Pará: Créditos de carbono e desafios técnicos marcam restauração do Xingu
Por: Fabyo Cruz
20 de novembro de 2024
BELÉM (PA) – O modelo de concessão da Unidade de Recuperação Triunfo do Xingu (URTX), em Altamira (PA), a 455 quilômetros de Belém, um projeto-piloto lançado pelo governo estadual durante a Conferência das Partes sobre Mudanças Climáticas da ONU (COP 29), enfrenta desafios técnicos consideráveis, segundo o pesquisador Leandro Valle Ferreira, do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG). A regeneração de áreas degradadas na Área de Proteção Ambiental Triunfo do Xingu, uma das regiões mais impactadas pela degradação ambiental na Amazônia, exige investimentos robustos e estratégias precisas.
À CENARIUM, Leandro Ferreira destacou que a restauração de áreas dessa magnitude requer um volume significativo de recursos e tempo, e a integração do sequestro de carbono como fonte de valor para o projeto é uma estratégia promissora. Um dos maiores desafios do projeto, de acordo com o pesquisador, é a produção em larga escala de mudas e a escolha das espécies adequadas para a restauração.

“De onde serão produzidas as mudas? Quais espécies serão utilizadas? Esse é um ponto crucial para garantir o sucesso da restauração”, ponderou Ferreira. A utilização do plantio direto de mudas como estratégia para maximizar o sequestro de carbono e criar corredores ecológicos entre fragmentos florestais é apontada como uma das práticas mais eficazes. Esses corredores são essenciais para a conectividade biológica, permitindo que espécies de animais se desloquem entre os fragmentos florestais preservados, o que aumenta a biodiversidade e contribui para a saúde ecológica da região.
Além dos desafios técnicos, Ferreira também ressaltou a necessidade de engajamento das comunidades locais no processo de restauração. Para ele, a inclusão das populações locais é fundamental, não apenas para a implementação do projeto, mas também para garantir a sustentabilidade a longo prazo.
“A geração de emprego e renda depende diretamente da integração das comunidades locais. A restauração deve criar parcerias para o fornecimento de insumos e apoio às cadeias produtivas agroflorestais”, afirmou. Esse modelo de integração pode, de acordo com o pesquisador, reverter o cenário de desmatamento ilegal e violência no campo, promovendo o desenvolvimento sustentável e uma economia mais justa para a região.

O projeto da URTX foi lançado com a intenção de regenerar a área de forma sustentável, aproveitando ativos ambientais como os créditos de carbono, gerados com a regeneração da mata nativa. A expectativa é sequestrar cerca de 3,7 milhões de toneladas de carbono durante o período de concessão, o que equivale a 330 mil voltas ao redor da Terra de avião. O edital prevê que a concessionária invista aproximadamente R$ 258 milhões na implantação e operação da concessão, com uma receita estimada de R$ 869 milhões ao longo dos 40 anos de concessão. Além disso, estima-se a criação de mais de 2 mil empregos diretos e indiretos na região, com contrapartidas como capacitação de mão de obra local e apoio a atividades agroflorestais sustentáveis.
O governo do Pará também se comprometeu a apoiar a iniciativa por meio do Plano de Atuação Integrada (PAI), que visa o ordenamento territorial da região com a regularização fundiária e ambiental, investimentos em infraestrutura, segurança e serviços públicos, visando o fortalecimento das comunidades locais.
Ferreira destacou que o URTX pode se tornar um modelo de integração entre políticas públicas e iniciativas privadas para restauração ecológica na Amazônia. Ele ressaltou que a restauração ecológica agora é uma atividade de política pública, associada à conservação, ao controle do desmatamento e ao desenvolvimento sustentável. Para Ferreira, a colaboração entre governo e setor privado é essencial para que todos se beneficiem da iniciativa.
O edital de concessão ficará aberto por 120 dias, com o vencedor sendo conhecido em março de 2025. O projeto é conduzido pela Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas), em parceria com o Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade (Ideflor-Bio), o Instituto de Terras do Pará (Iterpa) e com o apoio da The Nature Conservancy Brasil (TNC Brasil).