Participação feminina na Câmara de Manaus é a menor em 12 anos
Por: Carol Veras
09 de outubro de 2024
Thaysa Lippy (PRD), Professora Jacqueline (União Brasil) e Yomara Lins (Podemos) (Composição de Paulo Dutra/CENARIUM)
MANAUS (AM) – A participação feminina na Câmara Municipal de Manaus (CMM) caiu nas eleições municipais de 2024 e registrou o menor número em 12 anos, com três mulheres eleitas entre as 41 cadeiras disponíveis, representando 7,3% do total. As eleitas Thaysa Lippy (PRD), Professora Jacqueline (União Brasil) e Yomara Lins (Podemos) representam um número inferior ao registrado na legislatura anterior (2021-2024), quando quatro mulheres compuseram a legislatura. Além das candidatas reeleitas em 2024, Glória Carrate (PSB) também compunha a Câmara.
A tendência de queda pode ser observada desde o mandato dos anos 2017 a 2020, quando cinco mulheres ocuparam assentos na Casa Legislativa: Joana Darc (União Brasil), Glória Carrate, Professora Jacqueline, Mistes Salles e Therezinha Ruiz. Em legislaturas anteriores, como ocorreu entre 2013 e 2016, o número de mulheres eleitas era ainda maior, com sete parlamentares, incluindo Glória Carrate, Bispa Luciana, Socorro Sampaio, Professora Jaqueline, Rosi Matos, Vilma Queiroz e Therezinha Ruiz.
O gráfico abaixo representa o número de ocupações femininas em relação às 41 cadeiras disponíveis na Câmara Muncipal de Manaus.
Número de vereadoras vem caindo desde 2013 (Composição de Paulo Dutra/CENARIUM)
O declínio na representatividade feminina na Câmara Municipal de Manaus reflete a dificuldade histórica das mulheres em conquistar espaço na política. Apesar de avanços como a implementação de cotas eleitorais com a Lei das Eleições (Lei nº 9.504/1997), que exige que partidos assegurem o mínimo de 30% de candidaturas femininas e o máximo de 70% de candidaturas de cada sexo, o cenário atual demonstra a persistência de obstáculos que impedem a equidade de gênero nos cargos eletivos, como opina a vereadora reeleita Thaysa Lippy.
“Nós só éramos quatro mulheres nessa Câmara e agora apenas três retornaram. A minha expectativa era de mais mulheres na política, mas a gente vê que falta ainda que outras mulheres olhem para a política como um lugar também delas”, afirmou a mandatária em sessão plenária na CMM na última segunda-feira, 7.
Luta por direitos
A luta pelo direito político das mulheres, especialmente o direito de votar e ser eleita, foi uma longa batalha liderada pelo movimento feminista, é o que explica a pesquisadora Maria Ivonete Gomes do Nascimento, em publicação na Revista Mátria em 2021. Conforme a pesquisa, mesmo após conquistas como o direito ao voto feminino, garantido em 1932 e ampliado na Constituição de 1934, a participação das mulheres na política ainda enfrenta preconceitos e barreiras. Apesar de serem maioria da população e do eleitorado, as mulheres continuam sub-representadas nos espaços de poder no Brasil.
“Consideradas precursoras dessa luta, Francisca Senhorinha da Mota Diniz, Josefina Alves de Azevedo, Leolinda Daltro, Bertha Lutz, Natércia Rocha, Mietta Santiago, entre outras, travaram uma batalha contra o atraso e o pensamento hegemônico de que a vinda das mulheres para o espaço público significava um risco para a família, pois elas não tinham perfil natural para atuar em tal ambiente”, conta a doutora em Ciência da Informação.
Nas eleições de 2018, as mulheres ocuparam apenas 15% das cadeiras na Câmara dos Deputados e 14,8% no Senado. Em 2020, houve um pequeno aumento nas candidaturas femininas, com 13% das prefeituras e 16% das câmaras municipais conquistadas por elas, conforme apresentaram dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). No entanto, 17% dos municípios não elegeram mulheres para suas câmaras.
Discurso polêmico contra a figura feminina
Maior expressão da extrema direita no País, Bolsonaro protagonizou falas polêmicas em relação a mulheres durante o mandato. Ele, por exemplo, disse que “pintou um clima” entre ele e meninas de 14 anos: “Três, quatro, meninas bonitas, de 14, 15 anos, arrumadinhas, num sábado, em uma comunidade, e vi que eram meio parecidas. Pintou um clima, voltei. ‘Posso entrar na sua casa?’ Entrei. Tinha umas 15, 20 meninas, sábado de manhã, se arrumando, todas venezuelanas. E eu pergunto: meninas bonitinhas de 14, 15 anos, se arrumando no sábado para quê? Ganhar a vida”, afirmou o ex-presidente sobre adolescentes imigrantes. A declaração foi dada durante entrevista um podcast em 2022.
Em outra declaração, o então presidente afirmou em 2019 que o Brasil não deveria ser um “País do turismo gay”, acrescentando: “Quem quiser vir aqui fazer sexo com uma mulher, fique à vontade”, disparou. A fala, amplamente criticada, foi considerada homofóbica e interpretada como uma apologia à exploração sexual de mulheres, gerando repercussão negativa em todo o País.
Na ocasião, seis Estados brasileiros, entre eles Pernambuco, Rio Grande do Norte, Maranhão, Paraíba, Bahia e Espírito Santo, reagiram à declaração do presidente e lançaram campanhas de conscientização contra o turismo sexual. As peças publicitárias do Maranhão, por exemplo, trouxeram a mensagem: “O Maranhão está à disposição dos turistas. A mulher maranhense, não!”, defendeu o governo.
Em abril de 2017, o presidente declarou que teve uma filha após quatro filhos do sexo masculino porque “deu uma fraquejada”. Durante uma palestra no Clube Hebraica, ele comentou: “Fui com meus três filhos, o outro também, foram quatro. Eu tenho o quinto também, mas no quinto eu dei uma fraquejada e veio mulher”.
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