Pesquisadores do AM desenvolvem técnica que transforma ‘lodo’ em biocombustível

Os pesquisadores apresentam solução para se produzir energia limpa a partir da reciclagem e o uso de produto que é desperdiçado na natureza (Reprodução/Divulgação)

Mencius Melo – Da Revista Cenarium

MANAUS – Os pesquisadores Flavio Freitas e Edson Silva, do Centro de Biotecnologia da Amazônia (CBA), localizado em Manaus (AM), desenvolveram uma técnica que consiste em usar o rejeito de tratamento de água conhecido como ‘lodo’, para junto ao óleo e ao álcool gerar um novo biocombustível.

A mistura energética foi criada nos laboratórios do CBA, como resultado de uma força tarefa cientifica que se uniu para desenvolver novas alternativas no campo dos biocombustíveis. Dentre os participantes estão Flávio Freitas, pós-doutor em Química, o biólogo Edson Silva, pós-doutor em Ciências de Alimentos.

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Um espécie de lama oriunda do tratamento da água nas estações de abastecimento, o lodo resulta em um excelente componente biocombustível (Reprodução/Divulgação)

Além dos técnicos do CBA, participaram também pesquisadores do Instituto Federal de Educação Tecnológica (Ifam), Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e Edith Cowan University cujo participante é Stefan Iglauer da Austrália. Juntos eles desenvolveram a ideia de reciclar e usar o lodo.

Tempo de pesquisa

De acordo com o Flávio Freitas, a pesquisa teve início em agosto de 2019, em parceria com o mestre Wanison Pessoa Jr., técnico do Ifam Distrito. “Ele já vinha trabalhando com o lodo e sugeri que poderíamos modificar o lodo para obter um catalisador eficiente e de baixo custo”, recordou.

O passo seguinte, continuou Flávio, foi levar a ideia para a estrutura do CBA. “Desenvolvemos o catalisador e fizemos as reações no laboratório do Centro de Biotecnologia da Amazônia, onde comprovamos a viabilidade de aplicação e a sua eficiência na síntese de biodiesel”, detalhou Freitas.

Para o cientista, a proposta tem amparo na realidade. “A produção de biodiesel, um combustível renovável obtido a partir da reação entre álcoois e óleos ou gorduras, vem aumentando cada vez mais em diversos países com o intuito de diminuir a dependência dos combustíveis fósseis”, ponderou.

Usina

Questionado sobre a aplicabilidade da ideia e se possível uma usina, ele respondeu. “As estações de tratamento de água de Manaus produzem aproximadamente duas toneladas de lodo por dia. Se esse material não for descartado de forma correta, pode gerar diversos danos ambientais”, considerou o pesquisador.

Segundo os pesquisadores do CBA, o caroço do tucumã, fruta muito popular no Amazonas, pode servir como alternativa de composição para o biocombustível (Reprodução/Internet)

“A criação de uma usina utilizando catalisadores heterogêneos e de poder regenerativo seria uma ótima opção para valorizar esse rejeito transformado em lixo e ainda iria de encontro ao novo marco legal de saneamento básico. Todavia, é uma grande quantidade para ser absorvida pelo mercado”, acrescentou.

Flavio ainda apresentou outra viabilidade. “Diversas empresas que possuem estações de tratamento de água ou esgoto podem se beneficiar dessa tecnologia, visto que hoje elas pagam para transportar o lodo, sendo que poderiam repassar ou vender esse lodo, dando uma nova aplicação a um material rico e sílica e alumina”, sugeriu.

Utilidade

Para completar, o membro do CBA apontou outras direções para o uso do material. “O biodiesel produzido por essa tecnologia também poderia ser utilizado na frota de ônibus de Manaus, reduzindo a poluição, bem como em geradores para comunidades ribeirinhas que ainda necessitam de luz”, acrescentou.

Freitas chamou atenção para o lodo. “O intuito das aplicações do rejeito é minimizar os impactos ambientais, como o aumento de metais pesados na água e no solo e outras consequências que podem alterar a biota local, além de representar risco à saúde devido à presença de agentes patogênicos e metais pesados”, alertou.

Para finalizar, Flávio ponderou sobre o uso dos produtos amazônicos. “O biodiesel, no Brasil, normalmente é do óleo de soja. Nós temos o foco em insumos amazônicos. A ideia é testar diferentes óleos amazônicos, com preferência para os de produção perene, e criar uma logística para utilizar esses óleos em larga escala”, finalizou.

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