Pobreza expõe 887 milhões de pessoas a riscos climáticos, alerta ONU


Por: Fred Santana

22 de outubro de 2025
Pobreza expõe 887 milhões de pessoas a riscos climáticos, alerta ONU
Clima extremo exacerba os desafios diários enfrentados pelas pessoas mais pobres (UN Photo/UNICEF/Marco Dormino)

MANAUS (AM) – A combinação entre pobreza e eventos climáticos extremos está criando uma crise global silenciosa. O novo relatório do Índice Global de Pobreza Multidimensional 2025 (MPI), divulgado em antecipação à COP30, em novembro, em Belém (PA), aponta que 1,1 bilhão de pessoas vivem em pobreza multidimensional aguda, e 887 milhões – quase oito em cada dez – estão diretamente expostas a riscos climáticos como calor extremo, inundações, secas ou poluição do ar.

O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) e a Oxford Poverty and Human Development Initiative (OPHI), da Universidade de Oxford, apontam que a crise climática está remodelando a pobreza global ao reforçar desigualdades, dificultar o desenvolvimento e ampliar as privações mais básicas.

Crise climática está remodelando a pobreza global ao reforçar desigualdades (UN Photo/Sylvain Liechti)

Entre aqueles em situação de pobreza multidimensional – que abrange saúde, educação e padrões de vida – 651 milhões enfrentam dois ou mais riscos climáticos, enquanto 309 milhões lidam com três ou quatro ameaças simultaneamente. Segundo o relatório, o calor elevado afeta 608 milhões de pessoas pobres e a poluição do ar atinge 577 milhões.

Regiões propensas a inundações abrigam 465 milhões de pobres, enquanto 207 milhões vivem em áreas afetadas por secas. O documento alerta que a exposição ao clima extremo exacerba os desafios diários enfrentados pelas pessoas mais pobres, dificultando o acesso a serviços, renda, moradia e saúde.

Os dados mostram que a pobreza deixou de ser apenas uma questão socioeconômica e tornou-se inseparável da crise climática. Sub-Saara africana e sul da Ásia concentram 83,2% das pessoas em pobreza multidimensional. No sul da Ásia, a exposição é quase total: 99,1% dos pobres da região vivem sob ao menos um choque climático, e 59% enfrentam três ou quatro simultaneamente. Apesar de ter sido a região com maior progresso na redução da pobreza desde 2005, o Sul da Ásia agora é a mais exposta aos riscos ambientais, demonstrando que os avanços sociais estão ameaçados.

A desigualdade também é geográfica e socioeconômica. Cerca de 83,5% das pessoas em pobreza multidimensional vivem em áreas rurais, onde faltam infraestrutura, saneamento, moradia adequada e acesso a recursos para adaptação climática.

Em países de renda média – especialmente os de renda média baixa – vive a maior quantidade de pobres expostos a riscos. Dos 548 milhões de pobres nesses países, 471 milhões enfrentam dois ou mais perigos climáticos. Mesmo em países de renda média alta, 91,1% dos pobres estão expostos a pelo menos um risco climático, sobretudo poluição do ar e inundações.

Pobreza deixou de ser apenas uma questão socioeconômica e tornou-se inseparável da crise climática (UN Photo/BG)

Ao sobrepor os dados de pobreza e risco climático pela primeira vez, o relatório afirma que “a exposição ao clima extremo exacerba os desafios diários enfrentados pelas pessoas mais pobres, reforçando e aprofundando suas desvantagens”. O Pnud destaca que os impactos identificados não se limitam ao presente e tendem a se intensificar nas próximas décadas.

Projeções indicam que os países com níveis atuais mais altos de pobreza multidimensional devem experimentar os maiores aumentos de temperatura até o final do século, com até 92 dias a mais de calor extremo por ano entre 2080 e 2099 em cenários de altas emissões.

Diante desse cenário, cresce a expectativa em torno da COP30. O administrador interino do Pnud, Haoliang Xu, afirmou que quando os líderes mundiais se reunirem no Brasil, “as promessas climáticas nacionais devem revitalizar o progresso estagnado do desenvolvimento que ameaça deixar as pessoas mais pobres do mundo para trás”. O alerta reforça a urgência de integrar políticas de combate à pobreza e adaptação climática, especialmente em países com menor capacidade financeira e maior exposição a eventos extremos.

O relatório conclui que enfrentar a pobreza no século XXI exige ir além de medidas tradicionais. Mais de 600 milhões de pobres em regiões expostas a riscos climáticos estão privados de combustível limpo, moradia adequada e saneamento, fatores que ampliam a vulnerabilidade aos impactos ambientais.

A persistência dessa dupla carga – pobreza e clima – ameaça comprometer metas globais de desenvolvimento e direitos básicos de milhões de pessoas. Com a COP30 prestes a ocorrer no Brasil, o mundo é pressionado a transformar alertas em ações concretas para impedir que as populações mais pobres sejam deixadas para trás em um planeta cada vez mais quente e desigual.

Leia mais: População afetada por enchentes no Brasil pode triplicar, diz painel da ONU
Editado por Jadson Lima

O que você achou deste conteúdo?

VOLTAR PARA O TOPO
Visão Geral de Privacidade

Este site usa cookies para que possamos oferecer a melhor experiência de usuário possível. As informações dos cookies são armazenadas em seu navegador e executam funções como reconhecê-lo quando você retorna ao nosso site e ajudar nossa equipe a entender quais seções do site você considera mais interessantes e úteis.