Partido Liberal e Psol assinam CPI contra prefeito de Belém
Por: Fabyo Cruz
12 de junho de 2025
BELÉM (PA) – Vereadores do Partido Liberal (PL) e do Partido Socialismo e Liberdade (Psol) assinaram, nessa quarta-feira, 11, na Câmara Municipal de Belém (CMB), um requerimento para abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) contra a gestão do prefeito da capital paraense, Igor Normando (MDB). O objetivo é investigar suspeitas de irregularidades no contrato firmado entre a prefeitura, por meio da Secretaria Municipal de Segurança, Ordem Pública e Mobilidade de Belém (Segbel), e a empresa Auto Lance Pátio e Leilões LTDA., responsável por serviços de remoção, guarda e liberação de veículos apreendidos na cidade.
A proposição foi apresentada pela vereadora Ágatha Barra (PL), que apontou suspeitas envolvendo a legalidade da contratação, a origem da empresa e possíveis ligações familiares entre sócios da Auto Lance e do então chefe de gabinete de Normando, Cleidson Chaves, recém-nomeado secretário municipal de Zeladoria. Durante a sessão ordinária dessa quarta, ela destacou os principais pontos que motivaram o pedido de apuração.

“Estou entrando com o requerimento de CPI. Gostaria de contar com o apoio dos senhores vereadores sobre a ‘máfia do reboque’, através de várias denúncias que a gente tem recebido da própria população, até a questão da dispensa de licitação da empresa Auto Lance Pátio e Leilões. Também tem a denúncia da questão do parentesco do chefe de gabinete do prefeito com a empresa. […] Várias situações que podem até caracterizar improbidade administrativa”, afirmou Ágatha em plenário.
Ela também questionou a origem da empresa: “A empresa contratada é do município de Xinguara, tem a dispensa do procedimento licitatório, e existem indícios de vínculos entre os sócios da empresa e o gabinete do atual prefeito. […] O povo de Belém não aceita mais esquemas escondidos sob contratos escusos. Se há algo a esconder, nós vamos descobrir. E, se existe a inocência, ela tem que ser comprovada”. Veja o contrato a seguir.
Assinaturas
Ao todo, cinco vereadores assinaram o requerimento: além de Ágatha Barra, também subscreveram Mayky Vilaça e Zezinho Lima (ambos do PL), e Marinor Brito e Vivi Reis (ambas do Psol). Para que a CPI seja instalada, é necessário o apoio de pelo menos sete parlamentares — um quinto dos 35 vereadores da Casa. Caso o requerimento alcance o número necessário de apoios, a Câmara poderá instalar a comissão e dar início às investigações sobre a relação entre o município e a empresa Auto Lance.
A iniciativa conta com apoio incomum entre partidos de espectros ideológicos distintos. Em entrevista à CENARIUM, a vereadora Vivi Reis (PSOL) justificou sua adesão ao pedido de investigação. Para ela, a situação merece uma apuração rigorosa, principalmente devido às consequências sociais das apreensões de veículos.
“Assinamos por entender a importância de fazer investigações, porque, se há indícios, eles precisam ser apurados. É muito grave, principalmente pelo fato de que existem muitos trabalhadores e trabalhadoras que são criminalizados. […] A gente sabe que devem ser respeitadas todas as leis de trânsito, mas muitos desses trabalhadores não têm sequer uma linha de crédito para renovar os pneus ou pagar suas licenças”, afirmou a parlamentar.

Ela também apontou práticas que considera abusivas nos pátios de retenção: “Os veículos não são liberados nos finais de semana. Então, se forem apreendidos numa quinta ou sexta-feira, só poderão ser retirados na segunda — e a pessoa paga a diária de todos esses dias. É um absurdo. Quem está lucrando com isso? A custa de quê? […] Precisamos saber quem está ganhando com esse sistema”.
A vereadora criticou ainda a falta de transparência na contratação da empresa. “É uma empresa que não é sediada em Belém e que foi contratada sem licitação. Isso, somado ao fato de existirem possíveis vínculos familiares com o gabinete do prefeito, levanta muitas dúvidas. Tratando-se de serviço público, a exigência que a gente precisa fazer é de transparência”, concluiu.

Legislativo estadual
A proposta tem repercutido fora do Legislativo municipal. O deputado estadual Rogério Barra (PL), que batizou a possível Comissão Parlamentar de Inquérito como “CPI do Reboque”, também fez denúncias em suas redes sociais. Segundo ele, a empresa Auto Lance pertence à família de Cleidson Chaves, ex-chefe de gabinete do prefeito de Belém e atual secretário municipal de Zeladoria (Sezel). “O nome da empresa era Chaves Leilões, tendo como sócio o irmão do chefe de gabinete do Igor, que chama-se Clidean Chaves. Mas eles trocaram o nome da empresa e o quadro societário para camuflar a origem”, afirmou o parlamentar.

Posicionamentos
A CENARIUM procurou a Prefeitura de Belém. Por meio de nota, a gestão municipal respondeu:
“A Prefeitura de Belém, por meio da Secretaria Municipal de Segurança, Ordem Pública e Mobilidade Urbana (Segbel), esclarece que não mantém mais a relação contratual com a empresa Auto Lance Pátio e Leilões. A rescisão, solicitada em 20 de maio de 2025, foi publicada no Diário Oficial do Município (DOM) de 5 de junho deste mesmo ano.
A empresa anterior a essa atuava sem qualquer tipo de contrato, motivo pelo qual foi feita uma contratação em caráter emergencial, atendendo a todos os requisitos legais de habilitação e diante das demandas administrativas e operacionais dessa secretaria.
A Prefeitura de Belém reafirma seu compromisso com a transparência e a legalidade e informa que até o dia 13/06 (sexta-feira), será publicada no Diário Oficial do Município uma chamada para a licitação do serviço.
A Segbel informa também que todos os esclarecimentos sobre o contrato foram enviados também ao Ministério Público Estadual”.
A reportagem também procurou a empresa Auto Lance Pátio e Leilões para comentar as acusações, mas ainda não obteve retorno. O espaço segue aberto.