Em vez de lucros, desmatamento no MT trará prejuízos ao agro, aponta nota técnica da UFMG

O estudo se concentra, especialmente, nas consequências climáticas da entrega de 16,9 milhões de hectares de vegetação nativa do MT ao desmatamento (Reprodução/Internet)

Yusseff Abrahim – Da Revista Cenarium

BRASÍLIA – Um prejuízo anual de US$ 2,7 bilhões por perda de produtividade. Esta é a projeção que o Centro de Sensoriamento Remoto da Universidade Federal de Minas Gerais (CSR/UFMG) faz ao agronegócio, a partir da nota técnica divulgada nessa quinta-feira, 17, sobre os efeitos do PL 337/2022, que retira o Estado do Mato Grosso da Amazônia Legal.

O estudo se concentra, especialmente, nas consequências climáticas da entrega de 16,9 milhões de hectares de vegetação nativa do MT ao desmatamento.

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“Nesse cenário, o agronegócio teria um prejuízo de US$ 2,7 bilhões anuais causados pela redução de produtividade por causa das alterações nos regimes de chuva e o crescimento das emissões de gases do efeito estufa na casa de 5 giga toneladas de CO2”, divulgou o órgão pelo perfil oficial no Twitter.

O impacto descrito pelos cientistas surge na contramão da expectativa do autor do PL, o deputado Juarez Costa (MDB/MT), que sustenta a importância da medida em uma matemática simples do aumento da área de produção.

Na prática, ao tirar o Estado do Mato Grosso da Amazônia Legal, os produtores rurais ficam desobrigados da preservação de 80% de sua propriedade, regulamentada pela Lei de Proteção da Vegetação Nativa (Lei n° 12.651/2012).

“Nós somos do Centro-Oeste e podemos chegar a 50% nas nossas áreas de plantio”, declarou o deputado.

Contudo, falta apenas combinar com o meio ambiente. No último mês de agosto, o Painel Intergovernamental de Mudanças do Clima da ONU (IPCC) mostrou que o cenário das mudanças indica períodos secos, cada vez mais prolongados, na Amazônia e no Nordeste brasileiro, bem como o aumento de chuvas fortes no Centro-Sul.

As perdas pelos desequilíbrios do clima já atingem o Centro-Oeste, região que o PL 337/2022 pretende beneficiar. No Sul, já são seis anos de perdas por seca, só nos últimos dez anos, segundo o pesquisador da Embrapa, Eduardo Assad, que destacou perdas de café e laranja, aborto de porcas, morte de pintos e, em 2019 e 2020, a inédita morte de bovinos na fronteira Brasil – Argentina em consequência das fortes ondas de calor.

Além de permitir o desmatamento dos 16,9 milhões de hectares de vegetação nativa, a aprovação do PL 337/2022 desobriga o reflorestamento de outros 3,3 milhões de hectares que hoje precisam ser recuperados, justamente o inverso da solução climática que, segundo o estudo da UFMG, tem apenas dois caminhos: preservação e reflorestamento.

O PL 337/2022 está em tramitação nas comissões temáticas da Câmara dos Deputados

Acompanhe a tramitação

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