Petróleo atinge maior cotação em 7 anos e deve subir mais em 2022.Veja o que isso significa

Petrobras vendeu a Refinaria Landulpho Alves (RLAM), localizada no Recôncavo Baiano, e mais sete unidades de refino, para fundo árabe por US$ 1,6 bi (Geraldo Kosinski / Agência O Globo)

Com informações do InfoGlobo

LONDRES — O preço do barril de petróleo atingiu, nesta terça-feira, 18, o preço mais alto em sete anos. Tensões geopolíticas, demanda robusta e sobrecarga logística aquecem a demanda e a cotação da commodity.

O preço do barril do tipo Brent, com contrato para março, terminou o dia cotado a US$ 87,51,  com alta de 1,2%. Foi um recorde desde 30 de outubro de 2014, quando atingiu US$ 86,74. Na véspera, havia fechado em alta de 0,5%, a US$ 86,48 o barril.

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Já o preço do barril do petróleo Texas (WTI), de referência nos Estados Unidos, fechou a terça-feira, 18, em US$ 85,43, com alta de 1,9%. Foi também a maior cotação desde outubro de 2014.

Traders estão pagando prêmios cada vez maiores por carregamentos de petróleo na Ásia enquanto se reduzem os temores de impacto da variante Ômicron do novo coronavírus sobre a demanda.

Ao mesmo tempo, houve uma série de interrupções na produção em diferentes regiões. Um ataque com drones a instalações petrolífieras nos Emirados Árabes na segunda-feira, 17, aumentou os riscos geopolíticos que influenciam o preço da matéria-prima para combustíveis.

Goldman Sachs prevê US$ 100 no 3º tri

No ano passado, o preço do petróleo Brent subi mais de 50% e o do WTI, mais de 55%, impulsionados pela retomada da demanda global com o fim das restrições sanitárias no começo do ano.

“A demanda continua aumentando e a capacidade ociosa continua caindo, então isso deve manter os preços sustentados este ano”, disse Giovanni Staunovo, analista do UBS Group AG, em Zurique.

O banco Goldman Sachs prevê que o Brent vai chegar a US$ 100 no terceiro trimestre do ano, o que significa aumento do preço dos combustíveis ao longo deste ano.

Pressão extra para a Petrobras

Para o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires, a tendência é que o preço da commodity continue alto tanto por fatores geopolíticos envolvendo importantes players nesse mercado quanto pelo cenário de demanda aquecida:

“Do ponto de vista econômico, você tem pressão no preço, porque o mundo deve voltar a crescer um pouco este ano, os estoques da Opep estão sendo reduzidos e você não tem nenhum país que possa entrar com uma oferta que estabilize preço.

Pires destaca que a cadeia do petróleo segue sofrendo os efeitos das paralisações impostas pela pandemia, que reduziram a produção de petróleo, diminuindo investimentos e quebrando a cadeia produtiva.

Gasolina deve continuar subindo no Brasil

No cenário interno, a tendência é que os preços dos combustíveis tenham novos aumentos por parte da Petrobras.

Isso porque, a companhia mantém a política de ajustar seus preços de acordo com os praticados no mercado internacional. O fato de o real estar desvalorizado ante o dólar aumenta ainda mais o preço ao consumidor, já que o petróleo é cotado em moeda americana.

Gasolina chega a R$ 7,89 o litro

Na semana passada, a estatal anunciou um novo aumento nos preços de venda de gasolina e diesel para as distribuidoras. Foi a primeira alta em 77 dias.

De acordo com dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP), já há gasolina vendida por R$ 7,89 nas bombas. Em janeiro do ano passado, o litro da gasolina custava em média no Brasil R$ 4,483. De lá para cá, a alta chega a 47,4%.

“Se a Petrobras continuar com a autonomia que ela tem hoje, você vai ter subidas de preços de gasolina, diesel e botijão, o que é inevitável. Além do petróleo estar caro, vamos continuar tendo um câmbio muito depreciado”, disse Pires, destacando que ainda há espaço para aumento em relação aos preços vistos no exterior.

Estados decidem encerrar congelamento de ICMS

Em meio ao cenário de aumento nos preços, os Estados decidiram, na semana passada, que vão descongelar o valor do ICMS que incide sobre combustíveis a partir de fevereiro.

O valor do ICMS cobrado sobre combustíveis foi congelado por 90 dias, prazo que se encerra no dia 31 de janeiro.

O congelamento foi decidido pelo Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz), em outubro do ano passado, com a justificativa de colaborar com a manutenção dos preços, em uma tentativa de segurar a inflação.

Após o anúncio dos Estados, o  presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), disse, em uma rede social, que o Senado deveria ser cobrado diante da nova alta do preço dos combustíveis.

Lira criticou o ritmo da tramitação de projeto que altera a cobrança do ICMS, aprovado pelos deputados em outubro do ano passado.

O texto em questão promove uma série de alterações na forma da cobrança do tributo estadual, que, hoje, é cobrado, considerando uma média de 15 dias dos preços nos postos.

A redação determina que as alíquotas sejam uniformizadas pelos estados e pelo Distrito Federal para cada produto (gasolina, diesel ou etanol). Além disso, haveria um trava para a oscilação de preços a longo prazo: alíquotas específicas do ICMS deveriam ser fixadas anualmente.

Ao longo do ano de 2021, a discussão sobre o peso do ICMS no preço dos combustíveis foi acirrada. O presidente Jair Bolsonaro e aliados costumavam atribuir a responsabilidade pela alta no preço da gasolina, diesel e etanol ao tributo cobrado pelos estados. “O ICMS é um fator que influencia no preço, mas não é o culpado do preço estar alto”, pondera Pires.

Goldman Sachs prevê Brent a US$ 100 no terceiro trimestre

O Goldman Sachs elevou suas previsões de Brent até 2022 e 2023 e previu o barril de petróleo a US$ 100 no terceiro trimestre deste ano.

Em relatório, o banco destaca que a alta deve continuar até o primeiro trimestre de 2023, quando o barril deverá registrar a máxima de US$ 105.

Ao término de 2022, a média estimada para o preço do petróleo pelo banco é de US$ 96 por barril, ante US$ 81 da estimativa anterior. Já para 2023, a média deverá ser US$ 105, ante os US$ 85 previstos anteriormente.

Segundo o banco, a queda de demanda registrada com a variante Ômicron tem sido bem menor que a ocorrida com outras já conhecidas, o que vem contribuindo para o aperto na oferta.

Mais inflação

O rali do petróleo representa um desafio para as nações consumidoras e os bancos centrais, que tentam evitar a inflação enquanto apoiam o crescimento global. Em particular, é uma dor de cabeça para o presidente americano Joe Biden, já que seus esforços para domar os preços da gasolina aproveitando os estoques de emergência — e persuadindo a Opep — não dão resultados.

O petróleo teve um início de ano quente com interrupções em produtores, incluindo a Líbia, aumentando a alta provocada pela forte demanda. Há sinais otimistas de todo o complexo petrolífero, do diesel ao combustível de aviação, que está subindo na Europa à medida que as viagens aéreas resistem ao impacto da nova variante Ômicron.

A Organização dos Países Exportadores de Petróleo deve divulgar seu relatório mensal nesta terça-feira, fornecendo seu retrato do mercado.

A força do mercado físico foi agravada pela tensão renovada no Golfo Pérsico, lar de cerca de 40% do petróleo marítimo do mundo.

Os combatentes houthis do Iêmen alegaram ter lançado um ataque de drone nos Emirados Árabes Unidos que causou uma explosão e um incêndio nos arredores da capital Abu Dhabi. O País é o terceiro maior produtor da Opep.

“O sentimento no mercado continua construtivo, e o ataque aos Emirados Árabes Unidos ofereceu apenas mais um impulso aos preços” , disse Warren Patterson, chefe de estratégia de commodities do ING Groep NV. Interrupções no fornecimento, juntamente com uma demanda firme, significam que o mercado de petróleo está mais apertado do que o esperado.

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