Pesquisa aponta que negros são mais abordados de forma violenta pela polícia

O levantamento também aponta as desigualdades que os negros enfrentam para entrar no mercado de trabalho e para ter acesso e oportunidades de estudo. - Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

Da Revista Cenarium*

O primeiro webinário Fórum Data Favela, com a organização da Central Única das Favelas (CUFA), do Instituto Locomotiva e da UNESCO no Brasil, apresentou na quarta-feira, 17, dados inéditos da pesquisa “As Faces do Racismo”.

O levantamento aponta as desigualdades que os negros enfrentam para entrar no mercado de trabalho e para ter acesso e oportunidades de estudo. Também revela que nove em cada dez brasileiros reconhecem que pessoas negras têm mais chance de serem abordados de forma violenta pela polícia. 

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A pesquisa pode ser acessada aqui.

Participaram desse encontro virtual a diretora e representante da UNESCO no Brasil, Marlova Noleto; o presidente do Instituto Locomotiva, Renato Meirelles; o fundador da CUFA, Celso Athayde; o presidente da CUFA Global, Preto Zezé; a presidente e fundadora da Feira Preta, Adriana Barbosa; a representante do Frente Favela Brasil, Anna Karla Pereira; e os atores Bruno Gagliasso e Hélio de la Peña.

Segundo a pesquisa apresentada, cerca de 76% dos entrevistados de cor negra afirmaram conhecer alguém que já sofreu preconceito ou algum tipo de discriminação dentro do ambiente de trabalho. O levantamento foi feito com 3.100 pessoas com idades entre 16 e 69 anos, de todos os estados do país, nos dias 4 e 5 de junho.

“É urgente promovermos esse debate, com dados concretos como os que nos traz o Instituto Locomotiva, que mostram a desigualdade e o racismo estrutural da sociedade brasileira. Precisamos investir em uma agenda de inclusão e da igualdade”, destacou Marlova Noleto, diretora e representante da UNESCO no Brasil.

“A educação e a cultura têm um papel transformador neste processo e podem contribuir para mudar significativamente a realidade. Precisamos fortalecer as políticas públicas de inclusão e combate ao racismo, inclusive com ações afirmativas. Temos o compromisso de construir uma sociedade inclusiva, onde ninguém seja deixado para trás.”

Diversidade

Dados da pesquisa mostram que 91% dos entrevistados entendem que uma pessoa branca tem mais chances de conseguir emprego que uma negra. A maioria dos entrevistados, cerca de 66%, diz ter chefes brancos e 46% da população reconhece ter pouca ou nenhuma diversidade em seu ambiente de trabalho. Ainda de acordo com o estudo, trabalhadores não negros ganham, em média, 76% a mais que os negros.

Ao apresentar a pesquisa, Renato Meirelles observou: “ganho mais do que um negro com 42 anos. Ganho muito mais do que uma mulher negra com 42 anos. Ganho mais porque na ‘corrida dos 100 metros’ eu queimei a largada. Isso significa que a cor da minha pele e o fato de ser homem, fez com que saísse na frente na luta do chamado ‘vencer na vida’. Isso reflete os dados apontados na pesquisa que escancaram a desigualdade racial no Brasil.”

Depoimentos

Para a presidente e fundadora da Feira Preta, Adriana Barbosa é preciso que o reconhecimento seja a partir do olhar do outro. “Me engajei no movimento negro e na cultura negra, através do audiovisual, então a busca pela representação negra começou a pautar minha vida. Vejo cada vez mais jovens negros, principalmente nos grandes centros urbanos, com uma maior autoestima em relação a sua cor de pele. Precisamos falar sobre o legado que essa juventude com consciência pode nos trazer. Como essa juventude vai reconstruir o nosso futuro”.

O ator Bruno Gagliasso, diz que pretende colaborar para ampliar o debate sobre as questões que envolvem o racismo. “Ao acompanhar os dados da pesquisa ‘As Faces do Racismo’, senti dor, raiva por notar que esses dados estão entre nós há muito tempo. Sinto que as pessoas ainda não acreditam nem notam o que continua acontecendo. Anseio por ações concretas contra o racismo. Quero ajudar nesse sentido. Hoje tenho dois filhos negros e em breve terei um filho branco. Quero propagar a todos os três que somos iguais”.

O ator Hélio de la Peña, também reforça que a educação é a melhor ação concreta para que as pessoas passem a entender o racismo. “Digo isso, porque minha mãe foi uma professora que me orientou a estudar e foi através da educação que conquistei aprendizado e tornei-me uma exceção no contexto do racismo. Mas, reforço que não precisamos pensar na exceção, mas sim no racismo como um todo”.

*Com informações da Agência ONU

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