Polícia do RJ responde por 25 mil mortes violentas intencionais no Estado em três décadas
Por: Cenarium*
13 de novembro de 2025
SÃO PAULO – O número de mortos pela polícia do Rio de Janeiro, em 28 anos, representa 15% de todas as mortes violentas intencionais do estado no período. São 25.283 de um total de 170.338 pessoas. O levantamento feito pela Folha, com dados do Instituto de Segurança Pública (ISP), considera a série histórica de janeiro de 1998 a setembro de 2025.
Os dados deste ano ainda não incluem os 117 mortos da megaoperação de 28 de outubro, a mais letal da história —contando os quatro policiais, foram 121 mortos.
O Rio de Janeiro hoje ocupa a terceira posição em mortes absolutas por policiais e a sétima em mortes por 100 mil habitantes. Houve uma queda na letalidade policial nos últimos anos, mas especialistas ressaltam que, pela taxa proporcional, é de se esperar que o Rio fique atrás de estados muito menores, como Amapá, Sergipe e Mato Grosso, em que uma variação pequena pode ter um peso maior.
Os últimos dez anos foram os mais mortíferos do Rio, com 11.550 óbitos causados pelos agentes entre 2015 e 2024, ou 1.155 por ano.
Em ordem de grandeza, o número supera todas as mortes causadas pela polícia dos Estados Unidos no mesmo período, que foi de 10.424, de acordo com levantamento do jornal Washington Post a partir de fontes oficiais e de investigação própria. A população do país é 20 vezes superior à do território fluminense.
“Os Estados Unidos são um país muito grande. Então mesmo em comparação com esse país, que já teve muitos escândalos de violência policial, o nosso [número] está maior. A gente no Brasil aprendeu a naturalizar esse número, mas sempre que eu falo isso para um estrangeiro que trabalha com segurança, todo mundo fica chocado“, diz a economista Joana Monteiro, professora da FGV e pesquisadora de segurança pública.
No mesmo período de dez anos, 615 policiais morreram no Rio de Janeiro em situações de conflito dentro e fora de serviço, segundo balanço do Ministério da Justiça –trata-se do maior número do país, embora o Rio tenha a terceira população entre os estados. São Paulo tem mais que o dobro da população fluminense e registrou 463 mortes de agentes no mesmo período.

O recorde de 1.814 mortes pela polícia do Rio em 2019 levou a corporação à marca de mais violenta do país em números absolutos, segundo o levantamento anual realizado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). Com 10 mortos a cada 100 mil habitantes, o estado ficou atrás apenas do Amapá, onde as 121 mortes representaram taxa de 14 por 100 mil. Em comparação, a taxa geral do Brasil foi de 3 mortes para cada 100 mil habitantes, e a de São Paulo, de 2 para cada 100 mil.
A escalada dos conflitos à época motivou, no mesmo ano, a instauração no Supremo Tribunal Federal (STF) da ADPF das Favelas –Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental. Desde 2020, o Supremo aplicou mudanças na estrutura das forças de segurança e em normas e procedimentos para uso da força policial em comunidades do Rio.
Nos anos seguintes, caiu o número total de mortes pela polícia no estado, tendência que é justificada, em parte, pela ADPF, segundo entidades como o Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos (Geni) da Universidade Federal Fluminense (UFF) e o FBSP.