PIB do terceiro trimestre cai 0,1%, e País entra em recessão técnica

Recuperação do setor de serviços, que inclui hotéis, restaurantes e salões de beleza, não foi suficiente para alavancar o crescimento do país Foto: Luiza Moraes/ Agência O Globo

Com informações do Infoglobo

RIO — A recuperação do setor de serviços não foi suficiente para alavancar o crescimento do País no terceiro trimestre deste ano. O Produto Interno Bruto (PIB) registrou queda de 0,1% em comparação com o segundo trimestre, e sofreu com os impactos da inflação e da instabilidade fiscal, que prejudicaram a atividade econômica.

Os dados foram divulgados nesta quinta-feira pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e se referem ao conjunto de bens e serviços produzidos pelo País.

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Como foi o segundo trimestre seguido de queda na atividade econômica, o País entrou em recessão técnica.

Entre abril e junho, a economia brasileira já havia sofrido uma retração de 0,4%, informou o IBGE. Antes, a estimativa do instituto era de uma retração menor neste período, de 0,1%.

O resultado do PIB no terceiro trimestre veio ligeiramente abaixo das estimativas do mercado financeiro, que na média previa uma expansão de 0,1%.

PIB no patamar de 2019

Com ele, PIB está no patamar do fim de 2019 e início de 2020, período pré-pandemia. Porém, ainda está 3,4% abaixo do ponto mais alto da atividade econômica na série histórica, alcançado no primeiro trimestre de 2014.

Os serviços, que respondem por mais de 70% do PIB nacional, avançaram 1,1%. Mas a queda de 8% na agropecuária e o recuo de 9,8% nas exportações puxaram o desempenho da economia para baixo.

O recuo na agropecuária foi consequência do encerramento da safra de soja, que também acabou impactando as exportações. A coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis, explica que a colheita da soja, por ser muito mais concentrada nos dois primeiros trimestres, impacta no resultado.

“Como ela é a principal commodity brasileira, a produção agrícola tende a ser menor a partir do segundo semestre. Além disso, a agropecuária vem de uma base de comparação alta, já que foi a atividade que mais cresceu na pandemia e, para este ano, as perspectivas não foram tão positivas”, diz Palis.

Fatores climáticos também afetaram plantações como a do café.

Comércio avança

Já o crescimento dos serviços foi puxado por outras atividades (4,4%), que reúnem diversos serviços prestados às famílias.

“Com o avanço da vacinação contra Covid-19 e o consequente aumento da mobilidade e reabertura da economia, as famílias passaram a consumir menos bens e mais serviços.”, comenta Palis.

O comércio, um dos segmentos de serviços que tinha sido fortemente afetado pela pandemia, já havia registradoa forte alta no segundo trimestre. A base de comparação, portanto estava alta e ainda assim as famílias migraram parte do seu consumo para os serviços, explica a coordenadora do IBGE.

Indústria estacionada e consumo em alta

Já a indústria, que responde por cerca de 20% do PIB nacional, ficou estável (0,0%) no trimestre. Houve crescimento apenas na construção (3,9%). eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos (-1,1%), indústrias de transformação (-1,0%) e indústrias extrativas (-0,4%) tiveram queda.

“O encarecimento dos insumos e outros problemas na cadeia produtiva, além da crise energética, vêm afetando o setor industrial”, ressalta Palis.

Pela ótica da demanda, o consumo das famílias aumentou 0,9% na comparação com o trimestre anterior. No segundo trimestre, ele havia recuado 0,2%. O consumo do governo também cresceu (0,8%).

Já a Formação Bruta de Capital Fixo, ou seja os investimentos, teve variação negativa de 0,1% em relação ao trimestre imediatamente anterior.

Economia estagnada

A avaliação dos economistas é que a economia brasileira vem apresentando sinais de estagnação desde o segundo trimestre, quando a indústria caiu 0,2% e o consumo da famílias ficou estável. Na época, os investimentos recuaram 3,6%.

O boletim Focus, que reúne projeções de analistas de mercado, divulgado na última segunda-feira, mostra que as instituições financeiras consultadas pelo Banco Central reduziram a projeção para o crescimento da economia brasileira neste ano de 4,80% para 4,78%.

No acumulado do ano até setembro, o PIB avançou 5,7% contra igual período do ano passado, segundo o IBGE.

Isso porque, apesar de a reabertura econômica impulsionar a ampla retomada dos setores como serviços e comércio, o País convive com uma alta de preços consistente — com inflação em 12 meses em 10, 67% —, rápida subida dos juros e um desemprego ainda elevado. A conjuntura afeta o consumo das famílias, principal motor do PIB.

Além disso, analistas calculam que há uma elevada parcela de carregamento estatístico nas projeções, como é chamada a herança do último trimestre de um ano para o ano seguinte. Na prática, a economia brasileira crescerá sobre uma base deprimida do ano anterior, quando tombou 4,1%.

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