Pelo menos oito Estados brasileiros tiveram redução de 70% ou mais nas internações por Covid-19

A variante Gama, que teve origem em Manaus, elevou o número de casos no país no primeiro semestre do ano. (Reprodução/ Internet)

Com informações do Infoglobo

RIO E SÃO PAULO — Com quase 45% dos brasileiros totalmente vacinados e 70% com aplicação parcial, o Brasil já colhe os frutos de uma imunização ampla contra a Covid-19 também dentro dos hospitais. De acordo com levantamento do jornal O GLOBO, realizado com dados disponibilizados por secretarias de Saúde, ao menos oito Estados apresentam quedas de 70% ou mais no número de hospitalizados com a doença em comparação ao pico da pandemia, que deve atingir a marca de 600 mil mortes esta semana.

Os dados foram colhidos obedecendo a metodologia de contagem disponibilizada por cada região. Como não existe método único de divulgação, em algumas localidades há a apresentação de números conjuntos de UTI ou enfermaria. Ou então, média mensal, no lugar de variações diárias.

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O Rio de Janeiro, por exemplo, teve em setembro o menor número de novas internações desde o começo da pandemia, contabilizando todos os casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG). A classificação abarca todos os casos respiratórios, com diagnóstico para Covid-19 ou não. A análise geral, porém, se faz importante já que algumas cidades fluminenses tiveram dificuldades de testagem para o coronavírus. No mês passado, foram 6 mil internados no estado, um número 70% menor do que o pico da doença, em abril.

O Pará também bateu as menores médias em setembro, tanto nas internações de leitos clínicos quanto na UTI. A redução na internação geral ficou próxima a 90%, quando comparada a setembro e março deste ano.

Em situação parecida está o Espírito Santo, com queda de 74% no número de internados na UTI quando comparamos os recentes indicadores com as taxas de abril deste ano — o pior momento da pandemia na região. Na terça-feira, 250 pessoas estavam hospitalizadas em leitos de alta complexidade. A menor taxa ocorreu em 10 de setembro, com 189 registros.

No Rio Grande do Sul, a queda foi de 79% nos hospitalizados em UTI, suspeitos e confirmados por Covid-19, considerando os indicadores de 21 de março comparados com 5 de outubro. Na Paraíba, a queda geral foi de 87%.

Quedas acima dos 90%

O Ceará chegou a ter 1.717 leitos de UTI abertos, no dia 6 de abril. Na data, 1.585 pessoas estavam hospitalizadas, 94,4% a mais do que a última terça. No Tocantins, a queda pode ser observada no número de novas internações gerais: na terça-feira, houve a internação de um único paciente com Covid-19 na rede estadual. Trata-se de uma queda de 97,7% em comparação aos 45 hospitalizados em um único dia, em 23 de março. O registro de um único paciente internado ao longo de 24 horas também ocorreu no final de setembro e no dia 2 de outubro e, antes disso, somente em 1º de janeiro.

O Estado de São Paulo, por sua vez, apresentou nesta semana a taxa mais baixa de internações por Covid-19 em um ano e meio de pandemia. Atualmente, há 4.674 pessoas hospitalizadas em decorrência da doença na rede pública estadual, sendo 2.244 em unidades de terapia intensiva (UTI) e 2.430 em enfermaria.

Segundo a secretaria estadual de Saúde, marca similar tinha sido atingida pela última vez em 10 de abril do ano passado, com 1.919 pessoas em UTIs e 2.689 em leitos clínicos, em um total de 4.608 pacientes. A título de comparação, o Estado já chegou a ter 31 mil pessoas hospitalizadas em decorrência da infecção pelo coronavírus, um número sete vezes maior que o atual.

Na rede particular paulista, as internações também estão em queda. Uma pesquisa do Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de São Paulo (SindHosp) apurou que 98% dos hospitais pesquisados informam que houve diminuição da internação de pacientes com Covid. Destes, 64% dos serviços de saúde apontam diminuição da ocupação de leitos entre 41% e 50%. O estudo foi realizado entre 13 e 21 de setembro e ouviu 60 hospitais privados, sendo 27% da capital e 73% do interior de São Paulo. Juntos, eles somam 2.454 leitos de UTI e 4.157 leitos clínicos.

Para o médico Francisco Balestrin, presidente do SindHosp, a queda de internações tem relação direta com o avanço da vacinação contra a Covid-19.

“Não tenho dúvida de que isso tudo é feito do processo massivo de vacinação no País. O brasileiro, ao contrário de outros povos, têm uma cultura vacinal. Temos esse hábito desde a década de 70, quando iniciamos a imunização da meningite. As pessoas já viram o quanto isso é fundamental, embora às vezes ainda tenhamos sinais trocados em relação a isso por parte das autoridades”, afirma.

Com a vacinação fixada como fator principal da queda, há um segundo fator — muito mais restrito, diga-se — que ajudou a reduzir as médias de hospitalização. Trata-se da alta prevalência da variante Gama, surgida em Manaus, que elevou os indicadores de casos e mortes no Brasil ao longo do primeiro semestre do ano, deixando um número de pessoas menos suscetíveis às infecções. Embora, é importante ressaltar, já se saiba que a proteção da vacina é mais potente e duradoura do que a conquistada por meio da infecção natural.

“O que trouxe impacto para a redução das internações foi vacinar acima de 92% dos maiores de 18 anos com primeira dose em todo o Brasil. Não há, por exemplo, uma sazonalidade marcante para esse vírus”, diz o médico infectologista Julio Croda, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

O mesmo alento no índice de internações também pode ser percebido nas taxas de ocupação dos leitos. De acordo com levantamento da Fiocruz, divulgado na última sexta, 24 Estados têm níveis de ocupação de UTI consideradas fora da área de alerta, ou seja: abaixo dos 60%. Relatórios anteriores mostravam que, em março, 25 Estados e o DF tinham taxa acima de 80%, no maior colapso sanitário da história do Brasil.

Não vacinados

Outra maneira de observar o impacto da vacinação é avaliar a carteirinha de imunização dos novos internados que chegam aos hospitais. Em 30 de setembro, no Hospital Ronaldo Gazolla, no Rio, referência no tratamento de Covid-19, das 218 pessoas internadas na instituição, 206 — ou seja, 94% do total — não tinham tomado nenhuma dose de imunizante, por exemplo.

Em São Paulo, um levantamento no Instituto de Infectologia Emílio Ribas realizado entre janeiro e setembro mostrou que quase 9 em cada 10 pessoas internadas por SRAG relacionadas ao coronavírus não tinham se vacinado contra a Covid-19.

Especialistas defendem, contudo, que se olhe para parte dos leitos instalados ao longo da pandemia — para dar conta do volume intenso de pacientes — com a intenção de mantê-los prestando um serviço ao Sistema Único de Saúde (SUS) e desafogando algumas localidades.

“O SUS deu uma resposta para a pandemia nessa expansão nos leitos de terapia intensiva. É importante que essa oferta seja mantida como um legado”, afirma Alberto Chebabo, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia.

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