PL decide transformar Eduardo Bolsonaro em ‘líder remoto’ para evitar cassação por faltas


Por: Ana Cláudia Leocádio

16 de setembro de 2025
PL decide transformar Eduardo Bolsonaro em ‘líder remoto’ para evitar cassação por faltas
O deputado federal Eduardo Bolsonaro está nos EUA (Elaine Menke/PL)

BRASÍLIA (DF) – O Partido Liberal (PL) inaugurou, nesta terça-feira, 16, a figura do “líder EAD” ou “líder remoto” ao oficializar a indicação do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) para a Liderança da Minoria na Câmara dos Deputados. A manobra foi adotada para blindar o parlamentar, que se mudou para os Estados Unidos, em março deste ano, e evitar que tenha as faltas registradas e o mandato cassado por causa de ausências injustificadas. O líder do PT, deputado Lindbergh Farias (RJ), anunciou que recorrerá até à Justiça contra a medida, se for necessário.

Em coletiva de imprensa, no Salão Verde da Câmara, a então líder da Minoria, deputada Carol de Toni (PL-SC), renunciou ao posto em favor de Eduardo e assumirá a vice-liderança, o que deixará para ela assumir as funções em plenário, por exemplo, onde os líderes têm papel de relevância para encaminhar as votações.

“Tomamos essa decisão convictos de que o Brasil precisa de união e de coragem, especialmente diante das perseguições políticas que tanto Eduardo, quanto seu pai, Jair Messias Bolsonaro, estão sofrendo”, afirmou a deputado após a renúncia.

Parlamentares da oposição realizaram coletiva de imprensa na Câmara dos Deputados (Ana Cláudia Leocádio/CENARIUM)

Questionada sobre como será a “liderança remota” do colega a deputada disse que, desde a pandemia de covid-19, existem recursos tecnológicos que favorecem a participação virtual do parlamentar nas reuniões e, quando não possível, os demais líderes podem assumir o papel.

Para justificar a manobra, o líder do PL na Câmara, deputado Sóstenes Cavalcante (RJ), apresentou como respaldo a ata de uma sessão plenária, realizada no dia 5 de março de 2015, presidia pelo então presidente da Casa Eduardo Cunha. Na ocasião, informou Sóstenes, Cunha atendeu ao pedido da terceira-secretária da Mesa, Mara Gabrili, para aceitar como “justificadas as ausências de registro no painel eletrônico, nas sessões deliberativas da Casa, somente os senhores membros da Mesa Diretora e dos Líderes de Partido”. Até então, isso era proibido e as faltas não justificadas eram registradas. “Desde lá, este ato da Mesa tem validade até o presente momento”, afirmou o líder.

“É valendo neste ato da Mesa, que a deputada Carol de Toni faz esse singelo gesto ao nosso guerreiro deputado Eduardo Bolsonaro, que é sabido de todos, está exilado nos Estados Unidos, para lutar contra injustiças contra sua família e contra muitos de nós que somos conservadores e da direita. Ademais da crítica de algumas pessoas, nós do PL reconhecemos o trabalho que o nosso deputado Eduardo Bolsonaro tem feito naquele país e, de lá, baseado na resolução da Mesa Diretora da Câmara, nós o nomeamos a partir de agora como o líder”, argumentou Sóstenes.

O deputado federal Sóstenes Cavalcante, líder do PL na Câmara (Reprodução/Câmara dos Deputados)

O líder da legenda do ex-presidente Jair Bolsonaro foi questionado como Eduardo Bolsonaro poderia ser beneficiado por uma decisão como essa, uma vez que está voluntariamente nos EUA, sem autorização da Câmara e nem em missão oficial. Conforme a explicação do parlamentar, como Eduardo assume a função de líder, não precisará justificar ausências estando fora do País. Para Sóstenes, o PL tem a prerrogativa de fazer a indicação e oficializar junto à Mesa Diretora da Câmara.

Desde que se mudou para os EUA, Eduardo Bolsonaro tem feito gestões junto ao governo de Donald Trump, que já resultaram em sanções econômicas ao Brasil, como o aumento para 50% da tarifa aos produtos exportados para o mercado estadunidense.

Além disso, o governo dos EUA também impôs sanções a alguns ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), com a revogação de vistos e a imposição de restrições bancárias pela Lei Magnitsky contra Alexandre de Moraes. O magistrado é relator da ação penal 2668, julgada na última quinta-feira, 11, e condenou Jair Bolsonaro a 27 anos e três meses de prisão, junto a outros sete réus, acusados de tentativa de golpe e mais quatro crimes.

O deputado federal Eduardo Bolsonaro, anunciado como líder da minoria (Reprodução/Câmara dos Deputados)

A referência ao termo EAD tem a ver com uma brincadeira nos corredores da Casa, em referência ao termo “Educação à Distância”, uma modalidade de ensino sem a presença física do aluno e professor no mesmo local.

Líder do PT reage

O líder do PT na Câmara, deputado Lindbergh Farias, após tomar conhecimento da manobra do PL para blindar Eduardo Bolsonaro, disse ao jornal “O Globo” que irá recorrer primeiro ao plenário sobre essa situação e até à Justiça para reverter esse ato do partido de Bolsonaro.

No dia 22 de maio, Lindbergh protocolou uma representação contra Eduardo na Procuradoria-Geral da República (PGR), acusando-o dos crimes de atentado à soberania nacional, abolição do Estado Democrático de Direito e coação no curso de processo. O pedido resultou na abertura de inquérito, hoje soba relatoria de Alexandre de Moraes, em que figuram também Jair Bolsonaro e o pastor Silas Malafaia.

O deputado Lindbergh Farias, líder do PT na Câmara dos Deputados (Reprodução/Câmara dos Deputados)

O deputado governista Ivan Valente (PSOL-SP) considerou um escárnio a manobra da oposição, que se soma à pressão pela anistia aos envolvidos no 8 de janeiro e à PEC da Blindagem. “Eles nomearam Eduardo Bolsonaro, fugitivo e foragido, conspirador, uma figura que ataca a soberania nacional, é contra o povo, ele virou americano. (…). O Hugo Motta acabou como presidente, se isso for aprovado. Para o Arthur Lira, que é o mentor dessa questão, o pano vai descer para ele”, argumentou o psolista.

Até o fechamento deste conteúdo, o presidente da Câmara, deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), não havia se manifestado sobre o documento apresentado pelo PL para alçar Eduardo Bolsonaro ao cargo de líder da Minoria.

O próximo passo da oposição será colocar em pauta, nessa quarta-feira, 17, a votação do Projeto de Lei que anistia os envolvidos nos ataques de 8 de janeiro de 2023, mas ainda não apresentaram um texto final, que atenda aos anseios de beneficiar também Bolsonaro. A pauta da anistia sequer tem relator indicado.

Leia mais: Silas Malafaia é alvo de operação da PF
Editado por Jadson Lima

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