Polícia Civil e Ministério Público de Roraima investigam mortes de mãe e bebê


Por: Jadson Lima

27 de setembro de 2024
Polícia Civil e Ministério Público de Roraima investigam mortes de mãe e bebê
Carmen Elisa morreu no sábado, 21 (Arquivo pessoal)

MANAUS (AM) – A Polícia Civil de Roraima (PCRR) e o Ministério Público de Roraima (MPRR) anunciaram abertura de inquérito policial e procedimento investigatório, respectivamente, para apurar as circunstâncias das mortes de Carmen Elisa Silva, de 26 anos, e da filha recém-nascida Maria Eloá Silva. A mãe e o bebê morreram em unidades de saúde do Estado de Roraima, entre os dias 14 e 21 de setembro deste ano, após complicações no parto. 

À CENARIUM, o marido de Carmen Elisa, Rodrigo Silva, narrou as últimas horas da grávida após a entrada no Hospital Materno Infantil Nossa Senhora de Nazareth, em Boa Vista, na noite de sexta-feira, 13 de setembro. Ele também denunciou falta de oxigênio na unidade hospitalar e descreveu as ações médicas que podem ter resultado na morte da esposa e da filha.

Carmen Elisa e o marido Rodrigo Silva (Arquivo pessoal)

O bebê teve o óbito constatado pelas equipes após o nascimento, na madrugada de sábado, 14, e a mãe foi transferida imediatamente para o Hospital Geral de Roraima (HGR) após o parto. Ela morreu após ficar sete dias internada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) da unidade hospitalar. 

Familiares de Carmen acusam a direção da maternidade de negligência e a Secretaria de Saúde (Sesau) de mentir sobre o que ocorreu nas primeiras horas de Carmen no hospital materno. As duas unidades hospitalares envolvidas no caso são geridas pelo governo estadual, sob a administração do governador Antonio Denarium (Progressistas).

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De acordo com Rodrigo, Carmen Elisa deu entrada na maternidade por volta de 19h30 da sexta-feira, 13 de setembro, e foi classificada como caso de emergência por “estar com falta de ar”. Ele também menciona a falta de oxigênio dentro da unidade e diz que “implorou” para conseguir um leito para a esposa, que, segundo ele, foi colocada em uma cadeira de rodas na ala de observação da maternidade após sofrer paradas cardiorrespiratórias.

“Ela chegou bem e conversando comigo. [Na unidade de saúde] deram o medicamento para ela e a colocaram em uma cadeira de rodas na sala de observação, sendo que ela estava classificada como caso de emergência, porque estava sofrendo paradas cardiorrespiratórias. Eles não auxiliaram no oxigênio porque [o produto] estava em falta na maternidade“, afirma.

Carmen Elisa morreu no Hospital Geral de Roraima (HGR), na capital Boa Vista (Arquivo pessoal)

O marido de Carmen Elisa destaca que cerca de duas horas depois um leito foi disponibilizado pela maternidade. Segundo o acompanhante, a esposa já apresentava quadro clínico agravado e uma enfermeira não identificada realizou procedimento para introduzir um equipamento na garganta da paciente “para ela respirar melhor”.

“Depois de quase duas horas conseguiram um leito para ela. A Carmen foi encaminhada para esse leito, já muito ruim. Chegou nesse leito, colocaram um tubo na garganta dela para que ela pudesse respirar melhor”, frisou.

Rodrigo Silva diz ainda que depois de um tempo uma equipe médica foi ao leito para medir os batimentos cardíacos da criança, que ainda não tinha nascido. O marido de Carmen fala que o médico afirmou que estava “tudo bem com a bebê” e uma enfermeira optou por retirar o aparelho da grávida. Após a retirada do equipamento, Rodrigo percebeu que o quadro clínico da esposa piorou muito.

“Uma enfermeira optou por tirar o tubo da garganta dela. Após a retirada, eu vi que a situação dela piorou muito, muito mesmo. Ela começou a ficar roxa, muito roxa mesmo. Solicitei pelo médico [novamente]”, descreve.

A gestante Carmen Elisa na espera do segunda filha (Arquivo pessoal)
Falta de oxigênio

Uma equipe médica se deslocou até a ala em que Carmen estava. O homem de 31 anos relembra que neste momento o médico solicitou ela recebesse oxigênio. Um enfermeiro realizou o procedimento preparatório para introduzir o equipamento no nariz da paciente, mas constatou que o gás não saia pela válvula que fica localizada na parede da unidade.

“O enfermeiro colocou [o equipamento canalizado] e viu que não estava saindo oxigênio. Então o médico solicitou pelo cilindro móvel, a equipe de enfermeiros foi atrás e depois de um tempo voltaram afirmando ‘que não tinha oxigênio na ala'”, relembra.

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Agravamento do quadro

A demora, diz Rodrigo, agravou o quadro de saúde da esposa, que já apresentava sinais de convulsão. A equipe médica teria optado pela realização de uma cirurgia de emergência para retirar o bebê. Ele afirma que a preparação para a cesariana ocorreu de forma rápida e que Carmen teria sofrido duas paradas cardiorrespiratórias dentro do centro cirúrgico.

“Eles foram correndo para chegar logo. Chegando lá eles pediram para que eu trocasse as minhas ‘vestes’ para acompanhar o nascimento da minha filha. Eu entrei na sala [de cirurgia] por volta de 1h30 da madrugada de sábado, 14. Quando eu entrei eles estavam reanimando ela. Me disseram que ela tinha dado duas paradas cardiorrespiratórias”, afirma.

Carmen Elisa estava grávida de nove meses (Arquivo pessoal)

O acompanhante afirma que neste momento foi retirado do centro cirúrgico e ficou sem informações sobre o quadro de saúde da esposa e da filha por cerca de duas horas, quando uma equipe lhe informou que a criança morreu e a esposa precisava ser transferida para o HGR. O motivo da transferência era porque a maternidade não tinha UTI.

“Vieram me dar a informação que ela teve duas paradas cardiorrespiratórias e que a bebê veio a óbito. Daí, me afirmaram que lá [na maternidade] não tinha UTI [para a Carmen]. Então ela iria ser encaminhada para o Hospital Geral de Roraima”, detalha.

Demora em transferência

Segundo o acompanhante, houve demora na transferência e não lhe deixaram acompanhar a esposa na ambulância. Rodrigo relembra que Carmen deu entrada na unidade de saúde entre 4h e 5h da madrugada de sábado, 14, e que não permitiram a entrada dele na unidade. O boletim médico que atualizou o quadro de Carmen, diz o marido, afirmava que ele foi vítima de eclâmpsia e possível morte encefálica por causa das paradas cardiorrespiratórias sofridas na maternidade horas antes.

“Não me deixaram mais ver ela. Não me deram uma reposta. Então eu fui em casa descansar. Cheguei em casa, troquei de roupa e voltei para o HGR. Chegando lá, fui atualizado com um boletim médico que ela teve um eclâmpsia e uma possível morte encefálica”, afirma.

Carmen Elisa permaneceu internada em tratamento na UTI do Hospital Geral de Roraima durante sete dias e teve a morte confirmada no último sábado, 21. Ela deixou um filho de sete anos.

Rodrigo Silva e Carmen Elisa (Arquivo pessoal)
Sesau rebate acusações 

A Secretaria de Saúde de Roraima (Sesau) rebateu as acusações sobre falta de oxigênio na unidade hospitalar. Em nota, a pasta informou que a paciente deu entrada na maternidade “em estado gravíssimo”, com sinais e sintomas clínicos e laboratoriais de pré-eclâmpsia e síndrome HELLP, uma complicação grave da gravidez que pode causar lesões em órgãos e levar à morte da mãe e do bebê.

Diante da situação crítica, a paciente recebeu a medicação padrão-ouro preconizada pelo Ministério da Saúde e após estabilização do quadro inicial, foi realizada uma cirurgia cesárea de emergência, na tentativa de salvar o bebê, que não apresentou sinais vitais ao nascer e não reagiu às tentativas de reanimação, sendo considerado natimorto – termo utilizado para designar o falecimento intrauterino ou no momento do parto”, diz trecho do posicionamento. 

A Sesau também informou que ao ser encaminhada para a UTI do HGR, a paciente não apresentou nenhuma resposta positiva às ações da equipe médica. A pasta contesta a versão dos familiares de Carmen Elisa e afirmou que a grávida de oito meses não realizou todos os procedimentos do pré-natal. 

É necessário informar que a paciente não havia feito pré-natal adequado, não realizou exames preconizados pelo Ministério da Saúde e não seguiu o protocolo para mulheres com histórico de pré-eclâmpsia anterior“, declarou.

Sobre a falta de oxigênio no Hospital Materno Nossa Senhora de Nazareth, a Sesau reafirmou que “é totalmente inverídica a suposição de que teria havido falta de oxigênio, insumos ou qualquer outro procedimento necessário no atendimento à mãe e ao bebê.” 

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