PF destrói mais de 200 dragas no Amazonas e garimpeiros protestam


21 de agosto de 2024
Dragas destruídas na operação da Polícia Federal (Divulgação/PF)
Dragas destruídas na operação da Polícia Federal (Divulgação/PF)

Gabriel Abreu – Da Cenarium

MANAUS (AM) – A Polícia Federal de Rondônia (PF/RO) deflagrou uma operação, nesta quarta-feira, 21, que mirou garimpeiros ilegais que atuam no município de Humaitá (AM), distante 696 quilômetros de Manaus. A instituição, que tem competência para atuar na região, destruiu mais de 200 dragas usadas por garimpeiros na extração ilegal de ouro no leito do Rio Madeira. Após a ação policial, um grupo de garimpeiros protestou na cidade.

Vídeos publicados em aplicativo de mensagens mostram que após os agentes federais finalizarem a operação de destruição das dragas, por volta de 14h30, os garimpeiros lançaram bombas e rojões na tentativa de destruir as lanchas utilizadas pelos órgãos. Os agentes reagiram com tiros de balas de borracha, fazendo com que os garimpeiros se dispersassem. Assista aos vídeos:

Durante a operação, também participaram agentes do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai). A operação foi batizada de Prensa, tem o objetivo de combater o garimpo ilegal e deve atuar por tempo indeterminado.

Outro vídeo que circula nas redes sociais mostra os garimpeiros em uma rua na sede do município de Humaitá (AM) soltando fogos de artifício e gritando palavras de baixo calão. Assista ao vídeo:

Degradação

Além de ser uma prática criminosa, a extração de minérios de leitos dos rios da Amazônia causa inúmeros danos ao ecossistema e, consequentemente, ao ser humano. Entre os impactos ambientais estão: a contaminação da água com metais pesados, a redução do oxigênio dissolvido nos ecossistemas aquáticos, o aumento da turbidez da água devido ao contato com produtos químicos, a variação da qualidade da água, dentre outros.

Na prática, as embarcações de garimpos ilegais remexem o fundo do rio. O solo é destruído com escavadeiras e jatos de água. A lama criada nesse processo é filtrada para ser recolhidos os minérios como o ouro. Para separar os sedimentos do ouro são adicionados mercúrio, cianeto e arsênio. O mercúrio forma um amálgama com o ouro e a lama contaminada com o resíduo é descartada no meio ambiente.

Fotos de dragas que foram destruídas pela PF (Divulgação)

O mercúrio, em contato com o ecossistema, afeta as águas, a fauna e a flora aquática, além da saúde do homem. Um dos estudos geológicos que comprovaram a presença natural do mercúrio na Amazônia, independentemente da atividade de garimpo, foi publicado em 2017 no American Journal of Environmental Sciences, em coautoria com Marcelo Oliveira, da Organização Não Governamental internacional (ONG) ‘World Wide Fund for Nature’.

O estudo mostrou a presença de mercúrio em 81% dos peixes coletados. As espécies estão entre as mais consumidas pela população da região do Parque Nacional Tumucumaque, no Amapá. O mercúrio detectado nas amostras superava os níveis permitidos pela Organização Mundial de Saúde, mais restrito do que o nível de tolerância definido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A contaminação foi atribuída ao uso de mercúrio na mineração de ouro em pequena escala na fronteira entre Brasil, Suriname e Guiana Francesa.

Problemas à Saúde

As ameaças causadas à saúde por conta do mercúrio é uma realidade. A Anvisa reforçou que o impacto da contaminação do meio ambiente por mercúrio está diretamente ligado aos riscos para a saúde humana provocados pela exposição à substância química. De acordo com o estudo Diagnóstico Preliminar sobre o Mercúrio, no Brasil, a exposição a 1,2 mg de mercúrio, por algumas horas, pode causar bronquite química e fibrose pulmonar em seguida (Sigeyuki et al., 2000).

Mercúrio utilizado no garimpo (Reprodução/Bram Ebus)

Ainda segundo o documento, o mercúrio pode causar problemas ao sistema nervoso central e à tireoide, caso a exposição ao material ocorra por períodos longos. Dentre as formas do elemento, existe o metil-Hg, que é a mais tóxica aos organismos superiores, em especial aos mamíferos. O metil-Hg se acumula no sistema nervoso central causando disfunção neural, paralisia e podendo levar à morte.

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Editado por Jadson Lima

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