Com informações do InfoGlobo
BRASÍLIA — A Polícia Federal (PF) solicitou o compartilhamento de provas do inquérito das milícias digitais para aprofundar uma investigação contra Jair Renan Bolsonaro, o filho mais novo do presidente (conhecido como 04), sobre o recebimento de “vantagens de empresários” com interesses na administração pública. A Polícia Federal abriu o inquérito, após reportagem do GLOBO revelar que o filho do presidente atuava para marcar reuniões e abrir portas no governo federal para empresas privadas
O inquérito contra Jair Renan tramita na Superintendência da PF no Distrito Federal. Para dar prosseguimento ao caso, a PF solicitou o compartilhamento de informações obtidas no inquérito das milícias digitais, que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF), sobre o empresário Allan Gustavo Lucena, que é próximo de Jair Renan e já foi seu personal trainer.
De acordo com a PF, as diligências do inquérito indicam a “associação estável” entre Jair Renan e Allan Lucena “no recebimento de vantagens de empresários com interesses, vínculos e contratos com a Administração Pública Federal e Distrital sem aparente contraprestação justificável dos atos de graciosidade. O núcleo empresarial apresenta cerne em conglomerado minerário/agropecuário, empresa de publicidade e outros empresários”.
Em resposta, foi encontrado um diálogo entre Allan Lucena e o blogueiro bolsonarista Oswaldo Eustáquio, que foi enviado para o inquérito. A PF não apresentou mais detalhes sobre a apuração contra Jair Renan.
Entenda o caso
As suspeitas sobre Jair Renan Bolsonaro envolvem a utilização da empresa de eventos dele, a Bolsonaro Jr Eventos e Mídia, para promover articulações entre a Gramazini Granitos e Mármores Thomazini, grupo empresarial que atua nos setores de mineração e construção, e o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho.
O grupo empresarial que atua nos setores de mineração e construção e tem interesses junto ao governo federal presenteou Jair Renan e o empresário Allan Lucena, um dos parceiros comerciais do filho do presidente, com um carro elétrico avaliado em R$ 90 mil. Um mês após a doação, em outubro do ano passado, representantes da Gramazini Granitos e Mármores Thomazini, uma das empresas do conglomerado, se reuniu com Marinho. Segundo o ministério, o encontro, que também teve a participação de Jair Renan, foi marcado a pedido de um assessor especial da Presidência.
Apurações feitas pelo GLOBO apontam ainda que o grupo tem isenção de 75% no pagamento do Imposto de Renda de Pessoa Jurídica (IRPJ), desde setembro de 2019, com validade até 2028. Isso significa que de 100% do imposto devido, apenas 25% será pago.
Em outubro de 2020, John Lucas Thomazini, um dos sócios do grupo foi a Brasília participar da inauguração da sede da empresa de eventos de Jair Renan — o espaço, que funciona em um camarote no Estádio Mané Garrincha, em Brasília, também conta com placas de granito doadas pela Gramazini.
Foi nesta ocasião que o filho de Bolsonaro recebeu o carro, importado por outra firma do empresário capixaba, a Neon E. Motors. Há vídeos nas redes sociais que mostram a doação do veículo para Jair Renan e Allan Lucena, subsecretário de Programas e Incentivos Econômicos do Distrito Federal — além do cargo no governo, Lucena está à frente de um instituto que divide o espaço do camarote com a firma de Jair Renan.