Pesquisa aponta que 71% das crianças estão desmotivadas com volta às aulas após pandemia

Pesquisa foi feita pelo Datafolha com 1.018 pais de 1.518 estudantes da rede pública de todas as regiões do país. (Reprodução/Internet)

Da Revista Cenarium*

MANAUS – Em junho, Henrique Gomes, 16, começou a trabalhar como office boy em uma ótica e não conseguiu mais acompanhar as aulas online da escola em que estuda na rede estadual de São Paulo. Ele quer continuar estudando, mas precisa do dinheiro para ajudar a família.

Com a crise econômica provocada pela pandemia do novo coronavírus e a suspensão das aulas presenciais, 31% dos pais de alunos de escolas públicas do país temem que os filhos não continuem na escola. Além da necessidade de trabalhar, os responsáveis também apontam a falta de motivação como fator que pode levar ao abandono escolar.

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A pesquisa foi feita pelo Datafolha a pedido da Fundação Lemann e Itaú Social. Foram feitas 1.018 entrevistas com pais de 1.518 estudantes da rede pública de todas as regiões do país entre os dias 11 e 20 de junho. A margem de erro é de 3 pontos percentuais.

Entre os pais que relatam o temor do abandono escolar, 71% afirmam que os filhos estão desmotivados para estudar durante a suspensão das aulas presenciais e 44% afirmam que o relacionamento em casa piorou no período. Para 80% deles também há dificuldade em manter uma rotina de estudos com as atividades a distância.

Gomes conta que estava acompanhando diariamente as aulas, mas, com o trabalho, não tem mais tempo para fazer as atividades. Ele leva uma hora de transporte público para chegar à ótica e trabalha das 9h às 18h. “Chego em casa bem cansado e só quero descansar”.

Atividades

Ele diz que aos domingos, quando está de folga, faz algumas das atividades para não perder todo o conteúdo. Aluno do 2º ano do ensino médio na escola estadual Reverendo Jacques D’Avila, na zona sul da capital, ele já estudava no período noturno e quer terminar o ensino médio o quanto antes.

“Vou me esforçar para me formar, mas preciso trabalhar. Esse dinheiro ajuda lá em casa e é com ele que eu consigo comprar o que quero”.
Patrícia Guedes, gerente de Pesquisa do Itaú Social, avalia que o risco do aumento do abandono escolar no país é grande já que o distanciamento dos colégios com os alunos impede ações preventivas, que antes aconteciam com as aulas presenciais.

“O primeiro sinal de alerta para a evasão escolar é o aluno faltar às aulas. Isso acende um sinal amarelo para os professores, que procuram meios de conversar com o estudante, entender o problema. Agora, eles não sabem se o aluno não está fazendo as atividades porque perdeu o interesse, porque está trabalhando ou por não ter acesso”, diz.

PNAD

Dados da PNAD Contínua da Educação 2019 mostram que 20% dos 50 milhões de jovens de 14 a 29 anos no país estão fora da escola ainda que não tenham concluído a educação básica. A maioria afirma ter parado de estudar porque precisava trabalhar ou por falta de interesse.
Especialistas e gestores de educação temem que a pandemia intensifique a saída de alunos da educação básica.

“Ainda que as aulas remotas estejam chegando à maioria dos estudantes, eles estão se desmotivando pelo longo prazo que essa situação está se estendendo. Nas famílias há uma sensação de que este é um ano perdido para o ensino”, diz Daniel de Bonis, diretor de Políticas Educacionais da Fundação Lemann.

A pesquisa mostra que entre maio e junho aumentou o número de alunos que estão recebendo algum tipo de atividade não presencial durante a pandemia – subiu de 74% para 79%. Ainda assim, 47% dos pais afirmam não achar que os filhos estão preparados para concluir a série atual.
Para 73% dos pais deveria haver aulas aos sábados e 72% avalia que o ano letivo deveria ser prorrogado até 2021.

“Há um sentimento de desalento entre as famílias por achar que os filhos não estão aprendendo tanto quanto deveriam. O lado positivo, no entanto, é que elas estão preocupadas com a aprendizagem, querem que haja uma compensação por esse período de restrições”.

Amanda Muniz, 17, também começou a trabalhar durante a pandemia depois que a mãe, professora de educação infantil na rede particular, ficou desempregada. A jovem não conseguia acompanhar as aulas online por não ter internet e, com o tempo disponível, passou a fazer doces para vender no bairro em que mora, em São Luís, no Maranhão.

“Minha mãe perdeu o emprego e não conseguiu o auxílio emergencial. Até ela conseguir um novo emprego vou continuar fazendo as trufinhas de chocolate porque com elas a gente consegue entre R$ 40 e R$ 50 por mês, já ajuda bastante em casa”, conta.

Quando as aulas presenciais voltarem, ela quer conciliar o trabalho com os estudos. “Mas se não der, eu continuo no próximo ano. Se eu perder o ano tudo bem, porque quero recuperar o conteúdo que perdi agora”, diz a jovem, que está no 2º ano do ensino médio.

(*) Com informações da Folhapress

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