Pesquisador do Pará disputa prêmio Jabuti Acadêmico 2024 com obra sobre narcotráfico na Amazônia
29 de julho de 2024

Fabyo Cruz – Da Cenarium
BELÉM (PA) – O professor paraense de origem quilombola Aiala Colares concorre ao prêmio Jabuti Acadêmico 2024 com o livro “Geopolítica do narcotráfico na Amazônia”, na categoria “Geografia de Geociências”. Para Aiala, que é educador na Universidade do Estado do Pará (Uepa) e militante do Movimento Negro, chegar à final da premiação é representar a região amazônica, tantas vezes invisibilizada, no principal evento literário do Brasil. Os ganhadores serão conhecidos no dia 6 de agosto, em São Paulo.
“Acredito que o maior simbolismo de participar dessa premiação e ter chegado à final é o fato de eu representar o pesquisador da Amazônia. A região amazônica é uma região vista como uma periferia do desenvolvimento, e nós sabemos o quanto é difícil fazer pesquisas na região, em relação aos investimentos que quase sempre ficam concentrados nas regiões Sul e Sudeste do Brasil. Portanto, ir à final representa muito para o pesquisador da Amazônia, principalmente um pesquisador negro de origem de quilombola e de uma região que está distante dos centros de debate político e científico do País”, afirmou o educador.
Colares conta que a obra “Geopolítica do narcotráfico na Amazônia” é resultado de estudos que já haviam sido desenvolvidos há mais de 20 anos. O pesquisador diz que o objeto de investigação começou ainda durante a graduação dele, passando pela dissertação de mestrado, tese de doutorado e relatório de pós-doutorado.

“Em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, nós construímos um projeto intitulado ‘Cartografias da Violência na Região Amazônica’, onde estamos na quarta edição do projeto. Então, a partir do relatório de cerca de dois anos atrás, usei uma parte dele e o aprimorei com debates científicos que já vinham sendo desenvolvidos na universidade em forma de artigos. Com isso, resolvi elaborar o livro, porque eu sentia necessidade de ter um livro especificamente para tratar desse tema na região amazônica”, explicou o pesquisador.
Vida e pesquisa
Aiala Colares diz que sua vivência influenciou não só a produção do livro “Geopolítica do narcotráfico na Amazônia”, como também outros trabalhos já publicados em forma de artigos, além de obras organizadas e publicadas, que não tiveram a mesma repercussão.
“Vim do quilombo chamado Menino Jesus de Pitimandeua, que fica no município de Inhangapi, na região do nordeste paraense, e migrei para a periferia de Belém, no bairro chamado de Terra Firme, que aqui nós chamamos de ‘área de baixada’, que é um local que tem relação direta com a migração de populações quilombolas, tanto do Pará quanto do estado do Maranhão, que o fundaram”, contou o educador.

Ele recorda que conviveu com um contexto de violência, viu de perto jovens adolescentes, amigos da escola, do bairro e da rua onde morava, se perderem para o mundo da violência e da criminalidade. “Muitos deles se envolveram com atividades ligadas, como o tráfico de drogas, e perderam a vida muito cedo”, conta.
“Foi por isso que tive essa motivação pessoal de tentar entender quais fatores levaram essa juventude para compor uma rede social do crime. E foi isso que busquei entender quando eu iniciei esse projeto de pesquisa, que hoje culminou com um projeto mais amplo, tentando compreender não só o meu bairro, a minha cidade, a Região Metropolitana de Belém, mas também a região amazônica”, finalizou.