Partidos e instituições se pronunciam sobre discurso inconstitucional de Bolsonaro

Manifestação a favor de Bolsonaro em Copacabana (Hermes de Paula/ Agência O Globo)
Marcela Leiros – Da Cenarium

MANAUS – Siglas partidárias e instituições governamentais se pronunciaram, nesta quarta-feira, 8, sobre o discurso do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no “7 de Setembro”. O Partido Social Liberal (PSL) e o Democratas (DEM) lançaram nota conjunta repudiando a fala de Bolsonaro durante manifestação em Brasília e na Avenida Paulista, em São Paulo. O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP), também comentou sobre os protestos. Em seus discursos, Bolsonaro tem atacado, constantemente, o Supremo Tribunal Federal (STF) e seus ministros, criando tensão entre os Poderes.

No documento, os partidos alegam que a liberdade não pode ser usada “para fins de discórdia”. O PSL – que está em processo de fusão com o DEM – é o partido do qual Bolsonaro fazia parte quando foi eleito, em 2018, mas ainda tem como filiado Eduardo Bolsonaro, o filho “03” do presidente. Na nota oficial, os partidos destacam que o repúdio vale, principalmente, à insurgência de Bolsonaro contra as instituições do País. (Veja o documento, na íntegra, abaixo)

“O PSL e o DEM entendem que a liberdade é o principal instrumento democrático e não pode ser usada para fins de discórdia, disseminação de ódio, nem ameaças aos pilares da própria Democracia”, consta no documento.

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A nota ainda cita a crise econômica em que o País se encontra, com milhões de pais e mães de família angustiados com a inflação dos alimentos, da energia, do gás de cozinha, com o desemprego e a inconstância da renda. “Hoje, se torna imperativo darmos um basta nas tensões políticas, nos ódios, conflitos e desentendimentos que colocam em xeque a democracia brasileira”, destacam.

Para o cientista político Helso Ribeiro, é inconcebível que o presidente fale que não vai respeitar a decisão de um ministro “X”, “Y” ou “Z”. “Em qualquer caso que você não está satisfeito, você tem uma decisão para tomar como remédio, que é recorrer. Isso é um desrespeito ao Poder Judiciário”, disse.

E continuou. “Quando colocamos partidos liberais de direita como o PSL e o DEM, entendemos que ela é plural. A direita bolsonarista se aproxima à extrema direita de desrespeito às instituições, uma minoria. O mundo nos mostra exemplos. O sujeito está perdendo espaço, ele vai querer apelar para um certo radicalismo. Não sendo o dono da verdade, em minha visão, dos 11 parlamentares amazonenses em Brasília, dez são de direita e um, que é o centro-esquerda, é o Zé Ricardo”, completou.

Preservação

Em pronunciamento feito no início da tarde desta quarta-feira, 8, Lira afirmou que a Casa Legislativa é o “motor de pacificação” para as discordâncias entre o Palácio do Planalto e o STF, e que a Constituição brasileira “jamais será rasgada”.

“A Câmara dos Deputados apresenta-se, hoje, como motor de pacificação. Na discórdia, todos perdem, mas o Brasil e a nossa história tem ainda mais o que perder. Nosso País foi construído com união e solidariedade e não há receita para superar a grave crise socioeconômica sem estes elementos”, disse.

Lira ainda se comprometeu a conversar com os envolvidos na escala de conflitos entre os Poderes. “Conversarei com todos e com todos os poderes. É hora de dar um basta nesta escala, em um infinito looping negativo. Bravatas em redes sociais e vídeos deixaram de ser um elemento virtual e passaram a impactar o dia a dia do Brasil de verdade”.

“Ele destacou, ainda, o avanço das reformas no Legislativo e, em sua conclusão, defendeu a Carta Magna do País e o compromisso com a realização das eleições gerais no próximo ano.

Caso particular

Em seu site oficial, o Partido Social Liberal (PSL) traz um vídeo informativo com frases sobre respeito. A data de publicação do recurso não aparece no site, mas vai de encontro com o que foi dito por Bolsonaro em seus discursos tanto em Brasília como em São Paulo, quando atacou o STF. Entre as frases publicadas no vídeo estão: “O PSL Respeita a Harmonia entre os Poderes”; “O PSL Respeita o Voto Popular”; “O PSL Respeita a Constituição”; “O PSL Respeita a Democracia”; “O PSL Respeita o Brasil”.

União

A possibilidade de fusão das duas siglas partidárias é vista como um reflexo do contexto político em que o Brasil se encontra, no qual os partidos posicionam-se contra o discurso que inflama o ódio a instituições democráticas. Pelo histórico de segregação mais intenso do que de união, a fusão é considerada algo “interessante” pelo cientista político Carlos Santiago.

“Então nesse sentido já seria algo interessante no atual quadro político no Brasil. A nota conjunta reforça o posicionamento de outras siglas partidárias que também criticaram a posição e o discurso do presidente e Bolsonaro nas manifestações de 7 de setembro”, manifestou o especialista.

Quanto às eleições de 2022, Santiago também analisa que a união do PSL e do DEM, visando a defesa da democracia do estado democrático de direito, também é uma forma de unir forças para lançar uma candidatura à presidente da República ou uma aliança eleitoral. “Em suma uma coisa ficou clara na nota dessas agremiações partidárias: entre o arbítrio e as agressões contra as instituições do Estado brasileiro, e a defesa do estado democrático de direito, esses partidos preferem a defesa do estado democrático de direito”.

A reportagem entrou em contato com o deputado estadual Delegado Péricles e deputado federal Delegado Pablo, ambos do PSL no Amazonas, para repercutir sobre o posicionamento da sigla em nível nacional, mas não obteve retorno até a publicação desta matéria. Ambos estiveram presentes nas manifestações do Dia da Independência, em Manaus, em ato favorável ao presidente Jair Bolsonaro.

Delegado Péricles, deputado estadual do Amazonas, faz discurso sem máscaras durante manifestação, em Manaus (Reprodução/ Instagram)

Veja a nota na íntegra:

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