Pesquisa Datafolha aponta que esquerda predomina entre mulheres e pretos; direita concentra homens e ricos

Grupos historicamente desfavorecidos endossam com mais vigor posições de esquerda na área econômica do que em comportamento (Rubens Cavallari/FolhaPress)
Com informações da FolhaPress

SÃO PAULO – O pensamento de esquerda é mais forte entre mulheres, jovens de 16 a 24 anos, quem tem renda familiar de até cinco salários mínimos e pretos, enquanto a direita se concentra em homens, faixa etária acima dos 60 anos, pessoas com renda acima de dez salários e brancos.

É o que revela a avaliação socioeconômica da pesquisa Datafolha sobre o perfil ideológico dos brasileiros. O levantamento mostrou, a partir de respostas dos entrevistados sobre temas controversos de comportamento e economia, que 49% da população se identifica com ideias de esquerda.

A observação dos resultados dentro de cada subgrupo da pesquisa aponta números maiores de alinhamento com a esquerda em camadas, historicamente, menos privilegiadas sob critérios como gênero, renda e raça. O inverso também ocorre.

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Uma situação que destoa dessa relação diz respeito à escolaridade. Embora a esquerda seja predominante nas duas pontas, o percentual é maior entre os que têm nível superior (55%) do que entre os que estudaram menos e só possuem o ensino fundamental (42%).

Na pesquisa, o Datafolha fez perguntas nos campos de costumes e de economia a 2.556 pessoas acima dos 16 anos, em 181 cidades de todo o País, nos últimos dias 25 e 26.

A categorização teve como base a pontuação atingida pelo entrevistado em temas que vão de drogas e homossexualidade à legislação trabalhista e papel do Estado no crescimento nacional.

O percentual de 49% da população à esquerda é superior ao de 41%, em 2017, ano da rodada anterior do mapeamento. É também o maior índice desde que a sondagem começou a ser feita, em 2013. A direita, por sua vez, tem o menor patamar histórico, 34% (ante 40%). O centro passou de 20% para 17% agora.

Na distribuição por gênero, a esquerda norteia a visão de mundo de 55% das mulheres, ante 42% da dos homens. Já a direita é, essencialmente, masculina: 41% deles trafegam nessa via, ante 27% delas.

O recorte etário dentro do qual a esquerda atinge sua maior taxa é o de jovens entre 16 e 24 anos: 67%. A adesão a esse ideário cai conforme aumenta a idade. Com a direita ocorre o contrário — quanto mais vivido o entrevistado, mais destro, ideologicamente, ele tende a ser.

Movimento parecido se dá em relação à renda com os mais pobres sendo mais afinados com a esquerda. No grupo cuja família ganha até cinco salários, 50% estão situados nesse segmento ideológico. Na parcela com renda acima de dez salários, é a identificação com a direita que alcança 50%.

O percentual da esquerda também é, numericamente, mais elevado entre pretos (53%), seguidos por pardos (50%) e brancos (47%). No espectro da direita, a distribuição é mais equitativa de acordo com a cor autodeclarada, com tendência de mais brancos (38%). Pretos são 30% e pardos 32%.

A pesquisa mostrou que, no conjunto total de entrevistados, as posições de esquerda são, hoje, mais preponderantes em economia (com adesão de 50%) do que em comportamento (42%).

Na seara econômica, 54% das mulheres se posicionam à esquerda, ao passo que, na arena de valores, o índice recua para 46%. Entre jovens de 16 a 24 anos, os índices são de, respectivamente, 62% e 55%.

A maioria da população feminina (78%) concorda, por exemplo, com a afirmação de que o governo deve ser o maior responsável por investir no País e fazer a economia crescer, em contraposição a uma parte de 17% que acha que esse papel cabe às empresas.

Um indicativo do endosso dos jovens de 16 a 24 anos a ideias de esquerda, no universo econômico, é o percentual de 69% que consideram que o governo tem a obrigação de ajudar grandes empresas que corram o risco de ir à falência, ante 26% para os quais o governo não deveria ter essa obrigação.

Na pauta de comportamento, as convicções de direita se manifestam com vigor, por exemplo, na fatia de 90% de pessoas acima dos 60 anos que pensam que acreditar em Deus torna as pessoas melhores. Já um grupo de 10% dos mais velhos não vê conexão entre uma coisa e outra.

Também chama a atenção a taxa de 71% dos entrevistados com renda superior a dez salários que adota o princípio de que, quanto menos depender do governo, melhor estará sua vida. Dentro desse estrato de endinheirados, uma minoria de 25% acha que a vida melhora com mais benefícios do governo.

Questionário

Em parte dos debates que compõem o questionário, porém, as variáveis socioeconômicas dos entrevistados apresentam pouca ou nenhuma influência.

A crença de que adolescentes que cometem crimes (juridicamente, atos infracionais) devem ser punidos como adultos é semelhante entre pretos (65%), pardos (68%) e brancos (63%). A avaliação de que devem ser reeducados é compartilhada, respectivamente, por 35%, 31% e 36%.

Na parcela que possui apenas o ensino fundamental, coexistem pensamentos como o de que é preferível pagar menos impostos ao governo e contratar serviços particulares de educação e saúde, apoiado por 49%, e o de que as leis trabalhistas protegem os trabalhadores e devem ser ampliadas (54%).

Pela definição do Datafolha, a primeira formulação é tida como de direita e a segunda de esquerda.

Levantamento

Contratado pela Folha, o levantamento está registrado no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) sob o número BR-05166/2022 e possui margem de erro geral de 2 pontos percentuais, para mais ou para menos.

Nos recortes, as margens de erro são maiores. Elas podem variar, por causa do tamanho das amostras, entre 3 (caso das comparações entre gêneros) e 11 pontos (nos dados isolados da faixa acima de dez salários). O instituto diz que isso não prejudica a compreensão de tendências.

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