Plantas medicinais da Amazônia são usadas por ribeirinhos contra a Covid-19 e outras doenças respiratórias

Uma das fundadoras da Assai, a professora, artesã Cecília Albuquerque, responsável pela criação da oficina de plantas medicinais (Divulgação/ Assai)

Luciana Bezerra — Da Revista Cenarium

MANAUS — A pandemia de Coronavírus fortaleceu o conhecimento das etnias indígenas sobre o uso de plantas medicinais da Amazônia, no tratamento de diversas doenças respiratórias.

Na comunidade de São Gabriel da Cachoeira (a 852 quilômetros de Manaus), uma das fundadoras, professora, artesã e empreendedora, Cecília Albuquerque, da Associação dos Artesãos Indígenas (Assai), segue na sua rotina as tradições típicas dos antepassados indígenas e, durante a pandemia de Coronavírus, tratou seus familiares que contraíram a Covid-19 com remédios caseiros à base de plantas medicinais da Amazônia. 

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Com base, nisso a professora, da etnia Piratapuya, aproveitou o período da pandemia, onde a agenda de viagens para feiras foi suspensa, para criar uma oficina sobre plantas medicinais, juntamente com outras artesãs e artesãos da Assai para trocar conhecimento usados há gerações.

A professora explicou para a REVISTA CENARIUM, neste sábado, 19, como acontecem as oficinas e as mulheres são as grandes responsáveis em cuidar, trocar informações e procurar saber como usá-las.

Segundo Celília, a oficina de plantas medicinais é uma iniciativa das artesãs e artesãos de São Gabriel da Cachoeira com o apoio do projeto Fundo da Casa Socioambiental, cujo objetivo é repassar conhecimento sobre o uso e manuseio dessas plantas para outras pessoas.

Nascida no distrito de Iauaretê, em São Gabriel da Cachoeira, cidade no Amazonas cercada de floresta e comunidades indígenas, Cecília carrega consigo essa sabedoria. “Tudo que eu sei, vou passar para o outro. O que eu sei, vou ensinar, como usar, como que faz”, disse.

Cecília disse ainda que cada artesã e artesão usa as plantas de forma diferente. Por exemplo, a folha de corama (pirarucu) serve curar diversas doenças. Contudo, tem gente que não sabia que a planta também pode ser utilizada para o tratamento do câncer.

“Temos muita experiência e decidimos colocá-la na prática. A maioria das artesãs e artesãos concordou em refazer as atividades para que todos saibam a serventia de todas as plantas medicinais. A ideia é produzir uma apostila sobre esses remédios para compartilhar o conhecimento”, esclareceu.

Questionada sobre as plantas mais utilizadas neste período de pandemia pelos indígenas, a professora enfatiza. “As plantas como mastruz e capim-santo servem para diversas doenças, gripes e para o Coronavírus. Na verdade, fomos testando várias outras plantas e deu certo para nós”.

Em relação aos protocolos de saúde determinados pelo Ministério da Saúde sobre o uso de medicamentos indicados pelos médicos contra a Covid-19, a artesão indígena ressaltou que os indígenas do Rio Negro criaram o próprio jeito para tratar a doença.

“Se na família pegar Coronavírus tem que isolar no quarto separado. Isso nós não fizemos. Só benzimento já fechou o corpo para proteger. A gente tomou chá, não ficamos isolados, fazendo quarentena. Em outras casas talvez fizeram, mas na minha família não”, relembra Cecília.

Propriedade das plantas

As plantas e ervas medicinais são grandes aliadas na melhora dos sintomas de algumas doenças, entre elas, a Covid-19. As plantas podem ser utilizadas em chás, banhos, entre outras coisas. As opções são inúmeras. 

A procura maior — de acordo com Cecília — é pelo Mastruz, planta rica em rutina (substância anti-inflamatória, expectorante e antiviral), vitamina A,B,C, zinco, fósforo, magnésio, cálcio, ferro e algumas vitaminas do complexo B.

Seguido pela Quina-quina (ou quinina ou quinquina), auxilia no tratamento da malária; melhora a digestão; ajuda a desintoxicar o fígado e o organismo; tem ação antisséptica e anti-inflamatória; combate a febre; reduz dores no corpo e auxilia no tratamento de angina e taquicardia.

Além, da Saracura-mirá (Ampelozizyphus amazonicus Ducke), muito popular na região Amazônica como energético, usado no tratamento de cansaço físico, sexual, insônia, nervosismo, falta de memória. Possui propriedades antissifilíticas e combate com sucesso a malária e os males peitorais.

Já a Carapanaúba (Aspidosperna nitidum Benth), é utilizada na medicina natural dos povos da floresta Amazônica no tratamento de bronquites, diabetes tipo II, gastrites, anticoncepcional, cicatrizante, fígado, malária, febre, rins, inflamação no útero, ovários e má digestão.

O Tamiflu ou Anis-estrelado (Illicium verum) é rico em carboidratos, proteínas, fibras e gorduras saudáveis e também possui boa quantidade de Vitamina A, Vitamina C, Ferro, Magnésio, Cobre e Cálcio. Eficaz no combate à gripe, resfriados e congestão nasal.

O composto com as cinco 5 ervas medicinais é um tratamento natural eficaz para tratar qualquer doença respiratória, conclui, Cecília Albuquerque.

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