Polícia da Bolívia investiga novos suspeitos na morte de estudante brasileira


Por: Ana Pastana

05 de abril de 2025
Polícia da Bolívia investiga novos suspeitos na morte de estudante brasileira
Jenife Silva era mãe, brasileira e cursava Medicina na Bolívia (Composição: Lucas Oliveira/Cenarium)

MANAUS (AM) – A Polícia da Bolívia investiga novos suspeitos de envolvimento na morte da estudante de Medicina, natural de Santana (AP), Jenife do Socorro Almeida da Silva, de 36 anos, de acordo com apuração da CENARIUM, neste sábado, 5. O caso foi registrado na cidade boliviana de Santa Cruz, após o corpo da vítima ser encontrado na quarta-feira, 2, no apartamento em que ela morava no país vizinho.

As autoridades investigam suspeita de feminicídio. A apuração inicial do Ministério Público da Bolívia apontou que a estudante morreu por asfixia mecânica, de acordo com exame de autópsia forense. Um laudo também indicou que a vítima foi estuprada e esfaqueada.

De acordo com o promotor que conduz a apuração, Daniel Ortuño, Jenife da Silva foi morta por uma segunda pessoa. “Foi realizada uma autópsia forense, e a causa da morte foi determinada como asfixia mecânica por sufocamento. Isso significa que uma segunda pessoa causou a morte da vítima“, declarou.

A brasileira estava no país vizinho para concluir o curso de Medicina. Segundo uma amiga, Jenife morou na cidade boliviana onde fez o curso durante seis anos. Após concluir as aulas, voltou a residir no Amapá com os dois filhos. Ela precisou retornar ao país para pegar o diploma e resolver formalidades da formatura.

Jenife Silva estava se formando em Medicina (Reprodução/Instagram @jenife_revival)

Amigos da universitária relataram que na terça-feira, 1°, Jenife assistiu a uma aula na Universidade de Aquino Bolívia (Udabol). Depois, foi ao encontro de um jovem que conheceu na Praça 24 de Setembro, considerado o principal símbolo da cidade de Santa Cruz de La Sierra.

Nesse dia [na segunda-feira], a Jenife falou bem assim: ‘Hoje eu não vou, porque vou no cinema com um garoto que eu estou conhecendo’. Ela não falou quem era esse menino“, disse um amigo à reportagem. Foi a última vez que ela foi vista antes de ser encontrada morta.

Desaparecimento

Ainda de acordo com os amigos, o último “sinal de vida” de Jenife Silva foi na terça-feira à noite, quando ficou on-line no aplicativo WhatsApp. No outro dia, um dos filhos dela também buscava por notícias da mãe. Preocupada, uma amiga, identificada como Andressa, foi ao apartamento da estudante, no bairro Vale Azul, onde recebeu a notícia de que o corpo havia sido encontrado e levado pelas autoridades.

Isso já eram 8h da noite no horário de Santa Cruz. Então, ela [Andressa] recebe a notícia por meio da dona do edifício onde ela mora, de que o corpo já havia sido levado pela polícia e estava sob investigação. Chegando, eles [os amigos Andressa e Iago] tiveram que prestar depoimento, informaram sobre esse encontro e desbloquearam o celular dela. As investigações só aconteceram porque o celular foi desbloqueado“, complementou um terceiro amigo, que preferiu não se identificar.

Corpo foi encontrado na terça-feira, 1° (Reprodução)

O caso ganhou repercussão tanto no Brasil quanto na Bolívia após um suspeito ser detido: J.D.R.F, de 16 anos. As investigações apontam que Jenife Silva foi ao encontro do adolescente na noite em que foi vista pela última vez pelos amigos. A polícia confirmou que, devido à violência empregada no crime, a morte foi causada por outra pessoa.

O site boliviano El Dever publicou matéria indicando que o caso é investigado como feminicídio. “O promotor departamental de Santa Cruz, Alberto Zeballos Flores, informou que a autópsia médico-legal estabeleceu que a vítima faleceu por asfixia mecânica por asfixia, com diagnóstico de anóxia anóxica e oclusão de orifícios respiratórios”, destacou.

‘Trata-se de um feminicídio. A investigação nos levou a um adolescente que teria responsabilidade criminal e que, segundo seu depoimento, mantinha relação próxima com a vítima’, detalhou a autoridade“, de acordo com a publicação do site.

Trecho de matéria publicada no site El Deber (Reprodução)

Os amigos de Jenife relatam que a preocupação é pela possível impunidade do autor do crime, que seria de família rica e influente no País. A família é proprietária de uma praça de food trucks em Santa Cruz, além de outros estabelecimentos comerciais, como uma loja de joias.

Ela sofreu feminicídio em Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia, e o assassino supostamente é menor de idade, mas a polícia boliviana é bastante corrupta, e como a família tem posses, tudo nesse caso soa estranho e sem informações. Por favor, precisamos do apoio da mídia brasileira para ter esclarecimentos, sem exposição não irão agir contra uma família rica“, disse uma amiga.

Justiça

Natural do Amapá, na Região Norte do Brasil, Jenife Silva deixou um casal de filhos. A mãe da universitária estava em São Paulo, aguardando por um transplante de coração. Para levar o corpo de volta à família, os amigos solicitaram ajuda e foram atendidos pelo governo do estado onde a universitária nasceu. O pedido, agora, é por justiça.

A família luta para trazê-la de volta. O Governo do Amapá já se posicionou para ajudar com o traslado do corpo, e agradecemos. Mas isso não basta. Precisamos de investigação profunda, de apoio diplomático, de visibilidade e de justiça“, afirmam.

Jenife Silva e os filhos (Reprodução/Instagram @jenife_revival)

O apelo é direcionado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ao Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty), ao Consulado e Embaixada do Brasil na Bolívia e à imprensa brasileira. “Quantas brasileiras mais precisarão morrer longe de casa para que o Estado reaja? Quantos crimes ainda serão engolidos pelo silêncio e pelo poder do dinheiro? Jenife precisa de justiça. Seus filhos precisam de justiça. Sua memória exige justiça“, complementam os amigos da vítima.

A Procuradoria da Mulher de Santana, no Amapá, afirmou, por meio das redes sociais, que acompanha o caso. “Nos solidarizamos com a família e amigos da jovem amapaense e estamos atentos aos desdobramentos do caso, buscando garantir que toda situação que envolva a segurança das mulheres seja tratada com a devida seriedade“, declarou.

Família e Medicina

Nas redes sociais, Jenife compartilhava a rotina, momentos com a família e frases motivacionais para 16 mil seguidores. Na última publicação, há cinco dias, compartilhou uma foto com a seguinte frase: “Um defeito da ‘Larissa’, seria esse: Essa capacidade assustadora de cortar situações, quando elas não estão, exatamente, de acordo com o que ela considera certo”.

A vítima também compartilhava momentos com a família e com os filhos. Em uma das publicações, Jenife agradecia pelo momento junto aos filhos. “Obrigada, Papai do Céu, por me proporcionar esta oportunidade de estar novamente ao lado deles!“, escreveu.

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Editado por Jadson Lima

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