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Poeta Dori Carvalho relembra tempos da ditadura militar e critica governo Bolsonaro
Poeta Dori Carvalho durante manifestações "Ocupa MInc" em 2016 (Arquivo Pessoal)
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31 de março de 2021
Alessandra Leite – Da Revista Cenarium
MANAUS – Autor de um dos poemas mais contundentes contra o autoritarismo, escrito durante os anos de chumbo da ditadura militar, intitulado “As tetas do povo”, o poeta e “militante da democracia”, Dori Carvalho, relembra os 21 anos de obscuridade e falta de liberdade e faz uma crítica ferrenha ao atual governo.
“Este governo e os dois anos que o antecederam (Michel Temer) tem sido um retrocesso em termos de conquistas sociais, educacionais, científicas, culturais. “Tudo tem sido desprezado por essa gente ignorante, estúpida e mau-caráter. Essa coisa que eles chamam de revisionismo histórico é na verdade uma deturpação e uma negação da história”, declarou.
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Carvalho relata que tinha nove anos de idade quando se instalou o regime militar, vigente por 21 anos. Segundo o poeta, foram duas décadas de perseguição política, em que jornalistas, professores e outros profissionais que se impuseram contra o regime foram torturados e mortos.
Citou o caso do jornalista Vladimir Herzog como uma das vítimas da “brutalidade e da truculência” disfarçadas de “pacificação nacional”. Herzog era um jornalista que trabalhava na TV Cultura, o teatrólogo Augusto Boal fazia teatro. Ambos não estavam ligados a nenhuma organização armada”, pontuou.
Dori Carvalho traz à tona, ainda, a história de muitas pessoas que foram mortas e torturadas sob falsa alegação de terem reagido à prisão. “Na verdade, muitas delas já tinham sido assassinadas na tortura e eles criavam essas falsas notícias depois. Meu irmão foi preso, torturado e condenado. Era estudante na região de Ribeirão Preto (São Paulo) e ficou na prisão por quase três anos. Meu irmão ficou incomunicável nos primeiros momentos da prisão”, contou.
“Depois ele ainda ficou em liberdade condicional. Meu pai com os confrades dele conseguiram que a gente visitasse o meu irmão na época em que ele estava incomunicável. Numa ocasião dessas, eu vi pessoas ensanguentadas sendo arrastadas como sacos de batatas. Quando esse ser execrável – diz, referindo-se ao presidente Jair Bolsonaro – foi votar no impeachment para tirar a ex-presidente Dilma Rousseff e homenageou o torturador Carlos Brilhante Ustra ‘o pavor de Dilma Rousseff’ ele deveria ter ouvido uma voz de prisão naquele momento, por fazer apologia à tortura”, lamentou.
Dentre outras reminiscências daqueles anos “também obscuros”, o poeta cita a eliminação social e jurídica de estudantes, professores, que passaram a não existir, pois não tinham direito à carteira de identidade, conta bancária, “unicamente por serem contrárias ao regime”.
“O motivo eram as reformas. Por exemplo, o Jango (presidente João Goulart) foi derrubado não por seus defeitos, mas pelas qualidades. Não por malfeitos, mas pelos bons atos. Estava tentando uma distribuição de renda, uma reforma agrária nos moldes tradicionais, sem tomar terra de ninguém. Eu era menino nisso tudo”, rememora.
Saída de militares
De acordo com o poeta Dori Carvalho, é amedrontador ver essas saídas dos comandantes das Forças Armadas, por conta das “brigas internas entre eles”.
“Esse homem que eles colocaram como ministro da Defesa (general Fernando Azevedo e Silva) tem três estrelas, o outro tem quatro estrelas. É um desrespeito à hierarquia entre eles. É uma briga interna um três estrelas comandar um de quatro estrelas”, comenta.
Para Carvalho, quando se fala em “democracia consolidada”, é algo para se temer. “Vejo essa gentalha pedindo intervenção militar, desrespeitando as instituições, ameaçando fechar o Supremo Tribunal Federal. São répteis, filhotes da ditadura militar, adoradores desse regime. Foi uma infelicidade eles serem eleitos democraticamente, embora seus espíritos sejam truculentos, déspotas e autoritários”, enfatiza.
A “ordem social”, finaliza o poeta, “é só quando os próprios privilégios são mantidos”. “Esse inumano que está no poder, todas as vezes que vai a um evento militar, faz questão de repetir que tirou socialismo do poder. Porém, todos aos quais ele se refere são sociais democratas. Lula é um progressista e um cristão empedernido. Eu tenho muito medo porque eles são truculentos, milicianos, é um governo de desrespeito à ciência, à cultura, aos grandes pensadores da educação, aos filósofos brasileiros”, diz.
Para ele, a ordem é “ficar de luto e lutar sempre, cada um com suas armas, da poesia, da liberdade e das palavras, para que isso nunca mais se repita e para que se possa enfrentar esse tempo tão obscuro e estúpido”.
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