Petroleiras contribuem com apenas 1,4% dos projetos renováveis do planeta


Por: Fred Santana

20 de outubro de 2025
Petroleiras contribuem com apenas 1,4% dos projetos renováveis do planeta
A pesquisa analisou 250 companhias responsáveis por 88% da produção mundial de hidrocarbonetos e identificou que apenas 20% delas têm algum projeto de energia renovável em operação (André Ribeiro/Agência Petrobras)

MANAUS (AM) – A indústria de combustíveis fósseis está longe de cumprir a promessa de “liderar a transição energética”. Um estudo do Instituto de Ciência e Tecnologia Ambientais da Universidade Autônoma de Barcelona (ICTA-UAB), publicado na revista Nature Sustainability, revela que as maiores empresas de petróleo e gás do mundo respondem por apenas 1,42% dos projetos de energia renovável em escala global.

A pesquisa analisou 250 companhias responsáveis por 88% da produção mundial de hidrocarbonetos e identificou que apenas 20% delas têm algum projeto de energia renovável em operação. No caso da Petrobras, o cenário é ainda mais limitado: mesmo que a estatal conclua todas as usinas que anunciou, apenas 0,7% de sua produção de energia viria de fontes renováveis.

“As empresas de petróleo e gás simplesmente não estão investindo em renováveis como prometeram. Afirmar o contrário é puro greenwashing”, afirmou Kasandra O’Malia, gerente do Global Solar Power Tracker do Global Energy Monitor.

Pré-sal da Bacia de Santos (Divulgação/Petrobras)

No Brasil, empresas do setor fóssil possuem 2,82 GW de capacidade renovável, o equivalente a 1,3% da capacidade total de energia limpa instalada no país. “A Petrobras afirma que está investindo em energia renovável, mas ainda não construiu nenhuma usina renovável. Na prática, ela está investindo bilhões de dólares no desenvolvimento de novas reservas de combustíveis fósseis”, afirma Marcel Llavero-Pasquina, pesquisador do ICTA-UAB e autor principal do estudo.

Enquanto isso, as companhias continuam defendendo publicamente seu papel na redução das emissões. Segundo a Zero Carbon Analytics, entre as 100 maiores empresas, quase um quarto estabeleceu metas de redução de emissões até 2030, com compromisso médio de 43% apenas em suas operações diretas.

“Este estudo mostra que as empresas de combustíveis fósseis praticamente não fizeram nada para construir um futuro baseado em energia renovável. Seu histórico de atrasos e décadas de enganação deixam claro: as empresas fósseis são a maior causa da crise climática, e seu poder político é o maior obstáculo para resolvê-la”, afirmou Kelly Trout, diretora de pesquisa da Oil Change International.

Caminhos para descarbonizar

Diante desse cenário, duas novas pesquisas brasileiras propõem caminhos para descarbonizar a Petrobras. O primeiro estudo, “Questões-Chave e Alternativas para a Descarbonização do Portfólio de Investimentos da Petrobras”, elaborado por economistas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), defende que a empresa deve permanecer pública, financeiramente sólida e comprometida com a transição energética.

O relatório recomenda a diversificação do portfólio com biocombustíveis, hidrogênio verde, biogás, biometano e tecnologias de captura e armazenamento de carbono (CCS), além de ampliar investimentos em pesquisa e inovação.

O segundo,“A Petrobras de que Precisamos”, produzido pelas 30 organizações do Grupo de Trabalho em Energia do Observatório do Clima, argumenta que a estatal precisa alinhar seu planejamento estratégico ao Acordo de Paris e às metas de redução de emissões do Brasil.

O documento critica a atual estratégia da empresa, que destina US$ 77 bilhões a novos projetos de exploração e produção de petróleo e gás, enquanto apenas US$ 9,1 bilhões são reservados a energias de baixo carbono.

“A surpresa seria se os investimentos numa verdadeira transição fossem significativos. Isso mostra que não se pode dizer que elas estão se adequando às políticas fósseis do governo americano”, afirmou Shigueo Watanabe Jr., pesquisador do Instituto ClimaInfo e um dos autores do estudo.

Os pesquisadores do Observatório do Clima propõem que a Petrobras redirecione seus lucros para financiar inovação, eletrificação, biocombustíveis e hidrogênio de baixo carbono, priorizando uma transição energética justa e a reindustrialização verde do país.

Entre as medidas sugeridas estão a ampliação de investimentos em combustíveis sustentáveis de aviação (SAF), o congelamento da expansão em novas fronteiras exploratórias – como a Foz do Amazonas – e o foco em geração de energia limpa e infraestrutura de recarga elétrica.

Leia mais: Vazamento no Amapá pode espalhar petróleo por 132 quilômetros em três dias, diz estudo
Editado por Jadson Lima

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