Pessoas com síndrome de Down estão entre os órfãos da Covid-19

Dayse dedicou a vida à educação de Rodrigo. Ambos foram infectados pelo coronavírus (Reprodução/Arquivo Pessoal)

Michelle Portela – Da Revista Cenarium

BRASÍLIA – A pandemia por Covid-19 impactou de forma definitiva a comunidade formada por pessoas com síndrome de Down em Manaus. Além dos portadores do “cromossomo do amor” que morreram vítimas da doença, também há aqueles que perderam familiares e estão aprendendo a viver num mundo sem as suas principais referências. 

Dayse Silva morreu aos 68 anos vítima de Covid-19, deixando filhos e netos atônitos diante da velocidade com que tudo aconteceu. “Foi tudo muito rápido, digo, brusco. Toda vez que a gente fala sobre isso, eu me abalo, me emociono. A minha mãe sempre foi muito presente, uma mãe muito guerreira. E presente totalmente na vida do meu irmão”, disse a filha Michelle.

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O filho de Dayse é Rodrigo, de 35 anos, que sobreviveu à infecção por Covid-19. Ele ainda não voltou para a casa onde morava com a mãe desde que ela faleceu, há dois meses, porque os familiares temem que ele não suporte viver ali sem a companhia da mãe, com quem mantinha o laço mais forte da vida.

Michelle diz que a mãe sempre lutou pelos direitos do irmão, que procurava incluir Rodrigo a outros grupos de jovens. “Minha mãe se dedicou ao meu irmão desde o momento em que nasceu, viveu totalmente para ele. Levava ele para praticar esportes como: natação, corrida, judô, hipismo, até peça de teatro ela fez junto com ele. Tudo que ela podia fazer para ele interagir, ela fazia”.

Para Michelle, restou a promessa de seguir ajudando Rodrigo a viver. “Quando o médico disse que ela ia ficar internada, minha mãe quase não levantava da cadeira pensando no Rodrigo. Eu disse que ela não precisava se preocupar, porque eu ia cuidar dele, caso algo sério ocorresse”, explica.

E para Rodrigo, a certeza de que ele tem com quem contar. “Está sendo muito difícil para ele.  Nossa mãe era muito presente na vida dos filhos e netos. Tem momentos que meu irmão lembra, fica triste e precisamos conversar com ele”, diz. “Mas podemos contar com irmãs da mamãe que sempre foram presente na vida do meu irmão”, finaliza Michelle.

Conquista

A Revista Cenarium publicou, na última semana, reportagem sobre pessoas com síndrome de Down que morreram vítimas de Covid-19 viralizou nas redes sociais e foi compartilhada por dois deputados federais, que anunciaram medidas junto ao Ministério da Saúde para incluir pessoas desse grupo aos prioritários do Plano Nacional de Imunização (PNI).

O deputado federal Zé Ricardo, do PT do Amazonas, recorreu ao Ministério da Saúde para pedir a inclusão de pessoas com síndrome de Down aos grupos prioritários do PNI. Um dos personagens citados na matéria era José Valim, que perdeu o filho para o Covid-19 e faleceu posteriormente. Valim era assessor jurídico de Zé Ricardo.

Além do petista, o deputado federal Fausto Pinato (PP-SP) também compartilhou a matéria enfatizando que acabara de enviar um ofício ao Ministério da Saúde, já endereçado ao novo ministro Marcelo Queiroga, também solicitando a inclusão das pessoas com síndrome de Down nos grupos prioritários do PNI.

“Para estas pessoas, a vacina é mais que prioridade, é uma questão de sobrevivência”, destacou Fausto Pinato. O mesmo ofício foi encaminhado ao ex-ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, mas não houve resposta.

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