PF: hacker recebeu Pix de pessoas ligadas à deputada Carla Zambelli
02 de agosto de 2023
Da Revista Cenarium*
BRASÍLIA – Dados de transações financeiras entregues à Polícia Federal por Walter Delgatti mostram que pessoas próximas à deputada Carla Zambelli (PL-SP) repassaram R$ 13,5 mil ao hacker, que invadiu os sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e inseriu documentos e alvarás de soltura falsos no Banco Nacional de Mandados de Prisão.
Delgatti e Zambelli são alvos de operação da PF deflagrada nesta quarta, 2. A parlamentar, uma das principais aliadas do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), é alvo de mandado de busca e apreensão. O hacker foi preso.
Os dois são suspeitos de atuarem em uma trama que mirava o ministro Alexandre de Moraes, do STF, e que resultou na invasão dos sistemas do CNJ e na inserção dos alvarás de soltura falsos.
A deputada Carla Zambelli nesta quarta-feira na Câmara após operação da PF – Gabriela Biló/Folhapress
Segundo Delgatti, que ficou conhecido pela invasão de celulares de autoridades no episódio que ficou conhecido como Vaza Jato, a invasão aos sistemas foi solicitada por Zambelli.
“Verifica-se que, do montante de R$ 13.500,00, a quantia de R$ 10.500,00 foi enviada por Renan Goulart, valendo-se de 3 transferências bancárias via PIX; e que o valor de R$ 3.000,00 foi enviado, numa única transferência bancária via PIX, por jean Vilela“, diz a PF.
Goulart, diz a PF, é servidor comissionado da Assembleia Legislativa de São Paulo, lotado no gabinete de Bruno Zambelli, irmão da deputada. Vilela, por sua vez, é secretário parlamentar no gabinete da própria Carla Zambelli.
Em seu depoimento à PF, Delgatti assumiu a invasão e disse que somente ele e a deputada participaram da trama que mirava Moraes.
“Que o declarante foi pago para ficar à disposição da Deputada, sendo que os pagamentos foram feitos em outubro/2022 [R$ 3.000,00 – três mil reais], pagos por um Assessor da Deputada, chamado ‘Jean’, por transferência bancária, em espécie, dinheiro levado por ‘Renan’, motorista da Deputada, e um PIX, em janeiro/2023, via PIX, tendo sido autorizado neste momento a acessar sua conta para fornecer os extratos“, disse ele no depoimento.
Polícia Federal faz busca em apreensão na casa da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) – Gabriela Biló /Folhapress
Delgatti falou à PF após ser alvo da primeira fase da apuração sobre a invasão aos sistemas, em 20 de junho.
Na ocasião, o investigado informou que o objetivo da invasão foi demonstrar as vulnerabilidades do sistema judiciário brasileiro, como forma de desacreditar o sistema eletrônico de votação, uma vez que não seria possível a “invasão” das urnas eletrônicas pela internet.
Ele também disse aos investigadores que teve um encontro com Jair Bolsonaro no qual o então presidente perguntou se ele conseguiria invadir o sistema das urnas eletrônicas.
“Isso não foi adiante, pois o acesso (ao código fonte) que foi dado pelo TSE foi apenas na sede do Tribunal, e o declarante não poderia ir até lá, sendo que tudo que foi colocado no Relatório das Forças Armadas foi com base em explicações do declarante“, afirmou.
O hacker foi preso em julho de 2019 pela PF na Operação Spoofing, que apurava a existência de uma quadrilha responsável por “crimes cibernéticos”. Segundo a corporação, ele liderou um ataque hacker contra autoridades e acessou trocas de mensagens dos procuradores da Lava Jato pelo Telegram.
O então chefe da força-tarefa da operação, Deltan Dallagnol, foi um dos hackeados. Assim, foram tornadas públicas mensagens dele com outros investigadores e também com o então juiz do caso, o ex-ministro da Justiça no governo Bolsonaro e hoje senador Sergio Moro (União-PR).
Delgatti admitiu à PF ter entrado nos celulares dos procuradores e repassado as mensagens ao site The Intercept Brasil, que revelou o caso posteriormente conhecido como Vaza Jato. Outros veículos participaram da divulgação das informações obtidas, entre os quais a Folha.
Os diálogos vazados indicaram atuação conjunta dos procuradores com Moro nos processos envolvendo Lula na operação. O material teve papel central nos julgamentos no STF que declararam a suspeição de Moro nas condenações contra o petista.
Este site usa cookies para que possamos oferecer a melhor experiência de usuário possível. As informações dos cookies são armazenadas em seu navegador e executam funções como reconhecê-lo quando você retorna ao nosso site e ajudar nossa equipe a entender quais seções do site você considera mais interessantes e úteis.
Cookies Estritamente Necessários
O cookie estritamente necessário deve estar ativado o tempo todo para que possamos salvar suas preferências de configuração de cookies.
Se você desativar este cookie, não poderemos salvar suas preferências. Isso significa que toda vez que você visitar este site, precisará habilitar ou desabilitar os cookies novamente.