PF inclui militar que atuava em Manaus em dois núcleos no ‘inquérito do golpe’


Por: Ana Cláudia Leocádio

27 de novembro de 2024
PF inclui militar que atuava em Manaus em dois núcleos no ‘inquérito do golpe’
O tenente-coronel Hélio Ferreira Lima (Composição de Paulo Dutra/CENARIUM)

BRASÍLIA (DF) – O relatório final da Polícia Federal (PF), que investiga a tentativa de golpe de Estado, cita seis vezes o tenente-coronel Hélio Ferreira Lima, oficial do Exército que comandou a 3ª Companhia de Forças Especiais de Manaus, entre dezembro de 2023 e fevereiro de 2024, colocando-o como integrante de dois núcleos da organização investigada. O documento de 884 páginas foi enviado, pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, à Procuradoria Geral da República (PGR), na tarde de terça-feira, 26, para os procedimentos cabíveis.

Dos 37 indiciados, 25 são militares das Forças Armadas, da ativa ou da reserva, sendo que cinco deles atuam ou já atuaram em estruturas no Amazonas. O documento final da PF não faz menção, no entanto, ao general de Brigada Combatente Nilton Diniz Rodrigues, que ocupou o cargo de comandante da 2ª Brigada de Infantaria de Selva, em São Gabriel da Cachoeira, e atualmente atua como chefe de Coordenação de Operações Logísticas Exército.

De acordo com a PF, Hélio Ferreira Lima atuou em dois núcleos: o “da desinformação e ataques ao sistema eleitoral“ e o “operacional de apoio às acões golpistas”.

Atos de 8 de janeiro em Brasília (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

No relatório, os investigadores narram que logo após o término do segundo turno das eleições presidenciais, “mesmo cientes da inexistência de fraudes nas eleições realizadas em 2022, o núcleo responsável em promover ações que pudessem desacreditar o processo eleitoral brasileiro, seguindo o planejamento da empreitada criminosa, começou a atuar de forma mais incisiva, utilizando a metodologia desenvolvida pela milícia digital para reverberar por multicanais a ideia de que as eleições presidenciais de 2022 foram fraudadas, estimulando seus seguidores a ‘resistirem’ na frente de quartéis e instalações das Forças Armadas, no intuito de criar o ambiente propício para o Golpe de Estado”.

Foi então que Hélio, junto com os colegas Sérgio Ricardo Cavaliere de Medeiros e Marcos Paulo Cavaliere, começaram a disseminar estudos sem qualquer comprovação, de que teriam sido identificados registros de votos após o término do horário de votação. Espalharam, ainda, informações “a existência de inconsistências no código-fonte das urnas eletrônicas que propiciaram fraudes nas eleições presidenciais”.

Segundo as investigações, Hélio e o ex-ajudante de Ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro trocavam mensagens tentando a todo custo obter dados, inclusive com uso de hackers, para colocar em descrédito as eleições presidenciais. Ele chegou a compartilhar com Cid, no dia 31 de outubro de 2022, um arquivo em formato PDF, segundo ele enviado por Cavaliere, em que um estudo em língua inglesa colocava em xeque o sistema brasileiro. A PF conseguiu localizar em pesquisa na internet um documento similar ao compartilhado entre os militares.

No dia 2 de novembro, Hélio Ferreira encaminha um novo arquivo em ‘PDF para Mauro Cid intitulado “Fraude nas Urnas 2022”, acompanhado de imagens. As mensagens trocadas insinuam inconsistências nos códigos-fontes das urnas eletrônicas utilizadas nas eleições de 2022, de acordo com o relatório.

Após várias trocas de mensagens com Mário Cid e o insucesso na busca de provas para comprovar a fraude nas eleições, diz o relatório, o ex-ajudante de Ordens reafirma a Hélio Ferreira que foram realizados os testes sugeridos pela pessoa citada por Hélio, mas “não foi pego nada”. “Logo em seguida, demonstrando sua resistência em aceitar o resultado das eleições e se referindo possivelmente ao então Presidente da República Jair Bolsonaro e às manifestações em frente às instalações militares, Ferreira Lima diz: O povo está onde ele pediu. Ele prometeu Cid”, dita o documento sem mais avançar sobre a participarção de Ferreira Lima.

Trama de assassinato

O tenente-coronel Hélio Ferreira Lima está preso preventivamente, desde o dia 19 deste mês, na “Operação Contragolpe”, que descobriu um plano para assassinar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice Geraldo Alckmin e o ministro do STF, Alexandre de Moraes, relator dos processos dos chamados atos antidemocráticos de 8 de janeiro.

Por conta disso, Ferreira Lima foi também inserido também pela PF como integrante do núcleo de atuação operacional de apoio às acões golpistas, cuja forma trabalhava na coordenação e interlocução com Mauro Cid, em reuniões de planejamento e execução de medidas no sentido de manter as manifestações em frente aos quartéis militares, incluindo a mobilização, logística e financiamento de militares das forças especiais em Brasília.

No relatório, a PF detalha que no dia 12 de novembro de 2022, houve uma reunião dos chamados “Kids Pretos”, oficiais das Forças Especiais do Exército, no apartamento funcional do general Braga Netto, que também é um kid preto. Além dele, estavam no encontro Mauro César Cid, o major do Exército Rafael Martins de Oliveira (que também está preso) e Hélio Ferreira. O objetivo era “apresentarem o planejamento das ações clandestinas com o objetivo de dar suporte às medidas necessárias para tentar impedir a posse do governo eleito e restringir o exercício do Poder Judiciário”.

“Após a aprovação do documento, iniciaram-se as ações clandestinas para implementação do planejamento operacional, além de condutas voltadas a orientar e financiar as manifestações que pregavam um Golpe Militar para manter o então presidente da República Jair Bolsonaro no poder, evidenciando a arregimentação de militares com formação em força especial para atuarem no cenário de interesse (manifestações)”, informa o relatório da PF.

A participação do tenente-coronel Hélio Ferreira é mais detalhada no inquérito da Operação Contragolpe, quando os investigadores encontraram em um pendrive, com o oficial e uma planilha que revelou detalhes com “informações acerca de um planejamento estratégico do Golpe de Estado” no Brasil.

O pendrive marca modelo DT101 G2 foi recolhido pelos policiais federais em fevereiro deste ano, durante buscas realizadas em endereços ligados ao militar no âmbito da Operação Tempus Veritatis. De acordo com a PF, o documento “trata-se de uma planilha com mais de duzentas linhas de preenchimento”. A peça, diz a investigação, aborda “fatores estratégicos de planejamento, quais sejam: fisiográfico, psicossocial, político, militar, econômico e produção”.

O militar do Exército Brasileiro foi exonerado do cargo após a Operação Tempus Veritatis, em portaria de 8 de fevereiro, que foi publicada no Diário Oficial da União (DOU) da edição do dia 14 daquele mês. O tenente-coronel tinha remuneração bruta até novembro de 2023 no valor de R$ 27 mil, conforme dados do Portal da Transparência. Já o salário atual do general Nilton Diniz Rodrigues é de R$ 24.073,62 mensais.

Leia mais: Bolsonaro, Valdemar, Cid e padre; veja quem são os indiciados pela PF
Editado por Adrisa De Góes

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