" de graça para pacientes com Covid-19 à espera de um leito de hospital (AP Photo/Altaf Qadri

Com informações da Folha de São Paulo

NOVA DÉLI – A morte de 20 pacientes com Covid-19 no hospital Jaipur Golden, de Nova Déli, na sexta-feira, 23, por falta de oxigênio, escancarou uma realidade: o sistema de saúde da Índia está desabando sob o peso da segunda onda da pandemia do coronavírus.

Em hospitais onde o suprimento de oxigênio está acabando, veem-se pacientes ofegantes, com falta de ar. Os crematórios do país estão cheios de piras, e pilhas de terra são espalhadas por cemitérios. O choque e a angústia eram visíveis no rosto de Vikramjit Singh, 45, que na sexta-feira, 23, perdera seu irmão e a cunhada, com apenas minutos de diferença, quando o estoque de oxigênio do hospital Jaipur Golden acabou.

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“Quando eles se casaram, juraram enfrentar juntos qualquer coisa que a vida lhes apresentasse. Mas o juramento foi posto à prova antes da hora”, afirmou Singh, desolado. Não havia ninguém com ele para lhe dar apoio. “O governo reuniu ladrões aqui”, declarou, apontando para um dos maiores hospitais particulares de Déli. “Querem matar qualquer pessoa que sobreviva à infecção. Esses empresários clientelistas são os que mandam no governo.”

Baixas

O superintendente médico do hospital, D.K. Baluja, disse: “Quando nossos estoques de oxigênio começaram a se esgotar, fizemos várias ligações para autoridades e fornecedores. Após uma espera de sete horas recebemos mil litros de oxigênio, mas até lá já tínhamos perdido 20 pacientes.

”Hospitais em toda a Índia estão orientando pacientes a irem para casa e procurarem oxigênio por conta própria.Também na noite de sexta-feira morreram 25 pacientes com Covid-19 em outro hospital conceituado de Déli, o Sir Ganga Ram. Mas a instituição não vinculou as mortes oficialmente à falta de oxigênio.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) afirmou que a situação na Índia é um “lembrete devastador” do que o coronavírus é capaz de fazer. No início do ano, o governo indiano acreditou que tivesse vencido a pandemia. Em meados de fevereiro, os casos novos caíram para 11 mil, e o país estava exportando vacinas. Em março, o ministro da Saúde declarou que a Índia estava na fase final da pandemia.

Recordes

No domingo, 25, porém, a Índia alcançou um novo recorde de novos casos diários de Covid-19 pelo quarto dia consecutivo. O aumento decorre de uma nova variante insidiosa que veio desmentir as alegações do governo de sucesso na luta contra a pandemia.

Os 349.691 casos confirmados elevaram o total da Índia para mais de 16,9 milhões, à frente do Brasil e atrás apenas dos EUA — o governo americano suspendeu o embargo de exportação de matéria-prima de vacinas e enviará aos indianos insumos, além de testes, respiradores e equipamentos para a proteção hospitalar.

O Ministério da Saúde divulgou que houve mais 2.767 mortes nas últimas 24 horas, elevando o total de mortos por Covid-19 na Índia para 192.311. O aumento das mortes sobrecarrega crematórios e cemitérios, onde os corpos ficam estirados por horas antes de serem cremados ou sepultados. Em vários lugares, corpos foram queimados sobre piras em trilhas diante de crematórios, depois que os familiares não conseguiram achar vaga para cremá-los.

Cremação

O médico Pradpi Bijalwan morreu na sexta-feira, 23, em sua casa em Noida dois dias depois de o Jaipur Golden mandá-lo para casa porque não havia oxigênio no hospital. Com grande dificuldade, seu amigo Pradeep Tandon obteve um cilindro de oxigênio para ele vindo do estado de Harayana, no norte do país. Mas Bijalwan não resistiu.

Temendo a decomposição do corpo se fosse mantido em casa por muito tempo, Tandon imediatamente contatou várias agências particulares que operam os crematórios em Déli, mas não conseguiu vaga para a cremação dos restos mortais de seu amigo. Depois de ouvir várias negativas, Tandon finalmente encontrou no sábado, 24, uma vaga em um crematório na cidade de Ghazipur, em Uttar Pradesh.

“É altamente desaconselhável ficar com um cadáver em um apartamento de dois quartos. Tentamos cremar seu corpo o quanto antes, mas não havia vagas”, contou Tandon. Até adoecer, Bijalwan dirigia uma clínica para pessoas sem-teto com Covid. Vikas Kumar é faxineiro no maior crematório de Nova Déli, o Nigambodh Ghat. Ele relatou que 349 corpos foram cremados no sábado, 24, apesar de a capacidade total do estabelecimento ser de 160 plataformas. Com as plataformas ocupadas, os corpos foram cremados em espaços vazios.

O total de cadáveres em crematórios em todo o país ultrapassa de longe as cifras oficiais. Os óbitos por Covid são subnotificados principalmente nos estados comandados pelo partido governista BJP, como Gujarat, Madhya Pradesh, Uttar Pradesh e Bihar.

Confira a matéria completa aqui.

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