Pesquisa da Ufam identifica potenciais para aquisição de energia solar em comunidades rurais
17 de julho de 2024

Da Cenarium*
MANAUS (AM) – Com uma abordagem inovadora e uma perspectiva voltada para o protagonismo das mulheres, a pesquisa intitulada “Potencialidades comunitárias para a aquisição de energia solar no âmbito das práticas sociais das mulheres da floresta: diagnóstico e inventário em cinco comunidades rurais do Amazonas”, coordenada pela professora Iraildes Caldas, líder do Grupo de Estudo, Pesquisa e Observatório Social: Gênero, Política e Poder (Gepos) da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), fez um inventário científico sobre as potencialidades dos moradores das comunidades Santa Rita de Cássia, São Paulo da Valéria, Samaria, Brasileia e São José do Paricá, sendo as três primeiras localizadas na zona rural de Parintins e as duas últimas na zona rural de Maués, ambas no Amazonas, para atuarem com a energia solar de base comunitária.
O estudo considera as mulheres como os sujeitos centrais na organização dessas comunidades, podendo criar uma tecnologia social (uma associação) para monitorar empreendimentos de energia solar. O Projeto de Pesquisa, desenvolvido no período de 2022 a 2024, foi financiado pelo Edital 010/2021/CT&I – Áreas Prioritárias da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), sob o Termo de Outorga 014/2022, e contou com a participação de dez pesquisadores e pesquisadoras da Ufam, Universidade do Estado do Amazonas (UEA/Parintins) e Instituto Federal do Amazonas (Ifam/Parintins e Maués). O objetivo foi verificar em que sentido as mulheres da floresta podem contribuir com o processo de iluminação, por meio da energia solar, no âmbito de suas práticas sociais de organização dos moradores, a partir do associativismo e de suas aptidões para operar com empreendimentos solidários e autogestionários.

Demandas, desafios e oportunidades
Segundo a coordenadora do projeto, professora Iraildes Caldas, a investigação possibilitou uma compreensão mais abrangente das demandas, dos desafios e das oportunidades das comunidades rurais, além de reconhecer o papel central das mulheres nas dinâmicas sociais e econômicas dessas localidades.
“Os resultados são múltiplos: formação da consciência política de mulheres e homens, formação em novas metodologias das tecnologias sociais, em metodologias de gênero; discussão em torno do empoderamento das mulheres; formação no âmbito do tema da liderança comunitária. São grandes contribuições científicas para a temática de gênero, que estudo há mais de 30 anos”, afirma.

A professora falou, também, sobre os impactos educacionais no âmbito da formação de consciência, elevação da autoestima das mulheres como impacto social, somado aos impactos econômicos, culturais e ambientais, já que elas têm na natureza o seu ponto de mutação e referência.
“Um ecofeminismo que luta pela manutenção da floresta, pelo uso de alimento orgânico com uso de sementes crioulas; e ainda, mulheres que estão na organização de suas comunidades como sujeitos centrais, estão na cooperativa, em grupos de mulheres e agora na energia solar. São impactos imensuráveis para a educação, estocagem de alimentos para a venda, melhora geral da saúde, melhora na saúde da mulher, diminuição da poluição, do desmatamento da floresta, entre outros”, explica a docente.

Os critérios de escolha das cinco comunidades foram implementados em dois níveis: 1) tamanho das comunidades (pequena, média e grande); 2) liderança em energia solar. São José do Paricá e Brasiléia, localizada na zona rural de Maués, foram referências para a pesquisa porque têm energia solar de modo pontual.
Relevância social
Ao explorar as potencialidades comunitárias para a adoção de energia solar, especialmente sob a perspectiva das mulheres da floresta, a investigação aponta para que se construa sistemas descentralizados de energias renováveis no Amazonas, com sistema de inclusão social no qual as mulheres indígenas, quilombolas e os pivôs tradicionais de modo geral, sejam incluídos como público-alvo dessa política pública.
“A pesquisa contribui para com o desenvolvimento regional com um tipo de inovação capaz de transferir tecnologias para outras comunidades. A inserção de mulheres é extremamente original no tema da energia solar que, sempre, essa discussão esteve associada aos homens”, lembra a coordenadora da pesquisa.
Para a professora, a pesquisa aponta que as mulheres são os sujeitos que estão diretamente associadas à energia solar, pois exercem funções ligadas a essa demanda como serviços domésticos, ajudam as crianças nas tarefas escolares e estudam à noite. Além de comercializar seus produtos agrícolas como polpas de frutas, alimentos orgânicos para a venda na feira de Maués, com maior segurança. “A energia solar alavancará a economia feminista”, destaca.
Mulheres na Ciência
A professora Iraildes Caldas finaliza lembrando que essa investigação atua em consonância com a chamada da Unesco ( 2009) para que os países estimulem as mulheres na Ciência, promovendo igualdade de gênero em várias frentes das práticas de trabalho e de políticas públicas. “A Fapeam começou a disponibilizar editais para as mulheres na Ciência. Esse edital de CI & T/Áreas Prioritárias-Fapeam contemplou apenas esse Projeto da área de Ciências Humanas. Trata-se de um projeto pioneiro”, enfatiza.
O estudo assume envergadura científico-social no que diz respeito à inclusão de mulheres na política de Ciência e Tecnologia, um aspecto inovador no âmbito das relações de gênero, ao mesmo tempo em que possui significativa importância para o desenvolvimento local e regional.