Pesquisadores do Norte desenvolvem UTI portátil de baixo custo para a saúde pública no Brasil

Mencius Melo – Da Revista Cenarium

MANAUS – Pesquisadores da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), em parceria com o Instituto de Tecnologia e Educação Galileo da Amazônia (Itegam), desenvolveram um sistema, compacto, portátil e inteligente, que visa aumentar a eficiência e reduzir os custos dos atendimentos médicos de emergência em UTI.

A Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) portátil é uma inovação que atende a uma das maiores carências do sistema público de saúde brasileiro: salas de UTI. Carência essa que saltou aos olhos durante o período agudo da pandemia da Covid-19 no Brasil, onde sobraram doentes e faltaram leitos.

Segundo o pró-reitor de inovação tecnológica da Ufam, Profº Waltair Vieira Machado, o invento é prático. “Trata-se de um sistema de assistência emergencial à saúde que tem como objetivo geral oferecer solução de baixo custo que, em um único sistema, reúna os equipamentos e recursos mínimos de atendimento e monitoramento de uma UTI”, explicou.

“A inovação vem para suprir de forma rápida, eficiente e de baixo custo, situações emergenciais que envolvam aumentos expressivos na demanda por leitos de UTIs em locais de baixa ou total indisponibilidade de infraestrutura mínima necessária de atendimento emergencial à saúde”, detalhou.

Praticidade e parcerias

Por ser espaço de intensa atividade de luta pela vida, a UTI é vista como algo complexo, uma espécie de sala equipada de aparelhos e outros instrumentos medicinais. “É sistema inovador móvel empacotado em uma caixa de dimensões de fácil manuseio por um adulto, baú, mala de viagem, etc.”, simplificou o pro-reitor.

Waltair detalha ainda mais o modelo. “De baixo custo, a UTI portátil contém os equipamentos e recursos mínimos de uma UTI tais como: Monitor Cardíaco, Oxímetro de pulso, Eletrocardiógrafo, Monitor de pressão arterial, Capnógrafo, Câmara de Oxigenação, Ventilador Mecânico, Desfibrilador e Câmara de esterilização de utensílios e materiais de consumo reutilizáveis”, elencou.

Questionado sobre quais podem ser os parceiros no desenvolvimento e financiamento do invento, o cientista adiantou. “O Departamento Técnico da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) encarregado de analisar propostas no âmbito de P&D (Pesquisa e Desenvolvimento) já deu seu aval de aprovação à proposta que também foi encaminhada a alguns possíveis parceiros”, segredou.

“Os possíveis parceiros ainda não puderam dar posição definitiva, embora a tenham recebido com aparente expectativa positiva! Como esses processos decisórios são um tanto complexos, a prudência recomenda aguardar o posicionamento mais oportuno por parte desses possíveis e importantes parceiros”, ponderou Waltair.

Custo 60% menor

De acordo com Jandecy Leite, diretor-presidente do Itegam, instituição voltada a projetos tecnológicos na educação e indústrias de Manaus, a ideia tem impacto positivo no custo final. Porque, além de aumentar eficiência, a unificação dos aparelhos reduz custos por uma combinação de fatores, como a possibilidade de uma melhor logística de fornecedores.

Os pesquisadores estimam que o modelo portátil com inteligência artificial tenha custo em torno de R$ 80 mil a unidade, contra R$ 200 mil dos sistemas importados, sem esse diferencial de inovação. Sobre o projeto, Jandecy declarou. “O plano é o primeiro a expandir no Amazonas e depois no resto do País”, informou o executivo.

Primeiros protótipos

De acordo com Waltair, assim que entrarem na linha de produção, será decidido o destino, mas, por enquanto, tudo ainda é expectativa. “Estamos em fase de prototipagem para determinação de quais partes apresentam o melhor desempenho, relação custo/benefício, enfim, há ainda um bom trabalho a ser realizado antes do ‘cabeça de série’ e consequente produção do lote piloto e a disponibilização deles à sociedade!”, avaliou.

“Como o Hospital Universitário Getúlio Vargas (HUGV) é parte da Ufam, provavelmente as primeiras unidades estarão disponibilizadas a essa importante instituição de saúde do Amazonas. Mas tudo dependerá, naturalmente, da evolução da pandemia que esperamos, não tenha vida tão longa entre nós”, declarou.

Para concluir, Waltair chamou atenção para outro detalhe que faz da inovação, uma esperança para municípios carentes Brasil afora. “A proposta assegura que o custo dessa UTI ficará em cerca de um terço do preço atualmente de mercado de uma UTI convencional”, assegurou.

“Um dos pilares basilares da proposta é exatamente reduzir o custo de implantação de leitos de UTI, contribuindo para o aumento da cobertura deste tipo de leito em municípios do interior, primeiramente do Amazonas e, posteriormente, quem sabe, do Brasil”, finalizou.