Mulheres amazônidas fazem história em suas áreas profissionais
Por: Ana Pastana
08 de março de 2025
Em áreas como a da cultura, da segurança pública e até das Forças Armadas, as mulheres puderam, pela primeira vez, registrar feitos históricos (Composição: Paulo Dutra/CENARIUM)
MANAUS (AM) – Apesar da desigualdade de gênero ainda ser uma realidade, as mulheres brasileiras têm comemorado conquistas e avanços na causa feminista. Com a garantia do direito à educação, à autonomia, independência e valorização, elas, especificamente as amazônidas, se tornaram pioneiras em áreas que, antes, concediam destaque apenas aos homens. Por isso, o 8 de março, data em que se celebra o Dia Internacional da Mulher, reflete essa evolução e o alcance de lugares que, antigamente, eram inimagináveis.
Em áreas como a da cultura, da segurança pública e até das Forças Armadas, as mulheres puderam, pela primeira vez, registrar feitos históricos. É o caso da indígena Thais Kokama, artista e ativista na luta dos povos originários. Ela é uma das criadoras do Cine Aldeia, a primeira sala de cinema indígena do País, inaugurada na aldeia Inhaã-Be, no Tarumã-Açu, região metropolitana de Manaus (AM).
À CENARIUM, Kokama contou que carrega consigo a voz de outras mulheres e que ser uma mulher indígena é viver na luta por mais visibilidade e respeito. Ela acrescentou, ainda, a importância da iniciativa que valoriza a cultura indígena a partir dos povos originários da região.
“Ser uma das responsáveis pela criação do primeiro cinema indígena do País é uma honra imensa. Mais do que um espaço de exibição de filmes, o Cine Aldeia representa um marco para a valorização da cultura e da narrativa indígena contada por nós. Carrego comigo não só a minha voz, mas a de tantas outras mulheres que vieram antes de mim e que seguem resistindo. Ser mulher e indígena nessa luta constante é um desafio diário. A luta é por visibilidade, respeito e pelo direito de existir com nossa identidade e cultura preservada”, disse.
Kokama afirmou também que, apesar das conquistas, ainda há pontos para serem revistos e questionados. A liderança indígena reafirma seu desejo para o futuro das mulheres amazônidas.
“Apesar das inúmeras conquistas, ainda há um longo caminho a percorrer para garantir direitos e oportunidades justas, tanto para os povos indígenas quanto para as mulheres no Brasil e na Amazônia. Que a nossa presença não seja mais questionada ou silenciada, mas reconhecida e respeitada em todos os espaços. Quero ver mais mulheres indígenas ocupando cargos de liderança e um País onde a violência de gênero não seja uma realidade cotidiana”, ressaltou.
A indígena Thais Kokama, criadora do Cine Aldeia (João Viana/Semcom)
Força policial
Na área da segurança pública, a escrivã da Polícia Civil de Roraima (PC-RR), Gislayne de Deus, ganhou destaque quando, após duas décadas, prendeu o assassino de seu pai durante uma operação policial, em setembro de 2024. O homem estava foragido desde 2016.
Gislayne afirmou à CENARIUM que uma das maiores forças de uma mulher é ser persistente, independentemente do tempo. Para ela, as mulheres lutam até o final para alcançar os seus objetivos. “Acredito que uma das maiores forças da mulher é ser persistente e focada em seus objetivos. Independentemente do tempo que possa levar, nós, muitas vezes, tiramos forças de onde não temos e vamos atrás de realizar nossos sonhos e projetos“, declarou.
A escrivã pontuou que ser policial não é uma tarefa fácil, pois é difícil conviver em um ambiente majoritariamente masculino, mas é preciso se reinventar e utilizar-se de características únicas para lidar com a misoginia do dia a dia.
“[Exercer a profissão] é desafiador e, ao mesmo tempo, muito gratificante. Desafiador porque, querendo ou não, é um ambiente muito masculino, e, em alguns momentos, é necessário mostrar que, para atuar nessa área, não basta força física, mas sim inteligência, estratégia e organização. É gratificante, pois, para atuarmos como policiais, vencemos muitas barreiras e conseguimos mostrar, por meio do nosso trabalho, que é possível sermos o que quisermos“, disse.
A escrivã Gislayne de Deus conseguiu prender o assassino do pai após duas décadas (Divulgação/PC-RR)
A primeira
Por sua vez, a amazonense e major aviadora Joyce de Souza Conceição assumiu o comando do Primeiro Esquadrão do Primeiro Grupo de Transporte (1º/1º GT) – Esquadrão Gordo – da Força Aérea Brasileira (FAB), sediado na Base Aérea do Galeão (BAGL), no Rio de Janeiro. Ela é a primeira mulher a comandar uma unidade da Força Aérea na história.
À CENARIUM, a major afirmou que carrega a força da mulher nortista e que ser a primeira mulher a assumir o comando de uma unidade aérea da FAB é resultado de muito trabalho e fruto de um caminho trilhado desde 1982, quando as primeiras mulheres ingressaram na área militar.
“Eu tenho muito orgulho de ser da Região Norte, de ser manauara. Para nós, amazonenses, essa força, essa resiliência, estão no DNA. O fato de ter crescido em Manaus, na periferia, me ensinou a valorizar realmente todas as vitórias, enfrentar da melhor maneira possível os desafios e aproveitar as oportunidades“, disse.
Joyce reforçou que esse pioneirismo abre portas para que mais mulheres possam alcançar lugares inéditos e de destaque. “Uma das coisas que me guiam e me inspiram é saber que esse pioneirismo pode abrir portas no futuro e que outras mulheres, me vendo em uma posição de destaque, podem acreditar realmente em suas capacidades e perseguir seus sonhos. Eu espero que, no futuro próximo, isso seja natural, que seja algo corriqueiro, que tenhamos outras mulheres comandando unidades aéreas“, declarou.
A major aviadora Joyce de Souza Conceição (Sgt Muller Marin/Força Aérea Brasileira)
A importância do pioneirismo
A professora e doutora Iraildes Caldas Torres, especialista em questões de gênero e coordenadora do Grupo de Estudo, Pesquisa e Observatório Social: Gênero, Política e Poder (Gepos), da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), explica que toda mulher que se destaca em qualquer âmbito desenvolve o poder de inspirar e levar consigo outras mulheres.
“Cada mulher que galga espaço no desenvolvimento social, destacando-se com algum feito, carrega consigo todas as mulheres em sua vitória, fazendo brilhar a categoria das mulheres. Essas mulheres contribuem para o empoderamento feminino à medida que elevam ou potencializam as ações das mulheres, dando voz, visibilizando suas capacidades e deixando claro que elas podem e são capazes”, afirmou.
Voltada para a Amazônia, a professora e doutora afirma que são poucas as mulheres amazônidas que conseguem chegar a um lugar de destaque.
“Nesse empoderamento das mulheres, inclui-se a Amazônia. Uma região considerada atrasada, injetada, uma região cuja população vive sob as agruras do preconceito. Essa imagem negativa contribui enormemente para que as mulheres não obtenham tanto êxito. São poucas as mulheres que se sobressaem, que brilham, e chegam a atos grandiosos do ponto de vista qualitativo e simbólico“, afirmou.
A professora doutora Iraildes Caldas Torres (Alan Geissler/CENARIUM)
Censo 2022
De acordo com dados do Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ao todo, a partir dos dados disponibilizados de cada um dos nove Estados que compõem a Amazônia Legal, a região amazônica tem cerca de 13,9 milhões de mulheres.
Além disso, 80% das mulheres da região amazônica, em média, têm acesso a educação. De acordo com os dados disponibilizados, o Estado do Mato Grosso tem 94,48% de mulheres com escolaridade. O Estado do Maranhão aparece com o menor número em comparação aos nove Estados da Amazônia Legal, com 86,83%.
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