Partidos da base de Bolsonaro são os mais priorizados com doações eleitorais por infratores ambientais


20 de setembro de 2022
Partidos da base de Bolsonaro são os mais priorizados com doações eleitorais por infratores ambientais
Os partidos da base do presidente Jair Bolsonaro (PL) são o destino preferencial das doações eleitorais feitas por pessoas físicas autuadas pelo Ibama (Vinícius Mendonça/Ibama)
Com informações do Estadão

RIO DE JANEIRO – Os partidos da base do presidente Jair Bolsonaro (PL) receberam o maior volume de doações eleitorais feitas por pessoas físicas autuadas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Mais da metade de todo o dinheiro destinado por multados às campanhas, até o momento, foi para três legendas. Partido Liberal, Republicanos e Progressistas receberam, juntos, R$ 10,2 milhões do total de R$ 17,7 milhões.

As doações beneficiam 67 candidatos aliados do chefe do Executivo federal, dentre eles o próprio presidente. A campanha de Bolsonaro recebeu R$ 3,9 milhões — o que representa R$ 1 em cada R$ 4 doados por infratores ambientais a todos os candidatos da base.

Desde a reforma eleitoral feita em 2015, doações por parte de empresas ficaram proibidas para limitar a capacidade de setores intervirem nas decisões públicas. Já os aportes individuais se mantiveram sob uma regra que limita os repasses a até 10% da renda anual do doador. A ideia foi evitar que empresas usem pessoas físicas como laranjas. A doação de infratores ambientais ou devedores à União para campanhas não é ilegal.

Os dois partidos mais beneficiados são o PL e o Republicanos, com R$ 7,7 milhões e R$ 1,9 milhão, respectivamente. O Progressistas recebeu R$ 631,6 mil. Juntas, outras 24 legendas tiveram repasses de R$ 7,5 milhões. Até sexta-feira passada, 16, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) havia registrado 523 doações feitas por infratores ambientais, sendo que a maioria (269) foi destinada às campanhas das três legendas. Procurados pela reportagem, PL, Republicanos e Progressistas não responderam.

O levantamento feito pelo Estadão cruzou a base de dados das receitas dos candidatos disponibilizada peloTSE com a lista de multados pelo Ibama desde 1995. O cálculo considera as doações de pessoas físicas a candidatos para todos os cargos em disputa e não leva em conta multas de outros órgãos ambientais.

Doações à base

O compilado de multas dos doadores que distribuíram recursos a candidatos do PL, Republicanos e PP ultrapassa R$ 361,9 milhões em valores nominais. Apenas 1% deste total foi quitado, enquanto 4,4% tiveram baixa administrativa ou fecharam acordos, o que deixa um passivo em aberto na ordem dos R$ 342 milhões.

Eles somam 559 multas na série histórica disponibilizada pelo Ibama. A maioria das infrações se concentra em cinco Estados: Mato Grosso, Amazonas, Pará, Mato Grosso do Sul e Rondônia. O bioma amazônico é o mais impactado. As infrações mais comuns envolvem destruição ou danificação de vegetação nativa, desmatamento e descumprimento de embargo de obra, e 45% do grupo de infratores é reincidente, ou seja, foi multado mais de uma vez.

O prazo para o pagamento das multas não é de competência exclusiva do autuado. Ainda que existam infratores que de fato não acertaram as contas com o Ibama, há uma maioria que recorre das decisões e está com o processo administrativo em aberto há anos. Nesse tipo de processo, porém, o autuado já se torna infrator a partir da constatação da irregularidade por um agente público. Após receber a multa, ele pode tentar provar que não cometeu nenhum ilícito ambiental.

O bioma amazônico é o mais impactado pelos doadores das campanhas do PL, Republicanos e PP (Tiago Queiroz/Estadão)

A urbanista Suely Araújo, que presidiu o Ibama de 2016 a 2019, afirmou que o órgão tem um histórico de atuação severa e que as multas não são arbitrárias. “Há um plano nacional anual de proteção ambiental que mapeia operações no Brasil inteiro a partir do orçamento previsto. A fiscalização é baseada em esforço de inteligência, inclusive, com incursões prévias de análise de imagens de satélite, análise de dados e compra e venda de mercadorias”, disse.

As infrações

Dos aportes às campanhas, Bolsonaro é o candidato que mais recebeu recursos de multados. Uma das doações mais volumosas — de R$ 500 mil — foi feita pelo pecuarista mato-grossense Celso Gomes dos Santos, que enfrenta quatro processos administrativos abertos no Ibama que impactam, diretamente, a Amazônia. As sanções aplicadas citam, por exemplo, uso de fogo em áreas agropastoris sem autorização.

Entre os apoiadores também está o ex-prefeito de Flora Rica José Aguiar Filho. Ele acumula R$ 65 milhões em multas em aberto no Ibama, equivalentes a 16 infrações registradas de 2007 a 2013. Entre elas, Aguiar foi autuado por supostamente impedir a regeneração natural de florestas nativas. A reportagem procurou advogados e as empresas de Santos e Aguiar Filho, mas não obteve retorno. A campanha de Bolsonaro não quis se manifestar.

Para a diretora da Transparência Brasil, Juliana Sakai, a doação eleitoral é legítima na democracia e serve para dar apoio para viabilizar uma candidatura. “O que acontece no Brasil é que você tem uma concentração, não só de renda, mas de doação. Muitas vezes existe uma troca de viabilizar uma campanha e, eventualmente, o candidato dever esse valor. Quando esse aporte é muito volumoso, você espera um retorno”, afirmou.

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