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Pensador francês da filosofia da natureza e da ecologia política, Bruno Latour morre aos 75 anos
O filósofo, antropólogo e sociólogo francês Bruno Latour, que morreu aos 75 anos (Joel Saget/AFP)
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09 de outubro de 2022
Com informações da Folhapress
SÃO PAULO | AFP – O antropólogo, filósofo e professor francês Bruno Latour morreu na noite de sábado, 8, para domingo, aos 75 anos. A informação foi confirmada ao jornal francês Le Monde por parentes e pela editora La Découverte.
Um dos mais importantes intelectuais franceses de sua geração, Latour foi um pensador da filosofia da natureza e da ecologia política.
O filósofo, antropólogo e sociólogo francês Bruno Latour que morreu aos 75 anos (Joel Saget/AFP)
Ele nasceu em 22 de junho de 1947 em uma família de comerciantes de vinho em Beaune, no centro-leste da França.
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Formou-se em filosofia e antropologia. Ele então, lecionou em escolas de engenharia na França, mas também no exterior, principalmente, na Alemanha e nos Estados Unidos, onde foi professor visitante em Harvard.
Foi um dos primeiros intelectuais a perceber a importância do pensamento ecológico. No entanto, foi reconhecido, acima de tudo, no mundo anglo-saxão e vários de seus trabalhos foram publicados pela primeira vez em inglês.
O conjunto de sua obra recebeu o Prêmio Holberg, em 2013, e o Prêmio Kyoto em 2021. Foi considerado “criativo, bem-humorado e imprevisível”, segundo o júri do Prêmio Holberg de Ciências Sociais.
O intelectual interessava-se, entre outros, por questões de gestão e organização de pesquisa e, em geral, pela forma como a sociedade produz valores e verdades.
Entre suas obras traduzidas para o português estão: “Onde Estou: Lições do Confinamento Para Uso dos Terrestres” (2021); “Jubilo ou os Tormentos do Discurso Religioso” (2020); “Políticas da Natureza: Como Associar as Ciências à Democracia” (2018).
Ele foi descrito pelo jornal New York Times, em 2018, como o “mais famoso e incompreendido dos filósofos franceses”.
Após o anúncio de sua morte, o presidente francês Emmanuel Macron fez um elogio no Twitter, definindo Latour como “um espírito humanista e plural, reconhecido em todo o mundo antes de ser reconhecido na França”.
O filósofo francês Bruno Latour posa para foto após receber o Prêmio Holberg, em 2013 (Tor Erik H. Mathiesen/AFP)
Em entrevista para a Folha, em 2020, ele afirmou que se o Brasil achar a solução para si, vai salvar o resto do mundo.
Na ocasião, ele conectou as múltiplas crises que vivemos com o dilema ambiental — que para ele não era mais uma crise, mas uma mutação — e defendeu que o negacionismo climático iniciado nos anos 1990 está na raiz do escapismo da realidade, fenômeno que teria levado às eleições de Donald Trump e de Jair Bolsonaro e que se refletiu na negação da pandemia.
Para ele, nenhum outro País enfrenta sobreposição de crises tão extremas quanto o Brasil, “onde está visível tudo aquilo que vai ser importante nas próximas décadas”.
Em 2021, ele disse à AFP que as mudanças climáticas e a crise da pandemia revelaram uma luta entre “classes geossociais”. “O capitalismo cavou sua própria sepultura. Agora, trata-se de repará-la”, disse ele.
Ele resumiu seu trabalho para o público em geral em algumas de suas obras e ampliou seu público com ensaios sobre política.
Num ensaio, defendeu a hipótese segundo a qual “há cinquenta anos não entendemos nada sobre posições políticas, se não dermos um lugar central à questão do clima e sua negação”.
“É como se grande parte das classes dominantes tivesse chegado à conclusão de que não haveria mais espaço na Terra para eles e para o resto de seus habitantes. Isso explicaria a explosão das desigualdades, o grau de desregulamentação, críticas à globalização e, sobretudo, o desejo desesperado de voltar às velhas proteções do Estado nacional”, segundo ele.
Ele também foi um dos idealizadores da teoria, nova na sociologia, do “ator-rede”, que leva em conta, para além dos humanos, objetos (ou “não-humanos”) e discursos, sendo estes também considerados “atores”.
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