Plataforma de Zuckerberg lucra com fraudes contra famílias vulneráveis no Brasil


Por: Fred Santana

09 de novembro de 2025
Plataforma de Zuckerberg lucra com fraudes contra famílias vulneráveis no Brasil
Enquanto vítimas acumulam bilhões em prejuízos, a Meta lucra com anúncios fraudulentos (ImageFX | Composição: Paulo Dutra/CENARIUM)

MANAUS (AM) – Um estudo inédito do Projeto Brief, divulgado nessa quinta-feira, 6, revela que a plataforma Meta – que inclui Facebook, Instagram e WhatsApp – se tornou o principal terreno fértil para golpes digitais no Brasil, especialmente contra famílias de baixa renda e beneficiários de programas sociais como o Bolsa Família e o Benefício de Prestação Continuada (BPC).

A investigação integra a série Quem Paga a Banda e mostra que, enquanto vítimas acumulam bilhões em prejuízos, a Meta, liderada pelo empresário Mark Zuckerberg, lucra com anúncios fraudulentos que se valem da vulnerabilidade financeira e digital da população.

A análise do Projeto Brief examinou 16 mil anúncios ativos na Biblioteca de Anúncios da Meta em setembro deste ano. Desses, 52% apresentaram indícios de fraude e 9% foram confirmados como golpes. A maioria estava relacionada a empréstimos e créditos consignados, direcionados a aposentados do INSS, trabalhadores CLT e beneficiários do Bolsa Família.

O levantamento aponta que a Meta obtém lucro a cada clique em anúncios fraudulentos, mesmo quando o destino é um golpe. “O crime opera às claras, sob a vista da própria empresa, que pouco faz para conter esse mercado ilegal – afinal, ele rende bilhões”, destaca o relatório. Em 2024, 97,6% da receita da empresa veio da publicidade, segundo documentos oficiais da própria Meta.

Os anúncios fraudulentos prometem “ajuda jurídica” ou a possibilidade de “reverter a decisão do INSS e
recuperar valores atrasados” (Divulgação)

Os anúncios apresentam estética profissional, com imagens geradas por inteligência artificial e logotipos de bancos reais, como C6 Bank e Nubank, simulando credibilidade. Muitos direcionam o usuário ao WhatsApp, onde o golpe se concretiza. Nos comentários, vítimas relatam acreditar tratar-se de oportunidades legítimas de crédito – uma demonstração do nível de confiança que esses conteúdos conquistam.

Golpes exploram pessoas vulneráveis

A investigação também revelou que o nome do Bolsa Família é amplamente explorado em campanhas fraudulentas, que prometem “cartões extras”, “benefícios complementares” e até “adiantamentos” inexistentes. Esses anúncios direcionam para páginas falsas e formulários que capturam dados pessoais, muitas vezes solicitando o pagamento de taxas.

Situação semelhante ocorre com os beneficiários do BPC, alvo de golpes que se apresentam como “consultorias jurídicas” ou “serviços de revisão de benefícios”, oferecendo “ajuda para recuperar valores atrasados”. Tais páginas, com aparência institucional e linguagem técnica, simulam escritórios de advocacia inexistentes.

Segundo o relatório, as campanhas exploram o desespero financeiro e a baixa literacia digital, atingindo especialmente pessoas idosas, com deficiência ou dependentes de programas sociais, grupos com maior dificuldade de verificar a veracidade das ofertas.

O discurso combina agilidade e urgência, em contraste com a lentidão e burocracia associadas aos bancos tradicionais (Divulgação)
Falhas estruturais e lucro garantido

O estudo conclui que os golpes não burlam o sistema da Meta – eles prosperam dentro dele. O modelo de moderação privilegia a velocidade de aprovação e o volume de anúncios em detrimento da checagem de autenticidade. “A checagem automática não é feita para identificar fraudes, mas para garantir que nada atrase a veiculação”, aponta o documento.

Além disso, as políticas internas da empresa transferem a responsabilidade para os usuários, funcionando como um escudo jurídico que protege a plataforma. Mesmo quando denúncias são feitas, os anúncios permanecem ativos por dias, tempo suficiente para capturar dados e causar prejuízos. Depois de removidos, os mesmos operadores retornam com novos perfis, mantendo o ciclo de fraudes.

A pesquisa alerta para a necessidade de regulamentação semelhante à europeia, com obrigações de diligência para as plataformas digitais. Sem isso, segundo o Projeto Brief, as Big Techs continuarão a lucrar com um ecossistema que expõe e explora os brasileiros mais vulneráveis.

Leia mais: Estudo aponta que redes da Meta facilitam aplicação de golpes financeiros
Editado por Jadson Lima

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