Pela primeira vez, TI Yanomami fica sem registrar desmatamento
Por: Ian Vitor Freitas
27 de janeiro de 2025
BOA VISTA (RR) – A Terra Indígena Yanomami (TIY), não registrou, pela primeira vez, alerta de desmatamento no mês de dezembro de 2024. O resultado foi obtido após dois anos do início das atividades do governo federal com ações contra garimpo ilegal. A informação é do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
Segundo o presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, nos últimos meses ocorreu uma redução drástica dos alertas de desmatamento. Ele destaca ainda que a perenidade das ações de fiscalização no território gera um efeito duradouro na redução na abertura de novas áreas dessa atividade ilegal.
“Se compararmos a quantidade total de alerta de desmatamento para garimpos registrados em 2022 e 2024, a redução passa de 90%. Foi possível atacar, de forma certeira, tanto os garimpos já consolidados, que estavam se expandindo, quanto áreas recém-abertas”, disse.
Durante os anos de 2023 e 2024, o Governo Federal realizou 3.536 ações na TIY. Dessas ações, 633 foram operações de fiscalização do Ibama, que resultaram na aplicação de R$ 69,1 milhões em multas referentes a 211 autos de infração.
Confira outras ações realizadas neste período:
- Agentes fizeram 418 apreensões de equipamentos, veículos aéreos e terrestres, combustível e demais suprimentos de garimpo;
- Registraram 320 termos de destruição/inutilização de acampamentos, veículos e maquinários;
- Efetuaram 88 embargos de área, totalizando 566 hectares.
As atividades de obstrução na região ocorreram por meio das ações dos servidores do Ibama e também de outras entidades públicas, com a estratégia de interromper as rotas comerciais e os entrepostos logísticos que abastecem e escoam a produção do garimpo.
Nesse sentido, o Ibama buscou concentrar suas ações em incursões em garimpo, em pistas de pouso clandestinas, fiscalização do comércio e na priorização no julgamento dos processos referentes a infrações ambientais.
Em setembro de 2024, durante o V Fórum de Lideranças na Terra Indígena Yanomami, Junior Hekurari, presidente da Associação Yanomami URIHI e liderança indígena, destacou como a vida dos povos indígenas se recuperou da crise iniciada em 2023.
“Em 2023, durante o início da operação do Governo Federal, encontraram o povo Yanomami abandonado, e muitas pessoas morreram de malária, pneumonia, diarreia, verminose e estavam totalmente sem medicamentos quando foi declarada a situação de emergência do povo Yanomami. Hoje, vemos o povo Yanomami se recuperando, as crianças brincando nas comunidades. O governo está mostrando o trabalho e devolvendo o bem-estar às comunidades”, destacou.

Em entrevista à CENARIUM, em janeiro deste ano, ele reforçou também a importância da continuidade das ações do Governo Federal para garantir a paz do território.
“É importante que o trabalho do governo federal continue no território, mantendo essas operações até o último garimpeiro ser retirado, para não retornar como foi o ano de 2022. Estamos com nossas esperanças renovadas, as árvores e os frutos estão crescendo novamente, mesmo que os peixes estejam contaminados, não temos outras formas de alimento, então voltamos, também, a praticar a pesca. A Sesai também precisa manter as atividades, porque ainda estamos sofrendo bastante com a malária”, pontuou a liderança.

Impactos do garimpo na TI Yanomami
A TIY está localizada nos territórios brasileiro e venezuelano, com uma extensão de, aproximadamente, 192 mil km² e uma população de 27,1 mil de indígenas, conforme o Censo Demográfico de 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No Brasil, a região fica nos estados de Roraima e Amazonas.
Com a crise e a invasão dos garimpeiros no território, diversos impactos ambientais e a doenças infectocontagiosas, como a malária, se intensificaram na região. O garimpo ilegal ocasionou uso indiscriminado de substâncias tóxicas (mercúrio e cianeto), que contaminou os rios, à caça e à pesca, assim como o desmatamento ilegal.
Ação coordenada
Decretada em 20 de janeiro de 2023, no início da gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a emergência em saúde pública motivada pela grave desassistência enfrentada pelo povo Yanomami, marcou o início de uma série de ações federais na maior reserva indígena do Brasil, que abriga cerca de 27 mil pessoas.
As iniciativas integradas resultaram em diversos avanços no enfrentamento ao garimpo ilegal, na preservação do meio ambiente, na redução da mortalidade por desnutrição e na busca por qualidade de vida às comunidades indígenas.
Em 2024, foram conduzidas pelo Governo Federal 3.536 operações de segurança para desintrusão na TY Yanomami, com a redução de 91% dos garimpos consolidados no território indígena. Desde janeiro de 2023, foram entregues mais de 114 mil cestas de alimentos, o que contribuiu para diminuir em 68% os óbitos por desnutrição no primeiro semestre do ano passado na comparação com 2023, dentre outros resultados.
Ao todo, são 33 órgãos envolvidos, inclusive a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e o Ibama, coordenados pela Casa Civil.