Pedagoga aponta estratégias para superar desigualdade social no ensino a distância em Manaus

Pandemia de Covid-19 causou o fechamento das escolas de educação infantil e básica e de Instituições de Ensino Superior (IES) em todo país (Arquivo pessoal)

Matheus Pereira – Da Revista Cenarium

MANAUS – O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou, na última semana, mais um capítulo do Boletim de Política Social nº 28, em que o destaque vai para o novo cenário de desafios impostos à educação no Brasil, por conta da pandemia de Covid-19. As estratégias adotadas para manter o ensino público evidenciaram a problemática relacionada ao acesso dos alunos às aulas e conteúdos, por meio da internet ou da televisão, principalmente na Região Norte.

A pedagoga do Centro Municipal de Educação Infantil (Cmei) Hermann Gmeiner, Gabriela Karolina Riker, afirma que foi preciso mudar os roteiros repentinamente e traçar estratégias para continuar levando o ensino às crianças. “Levamos um pouquinho da nossa escola para amenizar a saudade, garantir o direito à aprendizagem e ao mesmo tempo diminuir as desigualdades no que tange o acesso às aulas remotas por falta dos aparelhos eletrônicos”, conta.

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Em março de 2020, a pandemia de Covid-19 causou o fechamento das escolas de educação infantil e básica e de Instituições de Ensino Superior (IES) em todo País. A partir daí, os gestores e os profissionais de educação precisaram lidar com a nova realidade e adotar estratégias de ensino remoto. Gabriela relata como foi enfrentar a mudança no cenário do ensino público.

“Dormimos com a escola e, acordamos sem ela. Manter a estabilidade emocional, adaptar-se ao modo virtual de ensinar (conciliando o home-office às demandas domésticas), manter as crianças com desigualdades sociais na escola, garantir o direito de aprender delas e prestar assistência às famílias foram uns dos muitos desafios que enfrentamos e que tivemos que tentar resolver simultaneamente”, expõe Riker.

Estratégias

A pedagoga conta, ainda, que em princípio, o medo e a incerteza foram os primeiros sentimentos, mas que a base da concepção pedagógica desenvolvida no Cmei Hermann Gmeiner desde 2016 proporcionou certa segurança para pôr em prática estratégias com foco em manter o ensino ativo.

“O mapeamento das famílias foi fundamental para sabermos quais delas se encontravam em vulnerabilidade social como meio de garantir de alguma forma os direitos básicos como alimentação, os quais foram garantidos por meio de parcerias com diversos setores. A busca ativa do sistema nos trouxe um vislumbre das crianças que não tinham acesso às aulas remotas, quer pela falta de internet, ou até mesmo pela falta de uma televisão ou aparelhos celulares”.

Gabriela explica que, após as buscas ativas, foram montadas estratégias para diminuir as desigualdades sociais, cujos problemas não surgiram nesse período, mas se acentuaram ainda mais. “Construímos roteiros de aprendizagem a partir das escutas dos pais que nos relatavam as angústias das crianças e desejo delas de voltar para a escola porque “só a tia sabia ensinar”, “só a merendeira sabia fazer o feijão gostoso”, “só na escola tinha o balanço, a árvore e os amiguinhos para brincar”. Logo, os primeiros roteiros, foram as caixas da paz, bagagens de vivências e sacolas da saudade, onde as famílias levaram para casa, materiais não estruturados, elementos da natureza, tintas, lápis de cor, cola, um pouquinho da nossa escola”, relata.

Além das práticas com os alunos, a pedagoga aponta que a equipe gestora da Cmei Hermann Gmeiner, formada por ela e pela diretora da escola, Estela Nepomuceno, seguiu com um trabalho de escuta da equipe pedagógica e dos demais funcionários, para preservar a saúde emocional de todos e dar continuidade ao trabalho administrativo e pedagógico, que precisaria ser adaptado para a nova realidade.

“As crianças foram as que mais perderam neste processo. Perderam a liberdade, perderam o convívio com outras crianças, perderam o espaço escolar, perderam suas referências como o avô que contava história, a avó que fazia o bolo, um tio que levava para passear, um vizinho que abria um largo sorriso, sem contar que algumas ficaram órfãs. Ressignificar as práticas foi preciso. Olhar com fraternidade foi uma ação constante, tivemos que engolir o choro para acalantar nossas famílias e foi unindo forças que aos poucos fomos nos adaptando a esse novo normal”, apontou a pedagoga.

Acesso à internet

Mesmo com uma crescente no número de pessoas que possuem acesso à internet, dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua de 2018, apontam que aproximadamente 5,7 milhões dos estudantes na fase de escolarização básica (da pré-escola ao ensino médio) de instituições públicas de ensino não tinham acesso domiciliar à internet em banda larga ou 3G/4G. Só no ensino fundamental 4,23 milhões de alunos não tinham esse acesso. Os dados apontam ainda que para 55% nem a distribuição de um equipamento com chip resolveria, visto que não havia sequer sinal de celular em suas residências.

Entre os domicílios do País em que não havia utilização da internet, dois dos três motivos principais para não utilização eram porque o serviço de acesso à internet era caro (25,4%) e nenhum morador sabia usar a internet (24,3%). O motivo de o serviço de acesso à internet não estar disponível na área do domicílio abrangeu 7,5% das residências em
que não havia utilização da internet e o motivo de o equipamento eletrônico para acessar a Internet ser caro, 4,7%.

Televisão em casa

A televisão é outro meio que tem sido utilizado no ensino remoto em alguns Estados. Segundo o PNAD Contínua 2018, o sinal de TV alcançaria 3 milhões de estudantes sem sinal internet em casa. Ainda assim, cerca de 200 mil alunos não teriam acesso ao ensino remoto. Apesar de ter tido um crescimento no percentual de domicílios com televisão, a região Norte continuou sendo a com o menor percentual no total (92,3%).

O processo de migração do sinal analógico para o digital ainda estava em curso em 2018. Com o desligamento do sinal analógico, apenas televisões com conversor integrado recebem o sinal. Em Estados como o Amazonas, a TV aberta é utilizada como uma das ferramentas do ensino a distância. Em 2018, 59.872 mil domicílios tinham televisão com conversor para receber o sinal digital de televisão aberta. A região Norte foi a que teve o maior crescimento no percentual de domicílios com conversor para receber o sinal digital de televisão aberta ocorreram nas Regiões Norte (70,6% para 81,5%).

Edição: Alessandra Leite

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